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A queda de uma centena de aves da espécie graúna-de-cabeça-amarela (Xanthocephalus xanthocephalus) foi registrada por uma câmera de segurança no centro da cidade de Álvaro Obregón, no estado de Chihuahua, no México. O caso, que aconteceu na segunda-feira passada (07/02) e teve milhares de visualizações na internet, deixou uma dúvida: o que causou a morte dos cerca de 100 pássaros? Enquanto não há uma posição oficial das autoridades locais, especialistas defendem algumas hipóteses.

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Segundo moradores da região, os pássaros colapsaram por volta das 5h, mas a polícia só foi acionada às 8h20. No vídeo, é possível visualizar o bando sobrevoando as casas quando, na intersecção da avenida Aldama com a rua Primera, muitos deles caem em direção ao solo, atingindo algumas casas, o asfalto e a calçada; logo em seguida, alguns dos animais retomam voo, mas outros permanecem no chão. Em continuação ao vídeo, uma gravação caseira feita por um dos moradores mostra de perto as graúnas-de-cabeça-amarela mortas sendo recolhidas na limpeza feita pelas autoridades mexicanas.

Segundo as informações do veículo de imprensa mexicano El Diario de Chihuahua, o tráfego dessa espécie na região é comum neste período do ano, pois ela migra do norte do Canadá para o norte do México no inverno.

A espécie – que se alimenta essencialmente de sementes – migra para o México, fugindo do frio invernal dos EUA e do Canadá (Foto: Reprodução/El Diario de Chihuahua)

 

 

 

 

 

Augusto João Piratelli, doutor em Zoologia e pesquisador na área de conservação de aves, explica que a migração é um evento estabelecido ao longo da evolução de diversas espécies de aves como uma resposta aos períodos de escassez de alimentos. “Muitas aves migram todo ano, seguindo rotas bem estabelecidas e em períodos bem definidos”, pontua.

A migração pode ser bastante perigosa, como explica o especialista: “muitos indivíduos morrem durante o trajeto” e isso é intensificado pela urbanização. “Um dos principais acidentes que ocorrem com as aves nas cidades são as colisões com estruturas de vidro; muitas vidas são perdidas dessa forma. A poluição sonora e do ar, bem como a iluminação artificial também podem desorientar e causar mortandade”, descreve Piratelli. Havendo necessidade de passar pelas áreas urbanizadas no processo de migração, eventos como o registrado no vídeo tornam-se cada vez mais comuns, acompanhando o crescimento das cidades.

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No caso das aves do México, a perícia feita no local por um veterinário zootecnista indica que não se pode determinar com certeza qual foi o motivo desse evento, mas é possível que seja um caso de inalação de fumaça tóxica ou sobrecarga por contato com a energia elétrica dos cabos da rua.

O pesquisador brasileiro explica que, neste caso específico, por se tratar de uma espécie com indivíduos pequenos, a hipótese de eletrocussão dos animais pode ser descartada, uma vez que “geralmente descargas elétricas matam aves maiores, que, ao tocar em dois fios [ao mesmo tempo durante o voo] fecham o circuito”.

A intoxicação, de acordo com Piratelli, também é responsável por diversos incidentes com pássaros. "A poluição também mata, não só localmente, mas acumulada ao longo da cadeia alimentar”, ressalta. Um exemplo comum, segundo ele, é a travessia por áreas agrícolas, onde, frequentemente, os animais fazem paradas para “abastecimento” e, ao entrarem em contato com substâncias químicas de agrotóxicos, podem ser contaminadas e morrer. 

Apesar disso, o especialista aponta que, para este caso, a tese também é falha. "Uma intoxicação simultânea e tão rápida seria meio estranha, porque afetaria também as pessoas (e isso não foi mencionado em nenhum lugar)".

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Uma terceira possibilidade, levantada pelo ecologista Richard Broughton, é de que houve ataque de um predador ao bando de graúnas. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, ele explicou que, por mais que não seja possível ver aves maiores no vídeo, como alguma ave de rapina, esse espécime poderia ter causado a perda de controle do voo dos pássaros, os forçando para o solo e em direção aos prédios.

Sobre essa possibilidade, Piratelli afirma que a ideia do ataque de um predador faz sentido, mas ressalta que somente um exame toxicológico poderia confirmar o real motivo da morte.

Questionado sobre formas de minimizar os acidentes de aves em períodos migratórios, o doutor em Zoologia conclui: “é importante para toda a biodiversidadade preservar os ambientes naturais, combater as queimadas e os desmatamentos ilegais. É importante também pensarmos em cidades ambientalmente mais corretas, com menos poluição e com vidros que sejam visíveis para as aves, reduzindo esses acidentes”.

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Source: Rural

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