O Brasil exportou 3,622 milhões de sacas de 60 quilos de café em março, uma redução esperada de 6% na comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo relatório divulgado nesta segunda (11/4) pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em receita, houve um crescimento de 69,3%, com o valor alcançando U$ 865,1 milhões. A queda dos embarques para a Rússia, que era o sexto maior comprador do café nacional até a deflagração da guerra contra a Ucrânia, foi um dos motivos da redução das exportações.
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Café colhido em SP (Foto: REUTERS/Nacho Doce)
Em março, a Rússia foi o destino de 33.855 sacas para uma receita de US$ 7,8 milhões. No mesmo mês de 2021, o Brasil tinha exportado para os russos 128.873 sacas, com receita de US$ 16,15 milhões. A queda em volume foi de 64% no tipo arábica, 83% no conilon e 82% nos cafés solúveis. Na comparação com o mês anterior, fevereiro, quando foram embarcadas 121.297 sacas, a redução foi de 72%.
No primeiro bimestre deste ano, os russos levaram do Brasil 233,6 mil das 3,4 milhões de sacas embarcadas, 14% a mais do que no mesmo período de 2021. No mundo, eles são o quarto maior importador de café, com um volume de 7 milhões a 7,5 milhões de sacas por ano, atrás da Europa, Estados Unidos e Japão.
Evolução mensal das exportações brasileiras (Foto: Reprodução/Cecafé)
Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, diz que o volume exportado para a Rússia foi até uma surpresa, já que o país enfrenta sanções comerciais da Europa e Estados Unidos e havia toda a questão logística para o café brasileiro chegar ao país do leste europeu. “Observamos que algumas cargas já estavam em curso quando a guerra começou. Os exportadores fizeram rearranjos e o café acabou chegando em algum porto da região e seguiu para a Rússia por rodovias.”
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A alternativa terrestre havia sido citada no mês passado por Márcio Cândido Ferreira, diretor-superintendente da empresa de exportação de café Tristão Comércio Exterior e da indústria de torrefação Real Café, ambas no Espírito Santo. Segundo ele, a dúvida era como receber pelas cargas, já que a Rússia foi retirada do sistema Swift, de pagamentos internacionais.
Questionado se houve problemas para os exportadores brasileiros receberem pelas cargas, Heron disse que não foi relatado nenhum caso de não pagamento. “Soube que alguns torrefadores pagaram as cargas para a Rússia usando unidades que mantêm em outros países.”
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Segundo o diretor, houve casos também de navegadores marítimos, como a MSC, que alteraram regras de exportação, passando para o vendedor alguns deveres que eram dos importadores, mas pouquíssimos exportadores brasileiros aceitaram a mudança. A tendência para abril, diz, é de mais queda no volume embarcado para a Rússia.
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Conilon
O diretor técnico do Cecafé destaca que, em geral, a maior queda nas exportações em março foi de café do tipo conilon, com redução de 64,6% nas remessas. No trimestre, os volumes embarcados desse café caíram 60%. O motivo foi o maior “apetite” da indústria de torrefação interna pelo conilon. “O arábica está em um patamar de preços mais elevado, o que leva a indústria a usar mais conilon em seus blends.”
Segundo o relatório, o acumulado do primeiro trimestre deste ano também aponta queda. No total, foram embarcadas 10,594 milhões de sacas, uma redução de 7,8% ante o desempenho nos três primeiros meses do ano passado. Já os preços melhoraram: a receita soma US$ 2,424 bilhões, crescimento de 60,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano anterior, o maior valor dos últimos cinco anos.
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Já as exportações do arábica registraram uma leve alta de quase 1%, chegando a 3,142 milhões de sacas, mesmo na entressafra.
Além da guerra, o diretor cita dois outros fatores para explicar a queda das exportações em março: o fato de a cultura estar na entressafra, vindo de um ciclo de produção menor, e a questão da logística internacional, que melhorou, mas ainda tem gargalos e está bem aquém da normalidade.
Os Estados Unidos seguem como principal importador do café brasileiro, com 2,103 milhões de sacas no primeiro trimestre, volume 3,3% inferior frente às 2,176 milhões de sacas adquiridas no mesmo intervalo em 2021. Esse volume representa 19,8% das exportações totais do Brasil até o momento. A Alemanha, que recebeu 17,8% dos embarques, importou 1,885 milhão de sacas (-8,7%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vieram Bélgica, com a compra de 1,119 milhão de sacas (+29,7%); Itália, com 910.727 sacas (+0,9%); e Japão, com 481.498 sacas (-22,4%).
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O tipo arábica foi o mais exportado entre janeiro e março de 2022, com 9,254 milhões de sacas ou 87,3% do total. Já o café solúvel teve o embarque de 970.352 sacas, respondendo por 9,2% do total. Na sequência, vêm a variedade canéfora (robusta + conilon), com 358.848 sacas (3,4%), e o produto torrado e torrado e moído, com 10.511 sacas (0,1%).
Os cafés especiais ou aqueles que têm certificado de práticas sustentáveis responderam por 15,2% das exportações totais brasileiras do produto no primeiro trimestre de 2022, com o envio de 1,611 milhão de sacas ao exterior. O número representa uma redução de 1,9% na comparação com as 1,643 milhão de sacas embarcadas pelo país no primeiro trimestre do ano passado. Já o preço médio US$ 309,02 por saca (77,4% a mais) gerou uma receita de US$ 497,8 milhões nos três meses, representando 20,5% do obtido com os embarques totais.
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Source: Rural