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No próximo sábado, 5 de março, o time Brasil entra na arena de Arlington, no Texas, com um só pensamento: conquistar o terceiro título da PBR Global Cup, uma espécie de copa do mundo dos rodeios em touros em que o Brasil compete com peões dos Estados Unidos, Austrália, Canadá e México, e desempatar a disputa com os peões da casa. Nas quatro Copas, Brasil e EUA têm duas vitórias cada um. Na última, em 2020, os americanos venceram e o Brasil ficou num decepcionante terceiro lugar.

O treinador da equipe verde e amarela será um orgulhoso Robson Palermo, 39 anos, aposentado das arenas à força há quatro anos e determinado a levar a fivela de campeão para casa. Ele chegou aos Estados Unidos em 2005, estreou na Professional Bull Riders em Portland, em 17 de fevereiro de 2006 e nove meses depois já estava competindo na primeira de suas dez aparições nas Finais Mundiais da PBR.

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Robson Palermo, técnico da seleção brasileira de rodeio (Foto: Divulgação )

 

 

Único tricampeão dessa etapa que marca o final da temporada, o acreano de Bujari também venceu 13 eventos da série principal, cravou 37 corridas de 90 pontos na carreira e no ano passado ganhou o “Ring of Honor” (anel de honra), uma homenagem anual prestada pela categoria a um competidor que impactou o esporte.

“Já deixei escapar o título da Global Cup duas vezes. Neste ano, o troféu será nosso”, diz Palermo, que foi técnico da seleção em 2017 e auxiliar do treinador Guilherme Marchi em 2020.

A equipe escalada por Palermo tem sete títulos mundiais da Professional Bull Riders (PBR). O capitão é o atual bicampeão consecutivo José Vitor Leme. Silvano Alves, tricampeão (2011, 2012 e 2014), Kaique Pacheco (campeão em 2018), João Ricardo Vieira (duas vezes vice-campeão) e Dener Barbosa completam a equipe.

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Palermo chegou perto do título mundial individual da PBR várias vezes entre os anos de 2007 a 2012, antes de ser submetido a quatro cirurgias no ombro por três anos seguidos, que resultaram em danos permanentes nos nervos em seu braço esquerdo.

Em entrevista à Globo Rural, o cidadão americano há 14 anos fala da paixão pelos rodeios desde a infância, das lesões, da mágoa pela aposentadoria e de suas atividades atuais como criador de cavalos para rodeio e pai de atletas nos Estados Unidos.

Globo Rural – Como vai ser a disputa com os americanos na Global Cup?

Robson Palermo – Estamos na casa deles, mas, desta vez, o título será nosso. Tenho que tirar essa baixa estima de perder dois anos. Nosso time é muito bom, com muitos campeões que montam há vários anos nos Estados Unidos, têm cabeça boa e estão embalados pelas disputas do Mundial da PBR que acontecem todos finais de semana devido à mudança de cronograma neste ano (as finais aconteciam em dezembro e agora serão em maio). Não vamos ter tempo para fazer um treino de equipe, mas trocamos mensagens em um grupo que eu criei para a seleção e todos estão animados.

Robson Palermo (Foto: Divulgação/PBR)

 

Globo Rural – Há quantos anos você mora nos Estados Unidos e o que faz hoje?

Palermo- Moro em um rancho de 13 acres (5,2 hectares) em Bullard, no Texas, a 200 km de Dallas, com a minha família, onde crio, treino e vendo cavalos para provas de laço e três tambores. Comecei criando gado de pulo em 2010 em Tyler, uma cidade próxima daqui, onde o Adriano Moraes (tricampeão da PBR) também tinha um rancho, mas não deu muito certo e, na época, eu estava focado nas montarias em touro. Vendi tudo e me mudei pra Bullard por causa da escola dos meus filhos, que adoram esportes, e passei a criar cavalos. Ainda sou amador na atividade, mas estou melhorando.

GR- Seus filhos vão seguir a carreira do pai?

Palermo – Quem sabe? O menor, Lucas, de 6 anos, adora montar e já participa de rodeios mirins. A Gabriela, de 12 anos, compete em rodeios jovens na prova dos três tambores, seguindo o exemplo da mãe, que foi campeã da modalidade no Brasil. O Mateus tem 10 anos, gosta de futebol, basquete e beisebol. Eu e minha mulher vivemos na correria com eles. Em alguns finais de semana eu vou para Dallas acompanhar a Gabriela no rodeio e a Priscila vai para o outro lado do Texas com o Mateus. No Brasil, eu também tenho uma filha, a Vitória, de 18 anos, que estuda veterinária.

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GR- Você parou cedo com as montarias. Sofreu muitas lesões na carreira?

Palermo – Tive que parar porque tenho uma lesão nas costas, que limitou demais minha habilidade de montar. Caí de um boi em 2006, minha coluna saiu do lugar e eu comecei a ter problemas. Cuidei da coluna com médico, massagista, quiropraxista e fui levando, mas tive que fazer quatro cirurgias e, em uma delas no ombro esquerdo, o médico atingiu um nervo que tirou toda a força do braço que eu segurava a corda. Aí, comecei a me machucar muito e não conseguia mais ter domínio dos touros. Até que em Nova York, em janeiro de 2018, um boi entrou rodando na esquerda, virou para a direita, me derrubou embaixo dele e pisou no meu rosto. Levei 40 pontos no maxilar e tive que fazer plástica. Foi meu último evento, mas eu ainda não sabia e não estava programado para parar. No hospital, cheguei a falar para minha mulher que se ria meu último boi, mas demorei ainda dois anos para parar mesmo. Montei mais um boi em casa treinando, vi que não tinha mais jeito de voltar, liguei para a PBR e anunciei a aposentadoria oficial. Agora, sou um pai que leva os filhos para praticar esportes.

