A mesma bactéria que levou a gigante da indústria de chocolates Ferrero (fabricante do Kinder Ovo) a interromper a produção da sua unidade belga em Arlon nesta sexta-feira (08/04), a Salmonella pode estar presente em você neste exato momento. Nesse caso, contudo, nenhum prejuízo deve ocorrer caso você se mantenha um portador assintomático da bactéria.
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Bactéria Salmonella (Foto: Pixabay)
"Existem portadores de salmonella que são saudáveis e isso acontece tanto com o ser humano quanto com os animais. Ela vive no intestino dos animais de sangue quente e sempre vão vexistir hospedeiros sem nenhuma sintomalogia", explica a professora de inspeção de produtos de origem animal do curso de veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Julia Arantes Galvão.
Com mais de 2,6 mil sorovares diferentes, esses hospedeiros podem ser o seu animal de estimação, o rato que eventualmente invada a sua casa e até mesmo bovinos. A diferença entre esses portadores e o risco de contaminação que eles nos oferecem está justamente na forma como criamos e nos relacionamos com cada um deles (além das sorovares mais comuns em cada espécie).
O que é sorovar?
Sorovar é uma nomenclatura zoológica usada para especificar diferentes indivíduos de uma mesma sub-espécie. No caso da salmonella Enteritidis, por exemplo, trata-se de indivíduo do gênero bactéria, espécie salmonella, sub-espécie entérica e sorovar Enteritidis. “Ela tem essa nomenclatura diferente por ser essa família gigante. Normalmente, a gente não tem uma família tão grande assim dentro da classe das bactérias”, explica Julia.
A diferença entre cada sorovar se dá, muitas vezes, por questões genéticas ou mesmo de virulência. “Todo dia a gente descobre uma a categoria diferente e isso pode colocar a salmonella numa árvore genética com uma nova nomenclatura. Tanto que hoje a gente denomina esses sorovares por letras e números. Pararam de colocar nome nelas porque já tem tantas que a gente ficou com nome demais”, conta a pesquisadora
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As sorovares mais agressivas aos seres humanos são a Enteritidis e a Typhimurium, sendo esta última a encontrada nos chocolates da Ferrero. De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, 148 casos já foram registrados no continente este ano, a maioria entre crianças com menos de 10 anos. "Estatisticamente, já foi visto que essas são as cepas que acomotem um grande número de pessoas mundo afora. É certo que, se elas estiverem lá, tem grande chance delas enganarem o sistema imune do consumidor e saírem por aí fazendo estrago", conta Júlia.
Risco de morte
Amplamente presente no nosso dia a dia, a bactéria é temida porque, em suas formas mais graves, pode levar à morte. Segundo estimativa da organização mundial da saúde, as salmonelas entéricas causaram 59 mil óbitos em 2010, sendo a principal causa global de infecções alimentares diarreicas. A gravidade da contaminação, assim como em qualquer doença, depende de fatores de risco como estado de saúde da pessoa infectada, adaptação da bactéria ao organismo, dose ingerida, entre outros. No geral, os sintomas duram de dois a sete dias e incluem, além da diarreia, febre, vômito e dores abdominais.
No Brasil, o Ministério da Saúde contabilizou 83 surtos de salmonelose no país de 2014 a 2017, sendo que em 29,4% dos casos a contaminação ocorreu dentro de casa. O país pratica uma “tolerância” de 20% de contaminações em produtos de origem animal, desde que elas não sejam de sorovares específicos e de maior risco para a saúde humana. Nestes casos, a tolerância do serviço de inspeção federal é zero.
Embora a bactéria seja sensível à altas temperaturas, a professora da UFPR explica que ela possui uma alta capacidade de aderir a superfícies. “E quando ela adere, ela se esconde dos desinfetantes e dos produtos que a gente usa para limpeza, apresentando mais um mecanismo de defesa quando está aderida”, relata a pesquisadora.
Com isso, embora a forma mais comum de contaminação se dê pela ingestão de alimentos de origem animal, sobretudo aves, o uso de utensílios já contaminados, como tábuas de corte e facas também oferece risco."Às vezes a mesma tábua que a pessoa cortou o frango ele usa para cortar tomate, alface, salada… O frango ele vai cozinhar, mas o alface, não”, explica.
O caso Ferrero
No episódio de salmonella envolvendo chocolates da Ferrero, as autoridades europeias ainda investigam quais seriam as causas da contaminação na fábrica de Arlon, já que os ingredientes usados na produção, com exceção do leite, são essencialmente de origem vegetal. Os primeiros casos foram registrados no Reino Unido, ainda em janeiro deste ano. Em fevereiro, crianças da Bélgica, França, Alemanha, Irlanda, Holanda e Noruega também apsentaram sintomadas da doença.
Kinder Ovo (Foto: REUTERS/Caren Firouz/File Photo)
Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, entrevistas com pacientes e estudos epidemiológicos analíticos iniciais indicaram produtos específicos de chocolate como a provável via de infecção. "Os casos afetados foram identificados por meio de técnicas avançadas de tipagem molecular. Como esse método de teste não é realizado rotineiramente em todos os países, alguns casos podem não ser detectados", afirmou o órgão europeu em nota.
Ao todo, 22 lotes de chocolates Kinder Surprise, Kinder Mini Eggs, Kinder Surprise Maxi e Kinder Schoko-Bons foram tirados de circulação. Em comunicado divulgado em seu site, a empresa orientou seus consumidores a devolver esses produtos nos pontos de venda onde foram adquiridos.
Source: Rural