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O aumento da taxa de juros e as dificuldades de acesso ao crédito rural, especialmente as operações com recursos subvencionados, têm sido motivo de preocupação para o agronegócio. Representações do setor pedem ao governo uma solução para a retomada da liberação dos financiamentos controlados para custeio e investimento, em plena colheita da safra de verão e início do plantio das culturas de meio de ano no Brasil.

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Depois de aumento da taxa de juros, Ministério da Economia recomendou a suspensão de financiamentos controlados  (Foto: Marcello Casal Júnior/Agência Brasil)

 

Na semana passada, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) enviou um ofício ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e outro ao presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deputado Sérgio Souza (MDB-PR), cobrando soluções. A entidade pede um projeto de lei complementar que recomponha o Orçamento de 2022 e garanta os recursos necessários.

“A escalada da taxa Selic desde março/2021 não foi dimensionada quando da formulação do orçamento 2022, o que compromete novas operações de crédito em 2022, assim como as tão necessárias renegociações de prazos de reembolso do crédito nas regiões cuja produção agropecuária foi significativamente impactada pela seca ou por chuvas excessivas”, justifica o presidente da CNA, João Martins, nos ofícios.

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A situação se agravou ainda mais depois da recente reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC). No dia 2 de fevereiro, o Copom elevou novamente a taxa Selic. Os juros básicos da economia brasileira passaram de 9,25% ao ano para 10,75% ao ano, na tentativa de controlar a inflação. A Selic, além de base de remuneração de títulos públicos, é taxa de referência para operações de financiamento.

A decisão refletiu diretamente no crédito rural. Dois dias depois, no dia 4 de fevereiro, a Secretaria do Tesouro Nacional enviou um ofício às instituições financeiras requerendo a suspensão de novos financiamentos a juros controlados. "A suspensão das contratações das operações de crédito, com fonte de recursos equalizadas, durante o mês de fevereiro, provoca forte preocupação com o período final do Plano Safra 2021/2022 e com a antecipação de pré-custeio, diante de um cenário de elevação de custos de produção para todas as atividades agropecuárias", diz a CNA, nos ofícios.

Na indústria de máquinas, a situação vem se estendendo há meses, conta Pedro Estêvão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSMIA/Abimaq). Ele pontua que os recursos do Moderfrota, principal linha de financiamento controlado para investimento dos produtores rurais na compra de maquinário, estão escassos pelo menos desde novembro de 2021.

 

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Sem os recursos controlados, o produtor rural tem que recorrer aos juros de mercado de bancos privados ou até linhas de crédito próprias dos bancos públicos, que têm taxas mais altas. De acordo com executivo da Abimaq, o custo total dos financiamentos, a depender da operação e da análise de risco do cliente, por variar de 15% a 17% ao ano.

Ao mesmo tempo, o preço das máquinas também subiu algo em torno de 25% no ano passado, de acordo com dados da indústria. "Estávamos apreensivos, porque o custo do dinheiro está caro e não tinha alternativa. O que estava salvando é que o agricultor vem de dois anos de rentabilidade, estava mais capitalizado e as vendas estavam correndo bem", analisa Estêvão.

Ainda assim, pelo menos por enquanto, a indústria mantém a previsão de crescimento para este ano em 5%. Parece pouco, mas não é, afirma o presidente da Câmara Setorial da Abimaq, lembrando que os dois últimos ano já foram de forte alta nas vendas: 17% em 2020 e 42,5% em 2021.

"Precisa rodar o mercado mais um pouco para ver como ele se comporta", analisa. "É uma base de faturamento muito alta. Ninguém fala que vai cair. Vamos avaliar melhor, mas esse número me parece razoável. Nas culturas de exportação, que é o maior mercado, o produtor vem tendo rentabilidade, está mais capitalizado e está a fim de investir", acrescenta.

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Diretor de marketing da Case IH para a América Latina, Eduardo Penha, também avalia que a demanda do produtor está firme, sinalizando a disposição de investir em tecnologia. Pontua, no entanto, que, pelo menos nos últimos 18 meses, a indústria passa por dificuldades para entregar equipamentos, por problemas na logística de peças e componentes.