GR – Você fez uma longa carreira, com 13 vitórias na primeira divisão e 37 notas acima de 90 pontos, mas nunca ganhou o título mundial. Quanto ganhou em dólares na carreira na PBR?

Palermo – Ganhei a final três vezes em Las Vegas, muitas etapas e quase US$ 4 milhões com as montarias, mas, infelizmente, o título não veio por conta das lesões.

Robson Palermo (Foto: Divulgação/PBR)

 

GR – No ano passado você ganhou o anel de honra. Foi uma surpresa essa homenagem? O que sentiu? 

Palermo – Eu não imaginava que seria o escolhido. Minha esposa sempre falou que eu deveria receber uma homenagem pela carreira. Aí chegou o meu dia. Eu estava levando meu filho para um jogo de futebol em Dallas em 3 de julho, quando recebi uma ligação do cofundador da PBR, Cody Lambert, anunciando a homenagem. Agora, tenho um anel de ouro em casa, tipo aqueles grandão do futebol americano. É a fivela de campeão do mundo que eu não tinha. Estive pensando em vender ele no Brasil… Estou brincando. Foi muito bom ser reconhecido aqui, faz um bem danado para o ego.

GR- Quando você começou a montar e quem foi sua inspiração?

Palermo – Comecei a montar profissionalmente aos 17 anos com a ajuda do Kaká (Emilio Carlos dos Santos), que era presidente da Festa do Peão de Barretos, e do Marcão (Marcos Abud). Eu morava em uma cidade perto de Rio Branco, no Acre, e meu pai trabalhava para o fazendeiro Ricardo Cássio Cunha, que tinha quatro propriedades. Eu ajudava na fazenda e comecei a montar bezerro ainda criança, com apoio dos meus pais. Ganhei o primeiro rodeio que disputei em Bujari (AC) aos 14 anos e decidi: vou ser peão de rodeio. Não tinha ninguém para me ensinar, mas minha mãe me deu uma fita com montarias em touro do Adriano Moraes, Rogério Ferreira e Fabrício Alves nos EUA. Fui vendo o jeito como eles montavam, como colocavam a corda no boi, a espora, o colete e fui aprendendo. Eu montava sem nada: colocava uma faixa na mão e uma calça de trabalho. Minha mãe, então, me deu meu primeiro equipamento: calça de couro, colete, corda. O dono da fazenda gostou das minhas montarias e ligou para uma amiga em São Paulo que conhecia o Kaká. Ele ligou pra minha mãe, me chamou para montar em São Paulo, combinaram a minha emancipação porque eu era menor e eu me mudei. Fui morar com um antigo peão chamado Boca de Lata. No meu primeiro ano, venci Jaguariúna e Limeira. Ganhei no Brasil 14 motos , uma camionete e um carro. Em 2005, depois que ganhei Barretos e a Priscila ganhou a prova dos três tambores, decidimos mudar para os Estados Unidos. Fui convidado para montar em Davis, na Flórida. Viemos e estamos aqui até hoje.

Ganhei o primeiro rodeio que disputei em Bujari (AC) aos 14 anos e decidi: vou ser peão de rodeio."

Robson Palermo, 

GR – Como foi enfrentar um país novo, uma cultura diferente? Você sabia falar inglês?

Palermo – Foi bem difícil. Eu não sabia falar nem oi, obrigado ou contar até dois em inglês. Comecei a escutar bastante o pessoal a conversar, mas não entendia nada. A sorte é que a Priscila tinha feito curso e sabia falar inglês. Quando nos mudamos para o Texas e eu passei a competir nos eventos, foi um amigo americano que não falava nada de português ou espanhol que me ajudou. Ele pegava as coisas e falava o nome: copo, porta, sela e eu fui aprendendo. Assisti muitos desenhos na TV, que ajudaram bastante também. Três meses depois, já conseguia falar umas frases e dar entrevistas. A Priscila me matriculou em um curso, mas fui só duas vezes, não gostei e não voltei.

Robson Palermo e família (Foto: Arquivo pessoal)

 

GR- Com toda essa experiência, você dá cursos de montaria nos Estados Unidos?

Palermo – Não tenho um curso para oferecer, mas dou aulas quando sou convidado. O fato é que quando decidi parar de montar não queria mais ficar envolvido com o mundo do rodeio. Queria levar minha cabeça para outras coisas porque fiquei muito magoado por ser obrigado a parar de fazer o que eu amava desde a infância. Por isso demorei dois anos para aceitar que tinha que me aposentar. A cabeça estava boa, mas o corpo não estava.

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GR – Há muita diferença entre os touros brasileiros e os americanos?

Palermo – Os touros nos EUA chegam a pesar 900 e 1.000 kg. São bem diferentes dos brasileiros. Olhando pela TV, os peões no Brasil pensam como eu pensava que os touros são tranquilos e que basta chegar aqui para ganhar muito dinheiro. Os animais brasileiros são mais leves e aceitam que você corrija a posição da montaria se começar errado. Os touros americanos, resultado de muito melhoramento genético para pulo, são muito rápidos, fortes e bravos e não aceitam erros. Qualquer errinho ele te derruba e parte para cima!

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Source: Rural

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