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Famoso pela crescente produção de grãos, com destaque para soja, milho e algodão, o oeste da Bahia tem potencial para se tornar mais um polo vinícola no Brasil. E quem está no negócio afirma que, a depender do valor do produto, um hectare de parreirais pode gerar uma rentabilidade maior do que a mesma área plantada com as commodities agrícolas que movimentam o avanço da fronteira agrícola no cerrado.

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É o que apontam os primeiros resultados de um projeto desenvolvido na fazenda Santa Luzia, do grupo Trijunção, em parceria com a Embrapa. Localizada no extremo sudoeste do Estado, a pouco mais de mil metros de altitude, em plena Serra Geral de Goiás, a região é cercada por outros polos produtores de uva do Nordeste e do Centro Oeste e reúne as características perfeitas para vinicultura.

Videiras recém podadas na fazenda Santa Luzia, em Cocos (BA) (Foto: Fernando Martinho/Ed. Globo)

 

“A uva precisa de solos profundos e drenados, altitude, amplitude térmica, e a gente tem tudo isso. E a uva tem valor agregado. Se eu vendo uma garrafa de vinho por 50 reais, em um hectare, eu tenho o mesmo resultado financeiro que 800 hectares de soja, só que exige a exploração, o vanguardismo dessas novas culturas que pouca gente está disposta a correr o risco e a ter o trabalho”, conta Allan Figueiredo, gerente administrativo da fazenda – hoje focada na criação de gado.

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Allan Figueiredo, gerente administrativo da fazenda Trijunção, se inspirou no Vale do São Francisco para iniciar o projeto de produção de vinho no oeste da Bahia há três anos (Foto: Fernando Martinho/Ed. Globo)

Zootecnista de formação, partiu dele a ideia de plantar, em um canteiro de poucos metros quadrados, a área experimental com oito variedades de uvas em agosto de 2019. “A nossa inspiração é o Vale do São Francisco. Eu fui lá, pesquisei, visitei, conversei e trouxe o pesquisador da Embrapa de lá pra cá porque a nossa produção e as nossas características são muito similares”, explica Allan. Assim como no Vale do São Francisco, a fazenda Santa Luzia tem desenvolvido o sistema de poda invertida, quando as uvas são colhidas durante o inverno.

“Enquanto as pessoas estão colhendo em dezembro e janeiro, nós estamos colhendo em agosto porque a gente não quer a chuva em cima do cacho. A chuva traz fungos e doenças, então, fazemos a nossa colheita na seca”, detalha o zootecnista ao mencionar o trabalho realizado na Chapada Diamantina, também na Bahia. A região inaugurou, este ano, uma vinícola com capacidade de produzir 300 mil garrafas por ano. “Por causa dois ou três pequenos produtores, aquela região tem se desenvolvido com o vinho. Temos o sonho de fazer isso aqui também e trazer uma alternativa para essas commodities”, conta o gerente administrativo da Trijunção.

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A colheita resultou na produção de dez vinhos diferentes, cinco deles classificados como de altíssima qualidade após testes realizados Embrapa Uva e Vinho, responsável pelo processamento dos frutos colhidos em agosto do ano passado. Ao todo, cerca de trinta garrafas foram produzidas e submetidas a testes e análises sensoriais para avaliar a sua qualidade, destacando-se os vinhos malbec, cabernet frac, espumante de pinot noir, espumante de chardonay e cabernet sauvignon. Com os primeiros resultados em mãos, a expectativa é obter autorização da diretoria do grupo para iniciar a produção em larga escala em cinco hectares a partir do ano que vem.

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“Desses cinco hectares, um será destinado para cada uva. Cada hectare desse vai ter um pequeno pedaço com outras coisas que a gente vai experimentar também, pelo menos uma linha de uma uva que a gente não fez ainda”, detalha Allan ao destacar, além do aspecto comercial, o potencial de conservação do Cerrado quando comparado à cultura de grãos, dependente de irrigação e correções de solo.

“Eu costumo falar para o pessoal que estamos 'abrindo o mato de facão'. Estamos fazendo o terroir, estudando, desenvolvendo. Acredito que quando tivermos nossa vinícola e o nosso rótulo aí sim começaremos a espelhar isso [para outros produtores]”, completa Allan.
Source: Rural

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