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O mundo aumenta a utilização do controle biológico (CB) de pragas agrícolas na ordem de 12-15% ao ano. O Brasil, segundo a CropLife, aumenta em mais de 35% tal utilização ao ano, sejam de macro, micro-organismos ou semioquímicos.

Obviamente que, ainda, a cultura de agroquímicos é muito forte no país e, de um modo geral, os micro-organismos (fungos, bactérias, vírus etc.) são mais utilizados em relação aos macro-organismos pelo fato de se assemelharem aos agroquímicos na sua aplicação e terem, sobretudo, o tempo de prateleira (“shelf-life”) – o produto biológico comprado vem embalado e pode ser utilizado por vários meses após a compra do produto a ser aplicado.

Vozes do Agro (Foto: Estúdio de Criação)

 

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Já os macro-organismos (insetos e ácaros) devem ser liberados tão logo emerjam e demandam uma logística de armazenamento e transporte diferentes, além de uma produção automatizada de pragas e inimigos naturais para as grandes áreas no Brasil.

Os mitos do CB começam a ser transpostos, seja o problema cultural (preferência por químicos), ou outros como, aquele relacionado ao custo, no qual o CB deve ser mais barato do que os químicos (sem levar em conta as vantagens ecológicas e sociais), que é mais fácil de ser desenvolvido (às vezes, um programa de macro-organismos demora cerca de 15 anos de pesquisa, antes de chegar ao agricultor), que o biológico deve resolver os problemas isoladamente (hoje a filosofia é de Manejo Integrado de Pragas) e que é uma forma demorada de controle (errado, pois as grandes criações de insetos – criações massais de inimigos naturais – permitem a liberação de grande número de insetos, com uma resposta rápida de controle), diferentemente do que se pensava quando foi iniciado o controle biológico clássico.

Em cana-de-açúcar, começou-se a se falar em CB na década de 1960, com o Prof. Domingos Gallo, chefe do Departamento de Entomologia da ESALQ, trabalhando com moscas nativas (mosca-do-Amazonas, Metagonistylum minense – hoje Lydella minense, e Paratheresia claripalpis e Billaea claripalpis), para controle da principal praga da

cultura, a Diatraea saccharalis, a broca-da-cana. Posteriormente, o Prof. Gallo sensibilizou os usineiros a fazerem laboratórios nas usinas e produzirem Cotesia flavipes, importado inicialmente em 1971, de Trinidad-Tobago e posteriormente do Paquistão. Esta produção em usinas é feita até hoje por algumas delas, o que facilitou em muito o sucesso do CB da época, pela diminuição dos problemas de logística de armazenamento e transporte, desde que, os inimigos naturais fossem produzidos no próprio local de liberação. Hoje existem empresas produzindo este parasitoide.

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Assim, iniciou-se o controle biológico na cultura, hoje exemplo para todo o mundo. Para as três principais pragas da cana, a broca-da-cana, a cigarrinhas-das-raízes, Mahanarva spp., e o bicudo, Sphenophorus levis, utiliza-se o controle biológico em maior ou menor escala. Para Migdolus fryanus, uma praga menos frequente em termos de distribuição, utiliza-se o feromônio sintético para seu monitoramento populacional.

O controle de D. saccharalis tem sido feito com o parasitoide de ovos Trichogramma galloi (nome dado em homenagem ao Prof. Gallo, anteriormente citado, pelo Prof. R. A. Zucchi da ESALQ). O monitoramento da praga é feito com fêmeas virgens (feromônio natural) de D. saccharalis colocadas no campo (ainda não se dispõe de feromônio sintético para substituir tais fêmeas, com estudo em andamento) e iniciando-se a liberação do parasitoide T. galloi após 5 a 10 dias de serem encontrados 10 machos por armadilha (uma armadilha para cada 50 ha, com 4 pupas da praga por armadilha). Hoje, são feitas 3 liberações de 50.000 parasitoides/ha a intervalos de 7 dias, num total de 3,5 milhões de ha tratados. Existem em torno de 5 empresas ativas para a venda do produto biológico, que é liberado na sua quase totalidade por drones.

Ainda para D. saccharalis utiliza-se o parasitoide C. flavipes, anteriormente chamado de Apanteles flavipes. Estes insetos produzidos em cerca de 15 usinas e 27 empresas ativas atendem a um mercado, neste ano, de 4 milhões de ha, com uma aplicação de 6.000 parasitoides por ha, liberados de 21 a2 8 dias depois da coleta dos 10 machos mencionados anteriormente na armadilha, a mesma para T. galloi, e também realizando-se a liberação por drones.

Para o controle das cigarrinhas-da-cana, que se tornou importante em cana crua, utiliza-se o fungo Metarhizium anisopliae em cerca de 1 milhão de ha e para Sphenophorus levis, o fungo Beauveria bassiana, em 1,3 milhão de ha, especialmente em São Paulo e Oeste de Minas Gerais; o inseto realiza revoadas de novembro a março e é sério problema especialmente nestas áreas mencionadas.

Portanto, a cana-de-açúcar é um excelente exemplo para o mundo de utilização de CB em grandes áreas, modalidade em que o Brasil pode ser considerado um líder mundial. Outros exemplos, em outras culturas, poderiam ser citados, especialmente após o relato, em 2013, da Helicoverpa armigera no país, que se tornou um marco do CB, pois, por não haver opção química, o agricultor teve que utilizar os produtos biológicos, com sucesso, em soja, algodoeiro etc., hospedeiros da referida praga.

*José Roberto Postali Parra é professor da ESALQUSP e diretor do SPARCBio, sigla em inglês para Centro de Pesquisa Avançada em Controle Biológico de São Paulo.

**as ideias e opiniões expresas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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