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Dono de distribuidora de combustível e posto de gasolina, José Tápparo comprou uma fazenda em Mirassol, no interior de São Paulo, na década de 1970. Como gostava de cachaça, iniciou uma plantação de cana-de-açúcar para fabricar sua própria bebida. O resultado foi tão positivo que muitos amigos começaram a fazer encomendas, e ele decidiu criar o Engenho Dom Tápparo. Falecido há seis anos, ele teria orgulho em saber que três bebidas Premium da empresa receberam o prêmio máximo do concurso internacional The Global Spirits Masters, em 1º de março.

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“Ele fez a parte dele. A primeira safra foi em 1978, apenas 5 mil litros de cachaça. Graças a Deus não deu nem para o cheiro. O produto era muito bom, mas ele separou um pouquinho para ele”, diz o neto Giovanni Tápparo, 38 anos, a terceira geração da família, ocupando o cargo de diretor-geral dos produtos Cabaré.

Cachaça Cabaré (Foto: Divulgação )

 

O engenho produz um milhão de litros de cachaça por ano a partir da cana-de-açúcar plantada em 70 hectares da fazenda. Cerca de 80% da produção é envelhecida em barris entre seis meses a 15 anos, com madeiras nacionais como amburana, jequitibá e amendoim; e madeiras importadas como carvalho americano e carvalho europeu. A companhia ainda produz 22 sabores de licores, coquetéis e bitter, um tipo de bebida amarga a exemplo do Campari. “Eu que nasci no meio disso, sou apaixonado, porque a cachaça é um patrimônio cultural brasileiro”, diz Giovanni.

Segundo o executivo, as vendas estão promissoras: as internas cresceram 5% no ano passado e as exportações, 30%. O destino das garrafas no exterior é principalmente os Estados Unidos, mas a empresa está entrando no Reino Unido e está negociando com a China e os Emirados Árabes. Para Giovanni os prêmios obtidos permitirão maior inserção no mercado internacional, que exige investimentos em postos de venda.

As cachaças premiadas foram a Duas Madeiras Extra Premium, um blend de carvalho americano e amburana, desenvolvida e assinada por Ademilson Tápparo, pai de Giovanni; Cachaça Carvalho Americano 10 Anos, envelhecida por dez anos; e Cachaça Cabaré Extra Premium, envelhecida por 15 anos, que já ganhou mais de dez concursos e foi lançada em parceria com o cantor Leonardo. O concurso internacional tem três posições: prata, ouro e máster. Os produtos do Engenho Dom Tápparo ganharam todos os prêmios máster de cada categoria.

“Eu sou apaixonado por cachaça. Eu falo para minha esposa: não tem jeito de não beber, todo dia eu tomo uma cachacinha. No final de semana a gente bebe um pouco mais. Só não pode dar prejuízo para o engenho. A cachaça tem que ser apreciada como são os bons vinhos e uísque, você tem que tomá-la sem deixar que ela a tome. Porque a cachaça faz bem se souber tomar, é um benefício para você”, diz o diretor-geral, que trabalha na empresa com outros dois irmãos.

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Segundo ele, muita gente tinha vergonha de revelar que gostava de cachaça. Mas, com garrafas de sua marca valendo nos Estados Unidos até US$ 200, além da qualidade da bebida, esse preconceito tem se reduzido. “Graças a Deus a cachaça está quebrando esse paradigma.”

O sommelier de cachaça Maurício Maia diz que esse concurso internacional é tradicional, mas pouco difundido entre os produtores brasileiros. “É um concurso importante para o mundo de destilados”, destaca. Ele explica que o Engenho Tápparo é tradicional, produz várias linhas de bebida e fez sucesso com a cachaça Cabaré, lançada com o cantor Leonardo, fazendo grande sucesso entre o público sertanejo.

Ele avalia que um prêmio assim pode ajudar as vendas da empresa, ainda mais após o reconhecimento, em 2012, da cachaça com produto brasileiro pelos Estados Unidos, que antes importava cachaça sob a descrição de rum brasileiro. “Isso ajudou a dar visibilidade grande para a cachaça nos Estados Unidos, que superou a Alemanha como grande importador do produto brasileiro”, diz.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Cachaça (Ibrac), as exportações brasileiras do produto cresceram 30% em volume e 38,3% em valores no ano passado em relação a 2020. As vendas para os Estados unidos cresceram 56% para US$ 3,48 milhões; já a Alemanha elevou as compras em 41,3% para US$ 1,88 milhão.

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A consultora especializada em cachaça e destilados Isadora Bello Fornari, que participa do júri de concursos internacionais como International Sugar Cane Awards e Spirits Selection by Concours Mondial de Bruxelas, avalia que a perspectiva é também positiva para a bebida no Brasil. “O produto vem ganhando mais apreço e respeito também por conta desses prêmios que as cachaças vêm gabaritando. Os produtores têm se destacado pela qualidade e complexidade. Há uma perspectiva muito positiva para tirar a cachaça do copinho de shot para trazê-la para uma atuação mais versátil como coquetel, uma apreciação com gelo por exemplo”, diz.

Para ela, aos poucos o brasileiro vem criando consciência do valor desse destilado tanto sensorialmente quanto economicamente, uma vez que o dólar está alto. “Há, cada vez mais, um olhar para o nacional. Eu trabalho com cachaça há alguns anos e vejo a mudança e facilidade de como a gente insere produto que antes era bem difícil devido à qualidade. A logística era de grandes indústrias e a complexidade era muito inferior. E agora produtores locais próximos colocam a qualidade em primeiro lugar.”

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Source: Rural

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