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inflacao-cenoura-batata-doce (Foto: Flickr)

 

O excesso de chuvas no Sudeste e a seca no Sul prejudicaram a colheita e fizeram disparar os preços de dois produtos bastante presentes na mesa dos brasileiros: a batata e a cenoura. A alta foi tão fora da curva que os dois itens pesaram sobre os índices de  inflação no Brasil. Segundo o IPCA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cenoura teve alta de 98% desde o início do ano e a batata inglesa, por sua vez, subiu 35%. Os aumentos mais significativos ocorrem em fevereiro: cenoura com 55,41% e batata 23,49%. A valorização contribuiu para a alta de 1,01% do IPCA do mês passado, a maior variação para um mês de fevereiro desde 2015.

“Em fevereiro, o grupo de Alimentação sofreu impactos dos excessos de chuvas e também de estiagens que prejudicaram a produção em diversas regiões de cultivo no Brasil”, diz o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, em comunicado do IBGE. “No caso da cenoura, as variações foram desde 39,26% em São Paulo até 88,15% em Vitória. Além disso, as frutas subiram 3,55%.”

Marina Marangon, pesquisadora do Cepea, explica que os preços da cenoura estão com tendência de alta, subindo sem cessar desde de janeiro, em decorrência não apenas das questões climáticas, mas também pela redução dos investimentos na lavoura após os baixos preços ofertados pelo produto na safra do verão de 2021. “E o preço continua subindo. Já subiu nesta semana quase R$ 20 a caixa de 29 kg, chegando a R$ 140, recorde histórico”, explica.

A principal região produtora é a de São Gotardo (MG), no Alto Paranaíba, também grande produtora de batata e alho, que sofreu com as chuvas. Além de atrapalhar o desenvolvimento das raízes, o excesso de umidade no solo provoca uma doença chamada “mela”, um fungo que acaba com o produto. “Goiás e Bahia também foram afetados por questões da chuva em excesso”, explica a pesquisadora, enquanto o Rio Grande do Sul e o Paraná sofreram com a estiagem. “E a disponibilidade de cenoura está muito baixa, sem oferta para abastecer toda a demanda do Pais.”

Ela explica que as chuvas, que ocorreram intensamente em janeiro e fevereiro, prejudicaram também o uso de máquinas para o plantio de cenoura. “Com as chuvas, os produtores não conseguem plantar porque a cenoura depende de muito maquinário que, com o solo úmido, não consegue entrar no campo”, diz.

Batata

Batata no PR: chuvarada prejudicou a produtividade das platanções e atrapalhou a colheita. (Foto: Jonathan Campos/Ed. GLobo)

 

 

As chuvas também prejudicaram a colheita da batata. A batata lavada tipo ágata teve média de R$ 61,37/saca de 25 kg na média das lavadoras do País, 28,7% acima de janeiro de 2021, de acordo com relatório da Cepea. “A razão principal foi a mesma atribuída no início do mês passado: chuvas em excesso, que resultaram em quebra de produtividade nas regiões produtoras.”

Natalino Shimoyama, diretor-executivo da Associação Brasileira da Batata (ABBA), explica que, além da chuva em Minas Gerais e Bahia e da seca no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

Paraná, dois outros motivos explicam essa aceleração nos preços: primeiro, o calor excessivo do verão, que impacta a produção; e o aumento dos custos de produção. Para ele, a aceleração nos preços seria ainda maior se não fosse a retração do consumo, em decorrência da falta de emprego. “Se o consumo tivesse normal a batata estaria valendo acima de R$ 500 a saca de 50 kg. Mesmo com a retração do consumo, o preço subiu. Hoje está em torno de R$ 200.”

Segundo Shimoyama, na safra do verão passado o custo de produção da batata estava entre R$ 40 mil a R$ 60 mil por hectare, enquanto na safra atual essa variação saltou para R$ 70 mil a R$ 90 mil, o que provocou uma redução da área de plantio. “Isso aí é um fator determinante, além do clima. E, para piorar ainda mais, existem alguns pesticidas e adubo que podem faltar nesta safra”, diz o executivo.

Preço excepcional

Jorge Kiryu, produtor de cenoura, batata e alho de São Gotardo teve perdas em razão da chuva. “Eu posso dizer que janeiro e fevereiro tivemos chuvas muito acima da média”, afirma. “Isso às vezes acontece, é um período que não se consegue plantar dentro do prazo, na quantidade que seria a sua programação. E durante o período do desenvolvimento vegetativo o excesso de chuva reduz a produtividade, foi o que ocorreu na cenoura”, explica.

De acordo com o Cepea, na semana de 28 de fevereiro a 4 de março, as cotações da cenoura na região de São Gotardo registraram novo aumento, alcançando o maior valor real da série histórica. A caixa de 29 kg de “suja” foi comercializada a R$ 118,75, variação positiva de 3,30% frente à anterior. “O constante aumento dos preços (desde janeiro) continua sendo justificado pela baixa oferta na região, frente à produção limitada pelo clima. As chuvas que ocorreram intensamente em janeiro e fevereiro continuam influenciando negativamente no volume produzido, deixando o solo extremamente úmido, dificultando a entrada do maquinário e causando doenças nas raízes”, informa o relatório.

Chuva na colheita

As chuvas ocorreram bem no momento de colheita da batata, que é plantada em novembro, o que também atrapalhou a produção. “A batata é muito sensível ao excesso de chuva e provoca essa queda na produtividade. No caso da batata não é um preço excepcional, mas o da cenoura é”, explica Kiryu.

Há, no entanto, um lado positivo em sua avaliação. Segundo o produtor, janeiro e fevereiro foram meses em que choveu mais que o dobro da média histórica da região: média histórica de 255 milímetros e choveu mais de 500 milímetros por mês. “A nossa leitura é de que o lado bom dessa quantidade de chuva é a reposição adequada das águas do subsolo favorecendo a irrigação no período de inverno, o que não ocorria há muitos anos”, afirma.
Source: Rural

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