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A New Holland lança no Brasil o primeiro trator movido a biometano, com a promessa de reduzir em até 80% as emissões de gases e rodar com o mesmo desempenho, durabilidade e manutenção do equipamento movido a diesel. Diferentemente do protótipo, que adaptava um motor a diesel e começou a ser testado no país em 2017, T6 Methane Power, de 180 cavalos, tem motor 100% movido a biometano, combustível gerado pelo refinamento do biogás, uma tecnologia que avança como alternativa limpa ao diesel.

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Trator a biometano já havia sido lançado no mercado internacional e agora chega ao mercado brasileiro. Equipamento é importado  (Foto: Divulgação/New Holland)

 

O lançamento oficial ao mercado brasileiro será em Cascavel (PR), durante o Show Rural Coopavel (de 7 a 11 de fevereiro), uma das principais feiras agropecuárias o Brasil, que retoma o formato presencial, após um intervalo de quase dois anos provocado pela pandemia da Covid-19. Em nível global, o trator foi lançado em 2019, na feira Agritechnica, em Hannover (Alemanha). No ano passado, equipamento foi eleito o Trator Sustentável de 2022 durante a EIMA International, em Bolonha, na Itália.

A máquina começou a ser produzida em escala comercial em 2021, na fábrica inglesa de Basildon. A partir de junho deste ano, chegará aos produtores brasileiros, via importação. “Nosso plano estratégico prevê acompanhar a evolução e demanda do ecossistema do biometano no Brasil e a aceitação do trator para definir a viabilidade de sua produção no país”, esclarece Cláudio Calaça Junior, diretor de Marketing de Produto da New Holland Agriculture para a América Latina, sem revelar a meta de vendas.

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O biometano é resultado do refino do biogás oriundo da biodigestão de matéria orgânica de resíduos animais e de subprodutos das usinas, como vinhaça e torta de filtro. Claudio Calaça Junior explica que o novo trator vai aproveitar o que chama de "ciclo virtuoso" da fazenda, cada vez mais autossuficiente do ponto de vista energético e ambientalmente correta. Segundo o executivo, o uso do biometano pode gerar uma redução de 25% a 40% nos custos, na comparação com os combustíveis convencionais, já que o gás será produzido na propriedade rural.

Criadores de gado de corte e de leite, produtores de aves e suínos, cooperativas que fazem abate de animais e usinas de cana-de-açúcar são os principais alvos da empresa para vender o novo trator, que deve custar em torno de 35% a 40% a mais que o similar a diesel, hoje com preços a partir de R$ 800 mil.

A New Holland, uma das marcas do grupo CNH, trabalha também com três parceiros para entregar um pacote tecnológico que inclui o biodigestor de acordo com as necessidades do cliente e o upgrade de purificação do biogás para gerar o biometano nas fazendas. A aquisição desses equipamentos junto com o trator é opcional.

O T6 Methane Power, com dez tanques, sendo três frontais, tem capacidade de levar 450 litros de gás, o equivalente a 80 kg de biometano. A autonomia é de até 10 horas em atividades mais leves ou meio dia de trabalho. O trator possui transmissão Semi Powershift 16 x 16, cabine com visão 360º e luzes de LED, que permitem seu uso mesmo à noite. Vem equipado também com sistemas de telemetria, agricultura de precisão e que permitem a conexão entre a frota, fazenda e dados agronômicos.

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Para viabilizar o lançamento da tecnologia global, a fabricante escolheu um modelo de trator que funciona como um "coringa", explica Calaça Junior. Nem tão grande, nem tão pequeno, o T6 pode ser usado em propriedades de diversos tamanhos. Mas isso não significa que modelos maiores e menores não possam rodar com biometano no futuro.

“Um dos grandes desafios foi adaptar os tanques de gás no trator mantendo o design e a segurança, mas está no nosso pipeline o desenvolvimento de outros equipamentos, dependendo da aceitação do mercado", explica o executivo, destacando ainda que a New Holland fechou uma parceria com uma empresa inglesa de combustíveis alternativos que estuda a liquefação do biometano. "Isso pode abrir portas inclusive para a fabricação de uma colheitadeira movida a biometano”, acrecsenta.

Fase de testes

Antes de ser lançado comercialmente, o trator a biometano já vinha sendo testado no Brasil. Na safra passada de cana-de-açúcar, um equipamento rodou na unidade 2 da Cocal, em Narandiba (SP), que investiu R$ 150 milhões na implantação de plantas de biogás, biometano e em uma termelétrica de 5 megawatts (MW), que ocupam 20 hectares.

