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O ano de 2021 foi bom para o agronegócio brasileiro, com recordes no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) e nas exportações. O VBP atingiu R$ 1,129 trilhão, um crescimento de 10,2% em relação ao ano anterior. O principal responsável por esse valor elevado foi o aumento dos preços das principais commodities, uma vez que os volumes das safras não aumentaram na mesma proporção.

 

Mas, se o país foi beneficiado com isso, o resultado não foi apropriado equilibradamente por todos os produtores rurais, que tiveram diferentes produtividades e produções, em função das condições climáticas. A seca que afetou boa parte das regiões produtoras prejudicou fortemente os produtores de milho da safra de inverno, bem como os canavieiros do Sudeste. E as geadas de junho e julho fizeram estragos grandes em cafezais, canaviais, laranjais e até em hortifrutigranjeiros, derrubando a produção.

Com isso, os preços subiram (caso do café), de modo que os agricultores que não sofreram com a seca ou as geadas e colheram normalmente foram premiados com remuneração acima da orçada. Em outras palavras, o VBP cresceu, mas o faturamento dos agricultores foi muito desigual.

Quanto às exportações, outro recorde: US$ 120,59 bilhões, 19,7% mais que em 2020. De novo, a valorização do dólar frente ao real e a prevalência dos preços elevados sobre volume exportado foi o que ajudou, porque este último teve crescimento pequeno. E mais uma vez a soja foi a grande “vedete”, com US$ 48 bilhões exportados; seguida pelas carnes, com US$ 19,86 bilhões; produtos florestais, com US$ 13,94 bilhões; e açúcar, com US$ 10,4 bilhões.

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Como será 2022? É a pergunta que incomoda muita gente. E o La Niña está perturbando a resposta. A previsão inicial da safra de grãos feita pela Conab beirava os 290 milhões de toneladas, outro recorde anunciado.

Mas as condições de clima nos Estados do sul e em parte de Mato Grosso do Sul e de São Paulo estiveram bem desfavoráveis desde dezembro e até a primeira metade de janeiro. Com falta de chuvas, a quebra de produção de soja no Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul é muito forte, chegando a 50% (e até mais em algumas áreas) da expectativa que havia durante o plantio. E há a real possibilidade do La Niña se estender por boa parte do ano agrícola, o que perturbaria a segunda safra de milho e não compensaria as grandes perdas dos produtores com a soja.

Se isso ocorrer, o agro não poderá ajudar o país no combate à inflação. Sem abundância, os preços não cairão o esperado, afetando os consumidores todos, em especial os de baixo poder aquisitivo.

E, naturalmente, a condição de plantio da safra 2022/2023 será também prejudicada, seja  com a descapitalização dos agricultores com dois anos seguidos de seca, seja com o espantoso aumento de custo dos principais insumos – fertilizantes e defensivos –, dos quais alguns até faltarão, devido a dificuldades dos fabricantes, tais como insuficiência de matérias-primas, custo da energia e temas ligados à logística.

Em suma, um ano que prometia resultados favoráveis para o Brasil e os brasileiros pode não ser tão bom. Mas ainda é cedo para ser pessimista.

(publicado originalmente na edição 434 da revista Globo Rural – fevereiro/2022)

*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as cooperativas e titular da Cátedra de Agronegócios da USP

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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