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Dependente do trigo importado para atender cerca de 60% da demanda interna, o Brasil exportou volumes maiores do cereal de boa qualidade, usado na panificação e na indústria alimentícia. Em janeiro e fevereiro de 2022, os embarques somaram 1,48 milhão de toneladas, aumento de 184,2% e recorde recorde para o período, de acordo com dados do Ministário da Agricultura (Mapa). A receita com a exportações nos dois primeiros meses do ano foi de US$ 473,46 milhões, 296,4% a mais na mesma comparação.

Segundo analistas de mercado, o aumento dos preços causado, principalmente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia tornou as exportações atrativas para o produtor. Ao mesmo tempo, o custo para a indústria nacional importar fica maior, o que pressiona a cadeia produtiva e tende a deixar os produtos finais mais caros também para o consumidor.

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O Brasil depende de trigo importado, mas exportou mais no primeiro bimestre deste ano, de acordo com dados do Ministério da Agricultura (Foto: REUTERS/Sergey Pivovarov)

 

No primeiro bimestre deste ano, os principais destinos do trigo brasileiro foram Arábia Saudita (US$ 85,63 milhões; 19,6% de participação); Marrocos (US$ 68,16 milhões; 15,6%); e Indonésia (US$ 65,70 milhões; 15%). Considerando só o mês de fevereiro, a balança comercial do cereal foi positiva, com receita de US$ 246,3 milhões nas exportações (836,6 mil toneladas) e de  US$ 141,58 milhões nas importações (498,8 mil toneladas).

Élcio Bento, analista de trigo da consultoria Safras & Mercado, explica que, mesmo antes da guerra, os preços do trigo no mercado internacional estavam altos, em decorrência de redução na safra dos Estados Unidos, Rússia e Canadá. A produção recorde no Rio Grande do Sul, de 3,4 milhões de toneladas, geraria um excedente que poderia ser utilizado pelos moinhos gaúchos, mas o produtor preferiu vender ao exterior.

“Os preços internacionais subiram demais e os moinhos locais não estavam conseguindo pagar o preço que o mercado internacional estava pagando”, explica. “É o mercado: o produtor vai vender para onde está pagando mais.” O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, refuta essa afirmação. “Não é isso. Os moinhos estão pagando o preço internacional.”

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Com os preços subindo, no ano comercial de setembro de 2021 a agosto de 2022, a expectativa do mercado é de exportações de 2,7 milhões de toneladas. De setembro do ano passado a fevereiro deste ano, já foram exportados 2,5 milhões de toneladas. E, de acordo com o analista, outras 200 mil toneladas de trigo do Rio Grande do Sul foram embarcadas para o exterior entre o fim de fevereiro e o início de março.

“Vamos ter que importar 7,5 milhões de toneladas, para que, junto com safra de 7,6 milhões de toneladas a gente conseguir equilibrar quadro de oferta e demanda, vai ficar apertado. A tendência é que, saindo 2,7 milhões de toneladas do País, no pico da entressafra, os moinhos terão que comprar mais”, diz Bento.

Ele avalia que as exportações deverão se reduzir apesar de o preço chegar às alturas com a guerra, pois Rússia e Ucrânia são o primeiro e quarto maiores exportadores do cereal. “Os moinhos carregam cerca de dois meses de trigo para não precisar ir ao mercado, mas vão ter que comprar novamente. E vão ter que comprar porque venderam mais do que podiam.”

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Os moinhos do Nordeste e Sudeste são os que mais importam, enquanto os moinhos do Sul usam trigo produzido no Paraná e Rio Grande do Sul. Para Barbosa, a produção recorde do cereal no País vai permitir que sejam mantidos os mesmos níveis de importação que a indústria necessitava nos anos anteriores. Mas ele reconhece que, se não fossem as exportações recordes, a dependência do trigo importado seria menor.

“Não há risco, em horizonte previsível, ter falta de trigo. O que vai acontecer é que o preço da farinha vai subir porque o custo das indústrias que estão importando trigo subiu. E vai haver repasse. Cada empresa vai ver o seu custo, a sua rentabilidade e fazer algum tipo de repasse. Algum tipo de repasse vai haver, porque o preço do trigo chegou a dobrar”, explica Barbosa.

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Elcio Bento, da Safras & Mercado, acredita que, mesmo se houveruma solução para a guerra entre Rússia e Ucrânia, problemas em safra de países como Canadá e Estados Unidos devem manter os preços da commodity pressionados. “Essa elevação de importação por si só não significa preços mais elevados, mas é uma tendência que tenha”, diz. “Parece pouco provável preços internacionais caírem, porque há estimativa de quebra de safra da China, e dificuldades na safra dos EUA, por isso a tendência de preços é bastante firme.”

E a alta dos preços começa a ser sentidas pelos fabricantes de alimentos, segundo nota da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), que prevê aceleração dos preços nas próximas semanas. Nas massas, em média, 70% do custo é de farinha. Nos biscoitos, o peso é de 30%, e nos pães e bolos industrializados, de 60%, informa a entidade.
Source: Rural

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