“Nosso interesse em testar o trator veio da busca de tecnologias para substituir os 30 milhões de litros de diesel usados na nossa frota de mais de 800 equipamentos motorizados para oferecer ao mercado um etanol ainda mais limpo”, diz André Gustavo Silva, diretor comercial e de novos produtos da Cocal, acrescentando que a usina já produz biometano desde setembro, a partir dos resíduos (1,5 milhão de m³ de vinhaça e 130 mil toneladas de torta de filtro) da industrialização do açúcar e álcool.

A máquina foi usada em operações de transbordo, preparo de solo e cultivo, entre outras atividades. O equipamento em teste tem sete tanques de gás e mostrou uma autonomia de sete a oito horas. O reabastecimento é feito com cilindros de gás levados ao campo. O ideal seria ter caminhões abastecimento na lavoura ou a liquefação do biometano.

Trator movido a biometano testado em unidade produtiva da Cocal, no interior paulista (Foto: Divulgação/Cocal)

“A grande vantagem desse equipamento é ser 100% biometano, não é uma conversão ou um dual fuel. Isso nos dá segurança porque a máquina vem pronta de fábrica. Além disso, não tem cheiro nem faz barulho. Parece que o trator está desligado”, avalia Silva. 

A Cocal também está testando um caminhão Scania, uma motobomba e um automóvel Gol movidos a biometano, além de um trator dual fuel (diesel e biometano) de 230 cv da italiana LandiRenzo. E já iniciou as negociações para a compra de alguns tratores da New Holland, como parte de um plano de expandir a produção de biogás e biometano, além de tornar ainda mais limpas suas operações na produção de etanol.

Ainda estão sendo feitos alguns testes para identificar em quais operações o modelo se encaixa e um levantamento de quantos equipamentos de sua frota atual estão no final da vida útil e precisam ser substituídos. A cada ano, a usina renova cerca de 15% a 20% da frota. 

“O que nos assusta muito agora é o valor em dólar do trator. A grande briga é trazer a produção da máquina para o Brasil. Nosso índice de correção é o IPCA porque a gente acredita que precisa trabalhar com moeda nacional, que facilita manutenção, peças e financiamento”, pontua Silva.

"Pré-sal caipira"

 

A chegada de tecnologias como o trator da New Holland ao mercado encontra um cenário considerado promissor para o uso do biogás e do biometano no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), o país tem potencial para produzir até 121 milhões de m³ de biogás por dia, sendo 57,8 milhões do setor sucroenergético, 38,9 milhões da produção animal e 18,2 milhões das demais atividades agrícolas. Esse volume seria suficiente para substituir 70% do consumo de óleo diesel no país e 100% do gás natural.

Alessandro Gardemann, presidente da Abiogás, diz que o setor representa 90% do potencial do biogás.“O biogás é o famoso pré-sal caipira, um combustível carbono neutro com todos os atributos ambientais e sociais agregados a ele. Foram instaladas 45 novas plantas no ano passado, um aumento de 30%, diz ele. A Associação tem 96 associados, incluindo as usinas sucroalcooleiras Cocal e Raizen, a cooperativa Castrolanda e a New Holland.

Gardemann conta que o Brasil tenta desenvolver a tecnologia desde a década de 80, a partir do saneamento rural e doméstico. Mas foi a partir de 2010 que o biogás se tornou uma alternativa eficiente e competitiva na matriz energética do país. O uso do combustível foi regulamentado em 2020. Segundo ele, o Brasil só aproveita 2 milhões do potencial atual de geração.

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O executivo diz que a tecnologia é competitiva em todas as escalas, desde o pequeno agricultor e a agricultura familiar às grandes usinas sucroenergéticas e o grande aterro. Ele estima um investimento mínimo de R$ 500 mil, com geração de receita adicional de R$ 100 mil por ano, mas diz que o valor dos grandes projetos pode chegar a R$ 300 milhões.

Atualmente, o país tem cerca de 500 plantas de biogás em diversos níveis tecnológicos, mas apenas 10 de biometano. A maior planta de biogás está na unidade de Bonfim da Raizen. Outro grande projeto reúne em uma joint-venture a sucroalcooleira UISA e a Geo Biogás, que tem Gardemann como CEO, para instalar uma planta de geração de energia e biometano no parque industrial da usina, em Nova Olímpia (MT), usando os resíduos da agroindústria da cana. A estimativa de investimento é de R$ 220 milhões.

“O biogás é essencial para a meta de redução de emissões de metano com a qual o Brasil se comprometeu na COP 26. O país está atrasado em relação à Europa, que tem quase uma Itaipu de biogás, mas, chegou a hora de desenvolver a tecnologia nacional. Daqui a dez anos, o Brasil pode gerar 300 milhões de m³ por dia de biogás e ter 300 unidades produzindo em larga escala, além de milhares de pequenas plantas, diz o executivo", diz Gardemann. 

A Abiogás planeja a criação de um fundo garantidor com capital privado e concessional que tome o risco do projeto na época de desenvolvimento.
Source: Rural

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