Segundo ele, a cadeia de peças e componentes tem se adaptado ao atual momento de maior demanda. Mas os prazos de entrega estão alongados, chegando, em média, a cinco meses, a depender do modelo. Diante da situação, essa previsão em relação à necessidade de ter a máquina no campo tem que ser levada em conta na hora da decisão de compra.

Além disso, o produtor deve considerar as condições atuais das linhas de financiamento e o custo do próprio equipamento. "Tem que analisar todos os aspectos que envolvem a compra de uma máquina agrícola e também o custo total de produção", recomenda. Penha reconhece que o momento é de cautela, mas alerta que ficar excessivamente cauteloso pode levar o produtor a perder boas oportunidades de negócio.

R$ 3 bilhões

De julho do ano passado a janeiro deste ano (primeiros sete meses do atual ano-safra), as contratações de crédito rural relativas ao Plano Safra 2021/2022 totalizaram R$ 174,005 bilhões, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. O montante é 31% maior que o registrado no mesmo período do ciclo 2020/2021. Os financiamentos controlados somaram R$ 117,767 bilhões (+32%) e os livres, R$ 56,239 bilhões (+28%). 

O Ministério afirma que está buscando uma solução para a retomada dos financiamentos suspensos neste mês. Foi o que garantiu a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na última quinta-feira (10/2), em nota. O comunicado foi lido pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO), durante audiência da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado (CRA), realizada no Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR).

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A ida da ministra à feira, em Cascavel, no oeste paranaense, estava prevista, mas ela teve que cancelar a agenda por ter sido diagnosticada com Covid-19. Na mensagem lida pelo presidente da CRA, Tereza Cristina destacou que a interrupção das contratações do Plano Safra é temporária.

"O governo está remanejando valores entras as próprias linhas de financiamento e deve solicitar ao Congresso Nacional recursos extras de mais de 3 bilhões de reais para o orçamento da união, que permitam tanto o retorno das contratações de crédito rural quanto medidas para socorrer os agricultores e pecuaristas atingidos pela seca na região sul e excesso de chuva em outras regiões", dizia a mensagem transmitida por Gurgacz.

Em meio a esta situação, quem acenou ao mercado foi a Caixa Econômica Federal. No dia 10 de fevereiro, ainda durante o Show Rural Coopavel, anunciou a liberação de linhas de crédito para custeio, investimento, comercialização e industrialização. Os empréstimos são bancados com recursos da Poupança a taxa de juros de 9,5% ao ano.

Novo PLano Safra

 

Nos ofícios enviados ao Ministério da Economia e à FPA, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) alerta que a situação atual traz insegurança em relação ao crédito também para o próximo ano-safra.

"Também nos preocupa o aumento do custo do crédito direcionado e livre na safra 2022/2023 e a possibilidade de falta de recursos para financiamento do setor agropecuário, decorrentes da rápida elevação da taxa básica de juros. O aumento do custo do crédito deve ocasionar aceleração inflacionária e comprometer o próprio crescimento econômico do País",  diz a CNA.

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Pedro Estêvão, da CSMIA/Abimaq, ressalta o cenário de incerteza em relação ao Plano Safra para o ciclo 2022/2023, que entra em vigor no segundo semestre.  Segundo ele, a indústria pretende se reunir com outras representações do agronegócio e o governo para discutir as condições dos financiamentos para a próxima temporada.

"Nossas demandas estão em discussão. O valor que o governo tem colocado ao longo dos anos no Plano Safra está distante do mercado, muito longe do necessário. E com a Selic alta, não tem muita saída e o mercado de máquinas subiu em volume de vendas e preço", avalia Estêvão, destacando que o segmento movimentou no ano passado cerca de R$ 70 bilhões.

No Plano Safra 2021/2022,  o montante previsto para o Moderfrota foi de R$ 7,53 bilhões, segundo Ministério da Agricultura. "O momento que a gente vive é de incerteza. A gente acredita que o governo vai liberar o Plano Safra, mas não sabemos as taxas de juros", pontua Eduardo Penha, executivo da Case IH.
Source: Rural

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