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A invasão da Ucrânia pela Rússia, dois dos maiores players mundiais do mercado de trigo, deve elevar ainda mais o preço do cereal no Brasil e pressionar as indústrias moageiras, que já estão com margens de lucro bem apertadas, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa. A análise do dirigente é endossada por analistas do mercado.

“As incertezas sobre a guerra já impactaram o preço do trigo internacional, que subiu 15%. Com o conflito vem ainda o custo indireto das sanções que devem ser aplicadas à exportação dos fertilizantes e insumos ”, diz Barbosa. Nesta quinta-feira (24/2), os preços internacionais do cerealfecharam em forte alta na Bolsa de Chicago, matendo um atendência vista desde o pregão da madrugada.

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Trigo tem alta história de preço com o agravamento do confliuto entre Rússia e Ucrânia (Foto: REUTERS/Sergey Pivovarov)

 

A Rússia é o quarto maior produtor de trigo do mundo e o maior exportador. A Ucrânia é o sétimo maior produtor e está entre os quatro maiores em embarques. Juntos, os dois países respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo. O Brasil compra pouco trigo da Rússia. No ano passado, foram apenas 28 mil das cerca de 6 milhões de toneladas importadas, e nada da Ucrânia.

O principal fornecedor externo de trigo para o Brasil é a Argentina, que responde por metado do volume processado nos moinhos brasileiros. Ainda assim, sendo o cereal uma commodity referenciada no mercado internacional, o quadro de oferta e demanda nos demais produtores influencia na formação do preço do produto argentino.

“A Rússia tem o trigo mais barato do mundo e a Argentina fica de olho nesse preço. Normalmente, o país vizinho calcula o preço do seu trigo com base no produto russo e na diferença de frete da Argentina para o mercado potencialmente atendido pelos russos”, diz Fernando Michel Wagner, gerente comercial América Latina da Biotrigo.

Segundo ele, com a falta do trigo da Rússia e da Ucrânia, a Argentina deve se juntar aos Estados Unidos e à Austrália para suprir o mundo. Wagner destaca que a baixa do dólar arrefeceu recentemente o aumento de preços do trigo nacional, mas não houve queda devido ao nervosismo do mercado justamente pelas questões geopolíticas.

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Flavia Starling, analista do mercado de trigo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destaca que a crise afeta o mercado futuro porque dá uma ideia de que pode faltar trigo no mundo. Ela diz que os preços já subiram muito nos últimos meses, devido ao câmbio e ao fato de que o Brasil está na entressafra. Ela não acredita em risco de desabastecimento no Brasil, mas diz que mesmo o preço mínimo proposto pela Conab deve subir, como consequência do aumento dos insumos.

“Temos que lembrar que, apesar do aumento de 16% da área plantada e de 26% da produção no Brasil, não houve desvalorização da saca nem durante a safra, ao contrário do que normalmente ocorria no período de agosto a dezembro, quando a oferta interna é mais alta”, diz

Segundo a analista, os estoques de passagem para permitir um equilíbrio entre oferta e demanda estão bem baixos há três safras e não dá para contar com a política governamental de estoques estratégicos, que está em desuso na atual gestão.

Para Cesar Alves, analista do Itaú BBA, o cenário de curto prazo é muito complicado. A depender das sanções a serem adotadas nas commodities e fertilizantes, pode agravar o cenário de fome no mundo, especialmente em países da África dependentes do trigo e milho da região em conflito. Ele acrescenta que, se a Ucrânia sair do mercado internacional, os preços do trigo, milho e até da soja vão subir de imediato e afetar indiretamente o setor de carnes, que depende do milho e do trigo para a ração e já está com problemas pelo aumento dos custos de produção.

Por outro lado, segundo o diretor da Biotrigo e o presidente da Abitrigo, o aumento de preço do cereal no mercado internacional pode incentivar o produtor nacional a aumentar o plantio. No ano passado, o Brasil, mesmo sendo altamente dependente do trigo importado, embarcou um recorde de 1,5 milhão de toneladas, aproveitando os bons preços.
Source: Rural

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