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A decisão da Rússia de invadir a Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24/02) tornou ainda maior o risco de uma eventual falta de fertilizantes no mercado internacional. Os impactos podem ser diretos sobre o futuro da safra 2022/23 de grãos no Brasil, cujo plantio se inicia no próximo semestre. Com os preços já em alta devido a problemas geopolíticos na Bielorrussia, o que havia reduzido a oferta mundial de potássio, o setor vinha adiando as compras à espera de uma possível queda dos preços que, com o início do conflito, se tornou improvável.

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Rússia é o maior exportador mundial do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) (Foto: Thinkstock)

 

“O mercado vinha trabalhando com uma expectativa de alguma acomodação dos preços porque a China deve sair das compras após passado o período que ela abastece seu mercado. E aí, a consequência disso, é que os produtores estão esperando, ninguém fez grandes aquisições. E a importação está menor porque as indústrias também estavam com o pé atras diante do risco grande de importarem com o preço alto e depois ter que vender aqui a um preço mais baixo” explica o consultor de agronegócios do Itaú, César de Castro Alves.

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Em Santa Catarina, a Federação Das Cooperativas Agropecuárias do Estado, que mantém uma misturadora própria de fertilizantes responsável por abastecer 50% da demanda de seus associados, recebeu sua ultima remessa de fertilizantes vindos da Rússia em janeiro deste ano e não possui novos contratos. “Vamos ver o que vai acontecer. No momento está tudo no escuro, praticamente não se sabe o que vai acontecer na realidade, mas eu acredito que vai piorar para nós”, avalia o gerente de suprimentos da Fecoagro, Jairo Loose, ao reconhecer a dependência que o setor possui em relação a oferta russa de fertilizantes.

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Dentre os nutrientes exportados pela Rússia ao Brasil, destaca-se o potássio. Com 20% da produção mundial, o país respondeu por 28% das importações brasileiras deste nutriente em 2021 e, globalmente, as opções são escassas. “Por isso que a gente fica na dúvida, porque num primeiro momento o Brasil está abastecido, mas nos segundo semestre esse volume da Rússia eu acredito que os demais fornecedores não vão conseguir suprir porque não se consegue um volume extra tão grande de produção em tão pouco tempo”, destaca Loose ao mencionar que a Federação já vinha ampliando seus estoques, mas que hoje eles são suficientes apenas para este primeiro semestre.

Sanções

Na tarde desta quinta-feira (24/02) o presidente dos EUA Joe Biden anunciou um novo pacote de sanções contra a Rússia mirando o setor bancário e de títulos. Ao todo, US$ 1 trilhão em ativos foram congelados, a maior sanção econômica já vista na história, de acordo com Biden. Embora não tenha sido anunciado nenhuma medida direta contra o setor de fertilizantes, como temia o mercado, o presidente americano deixou claro que a intenção do pacote de sanções é de restringir a capacidade da Rússia de realizar negócios em dólar, euro ou iene.

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“As negociações locais estão praticamente interrompidas, paralisadas, e mesmo no restante do mundo a gente não está vendo notícia do que está acontecendo no mercado físico porque está todo mundo meio parado”, comenta o diretor da mesa de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello. Segundo ele, as restrições impactam todas as transações com a Rússia, mas ainda que não houvesse sanções, os efeitos do conflito armado na região sobre o mercado de fertilizantes são imediatos.

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“A Rússia tem duas saídas importantes para a exportação dela e uma delas é pelo mar negro, exatamente onde está todo esse problema. E o mar negro já está impactando a saída de navios comerciais. Então o transporte de um volume imenso de fertilizantes tanto da Rússia quanto da Ucrânia já está suspenso. Os navios não querem entrar lá porque está uma zona de guerra”, observa Mello ao mencionar uma alta de mais de 40% nos preços futuros da ureia, nutriente cuja matéria prima básica é o gás natural – outra commodity no qual a Rússia se destaca na produção mundial.

Sem saída

“Não tem para onde correr, a verdade é essa. A Rússia é o maior exportador mundial do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) como um todo e o fato de o Bolsonaro ter ido recentemente ao país e ter estado com o Putin não resolve a situação”, destaca diretor da mesa de fertilizantes da StoneX ao ressaltar que certamente haverá uma crise global de abastecimento de potássio. “O cobertor é um só, se puxar de um lado, falta de outro. Essa é a gravidade da situação”, completa Mello.

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O consultor de agronegócios do Itaú, César de Castro Alves, concorda. “Acho que cresceu substancialmente o risco de faltar fertilizantes. A gente não sabe e não tem a menor ideia de até onde essas sanções podem alcançar, então sob a ótica de fertilizantes, uma possível queda de preços, principalmente no potássio ficou mais difícil”, destaca Alves.

Procurada, a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) não retornou até a publicação desta reportagem. Em nota, a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA) afirmou que "lamenta o ataque da Rússia à Ucrânia" e que "ainda é cedo para analisar os impactos para o setor e para toda a cadeia alimentar diante das sanções internacionais".

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"A ANDA, neste momento, dedica sua atenção ao possível risco de oferta de insumos para a produção de fertilizantes e impactos na cadeia de suprimentos internacionais, inclusive no Brasil", afirma a instituição em nota na qual destaca que "reconhece os esforços do governo para atenuar gargalos, e registra acreditar na diplomacia brasileira". "A entidade seguirá monitorando, para avaliar quais serão os resultados concretos para o setor, buscando criar a melhores alternativas para se manter o abastecimento", afirma a Associação. 
Source: Rural

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