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“Essa guerra veio complicar um ano já muito difícil para o agronegócio brasileiro, com aumento exagerado dos custos de produção, estiagem derrubando as safras na região sul e crédito rural fechado.” A avaliação é de Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que vê dois cenários distintos para a agropecuária nacional em decorrência da invasão da Ucrânia pela Rússia, deflagrada na última quinta-feira (25/2).

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Presidente russo Vladimir Putin (Foto: REUTERS )

 

Por um lado, o aumento do preço internacional das commodities causado pela redução da oferta principalmente de trigo e milho e a intranquilidade dos mercados pode gerar uma compensação ao aumento de custos de produção ou tornar o prejuízo menor para os produtores de grãos, mas, por outro, setores como fruticultura, horticultura e pecuária de leite devem ser duramente atingidos.

“Esses setores absorvem todo o aumento de custos, inclusive dos grãos, mas não têm um mercado internacional para aumentar sua renda e não têm como repassar os custos no mercado interno. Se houver o repasse, pode ocorrer uma redução de consumo porque não há margem para aumento de preços, já que o poder aquisitivo do consumidor brasileiro está menor”, diz ele, acrescentando que a inflação atingiu 10% no ano passado, mas foi puxada pela alta dos combustíveis e da energia e não dos alimentos.

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José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da consultoria MB Agro, vê um cenário de dólar mais elevado, juros mais altos e mais inflação no Brasil como consequência do conflito no leste europeu. Lembrando que Ucrânia e Rússia são mais concorrentes do que clientes do Brasil, o consultor diz que a disrupção esperada na produção de grãos da Ucrânia deve impactar ainda mais os preços internacionais das commodities como trigo, milho e também a soja.

“Como a safra dos dois países em conflito ainda não foi plantada e a produção ucraniana deve ser bem afetada, o cenário de grãos no mundo, que já estava pressionado por condições climáticas adversas e baixos estoques, vai ficar mais apertado.”

Mas o impacto maior para o país, diz Hausknecht, deve vir dos fertilizantes, já que a Rússia é a maior exportadora de NPK e o Brasil é quase totalmente dependente das importações. Outro reflexo deve vir dos aumentos de petróleo (cujo barril chegou a romper a barreira dos US$ 100 no primeiro dia da guerra) e do gás, que influenciam diretamente os preços de transportes.

Antonio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), diz que, além dos fertilizantes, uma guerra na Europa pode ter reflexos logísticos na distribuição da produção brasileira ou na compra de outros insumos, como defensivos e peças de máquinas agrícolas.

“Pode haver impactos em produções do centro da Europa, fora da zona de conflito, e ser necessário redesenhar as rotas de transporte, causando congestionamento em portos e aeroportos, se tornando um componente a mais nos problemas logísticos que a pandemia já nos trouxe.”

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Na questão dos fertilizantes, o diretor da CNA fala que o produtor brasileiro deve observar como será o cenário para as safras americana e europeia que começam em março para ver se haverá alguma restrição e ter ideia de como tratar o plantio da nova safra, a partir de setembro.

Segundo Lucci, há muitas incertezas e grande parte dos produtores que travam custos com as revendas de fertilizantes estão alarmados porque adiaram para o segundo trimestre a compra de insumos, confiando numa queda de preços. “Só os nitrogenados subiram 11% em um dia. Será que a relação de troca ainda fica favorável? Além disso, os defensivos usam petróleo ou derivados e certamente vão sofrer aumento, assim como os fretes.

“Por fim, é preciso ver a questão do dólar, que estava estabilizado e voltou a subir, o que mexe com toda a estrutura de custos da agropecuária, como sementes, adubos, defensivos, remédios veterinários, sêmen. Tudo isso aumenta com o dólar.”

agricultura_fertilizante (Foto: Thinkstock)

 

Com esse cenário de aumento e risco de desabastecimento de fertilizantes, a CNA está aconselhando os produtores a só fecharem negócios com fornecedores idôneos que garantam a chegada do produto e a manutenção do preço combinado.

Lucchi diz que a CNA propôs recentemente aos representantes de revendas na Câmara de Insumos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a adoção de um modelo de contrato formal para que haja uma segurança jurídica ao produtor na compra dos insumos.

No ano passado, diante dos aumentos dos insumos, que chegaram a 170%,  a entidade encaminhou ao Ministério da Justiça pedido para averiguar se as revendas não estavam praticando preços abusivos e arbitrários. O ministério respondeu que iria investigar, mas que seria muito difícil chegar a uma conclusão.

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Mato Grosso

Fernando Cadore, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT), diz que Brasil, Argentina e Estados Unidos podem suprir os clientes de grãos da Ucrânia e Rússia, mas ele aconselha os agricultores a não fazer negócios agora e fugir de ambientes especulativos. “Estamos lidando com custos de produção nunca antes vistos, o que impacta a safra 2022/23, e como consumidores estamos pagando a conta também nas gôndolas dos supermercados”, diz Cadore, se referindo à inflação dos alimentos.

Segundo ele, a maior preocupação dos países nesse momento é com a segurança alimentar, mas, felizmente, o Brasil tem a vantagem de ser um país autossuficiente na produção de alimentos e de poder atender ao mundo.

 
Source: Rural

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