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O casal Hermano e Roberta Almeida, do Rio Grande do Norte, com o trator novo comprado na Agrishow. (Foto: Cassiano Ribeiro / Ed.Globo)

 

“Só não vendi mais porque tá faltando máquina”. Essa talvez tenha sido uma das frases mais comuns entre os milhares de vendedores que trabalharam na 27º edição da Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, que se encerrou nesta sexta-feira (29/4), em Ribeirão Preto (SP). Superando as projeções mais otimistas, o evento fechou com um resultado de R$ 11,2 bilhões, quatro vezes acima do registrado em 2019, quando foi realizada presencialmente pela última vez. Por causa da pandemia, a feira ficou paralisada por dois anos.

Nem a falta de crédito rural a juros subsidiados, nem as taxas exorbitantes de financiamentos e a indisponibilidade de produtos a pronta entrega impediram que a exposição se consolidasse como a maior de todas e alcançasse novo recorde em negócios.

Entre os produtores rurais a reclamação principal foi direcionada aos juros e preços dos produtos.“Tudo dobrou de preços, principalmente maquinários e insumos. A gente comprou porque realmente tem a necessidade do equipamento. Mas [a taxa] não está atrativa, não. Isso é um grande gargalo deste ano. O financiamento ficou na casa dos 14%. Em outros anos, consegui entre 5% e 6% em 2018”, diz Hermano Almeida, que investiu R$ 700 mil e voltou para o Rio Grande do Norte com dois tratores novos comprados na feira.

Dono de lavoura de cana-de-açúcar, feijão, milho e sorgo, ele e a esposa, Roberta, decidiram fechar negócio por receio de que os preços e taxas de juros subissem ainda mais após a Agrishow. Também porque o velho trator usado no campo não está dando conta do trabalho e dos desafios de se produzir. “A janela de chuva do Rio Grande do Norte é muito curta em relação ao restante do Brasil. Só tem dois ou três meses pra trabalhar plantando tudo. Se passar a janela de chuva, perde o ano agrícola inteira. Preciso do maquinário avançado pra não quebrar no campo e dar dor de cabeça pra gente”, afirma.

Julio Otaviano, Disney Mark e Adriano Miranda: R$ 5 milhões em três dias na compra de maquinários. (Foto: Divulgação/Jacto)

 

Adriano Miranda, Julio Otaviano e Disney Mark, também vieram de longe para garantir novas tecnologias para a fazenda em que trabalham, em Balsas (MA). Com um “cheque em branco” do patrão nas mãos, eles gastaram R$ 5 milhões nos três primeiros dias de Agrishow. O chefe do trio autorizava cada compra por aplicativo de mensagem. Foi assim que fecharam contrato e garantiram um pulverizador, uma colhedora, acopladores de tratores e um software para ajudar na gestão da fazenda de 2 mil hectares, onde fazem cultivos integrados, a chamada ILPF (Integração Lavoura, Pecuária, Floresta).

“A tecnologia está muito avançada. A gente acha que vai avançar uma vez e avança duas vezes. Ficamos surpresos. Cada inovação deixa a gente assustado e de boca aberta”, diz Adriano. “O que chama a atenção é o ganho de produtividade. Quando a gente acha que não tem como produzir mais por hectare, aparece uma tecnologia que maximiza o resultado. Tudo hoje é tecnologia”, acrescenta Otaviano.

Mas, para ter acesso a esse mundo novo de inovações, é preciso desembolsar uma quantia considerável. Os produtores entrevistados disseram ter observado aumento de 100% nos preços médios dos produtos. “Pagamos R$ 1,5 milhão no pulverizador. Aumentou muito. Um mês atrás estava a R$ 1,2 milhão. Sempre tem condição especial. Nessa Agrishow não tem taxa especial. Não tem produto a pronta entrega. A taxa de juros está um absurdo. Antes, era 6% e  7%. Isso um ano atrás. Hoje chega até 19% fora da feira. A gente garante o pedido nesse preço para brigar depois por uma taxa melhor com os bancos”, explica Adriano.

O mineiro de São Gotardo, Netto Barbosa, também investiu alto em sua passagem pela Agrishow junto do irmão e do pai. Em uma tarde, a família desembolsou R$ 6 milhões na compra de três tratores e uma colhedora de grãos. “Estou assustado com os preços. Se fosse no ano passado, compraria um terço a mais de equipamentos com esse mesmo valor.

Source: Rural

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