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Um ano díspar, totalmente impactado pelos reflexos da pandemia da Covid-19, que geraram desbalanço no comércio marítimo mundial e consequentes elevação dos custos dos fretes, rolagens de cargas, constantes cancelamentos de bookings e disputa por contêineres e espaço nas embarcações.

Houve, ainda, o ingresso na temporada 2021/22, com uma colheita menor do que o esperado pelo ciclo bienal devido aos impactos do clima seco nos cafezais do Brasil, fazendo-nos viver intensas volatilidades no mercado, com as cotações disparando a níveis históricos interna e internacionalmente, além da continuidade do dólar fortalecido ante o real.

 

Essa foi a dura realidade vivida pelo setor exportador no Brasil em 2021. Mas se há o que se enaltecer nesse contexto é a resiliência e o fato de os exportadores brasileiros jamais “abandonarem o barco”, literalmente.

Ao analisar esses entraves, o profissionalismo, a capacidade de gestão e a criatividade desses profissionais fez com que o Brasil registrasse seu terceiro maior volume exportado da história, com a remessa de 40,4 milhões de sacas de 60 kg de café a 122 países, que renderam US$ 6,2 bilhões.

E como isso foi possível? Se escritores fossem, nossos exportadores provavelmente transvestiriam Carlos Drummond de Andrade no poema “No meio do caminho (tinha uma pedra)”, mas eles foram muito além!

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Com trabalhos administrativos hercúleos e criatividade ímpar, “pularam a pedra” a sua frente, organizaram seus caixas, buscaram alternativas, como a retomada e a modernização da modalidade “break bulk” – exportação, com segurança sanitária e muita tecnologia, via “big bags” –, persistiram e conseguiram embarcar seus cafés, possibilitando esse desempenho significativo nas exportações.

Some-se a isso a otimização da promoção internacional da sustentabilidade dos cafés do Brasil, conduzida pelo Cecafé, em parceria com outras entidades de classe, embaixadas e órgãos públicos, nos principais mercados e em países emergentes.

Esse trabalho mundo afora contribui para fortalecer a imagem sustentável e de boas práticas adotadas pela cafeicultura nacional, alinhando nossa produção a proteção ambiental, preservando recursos naturais, e respeito ao social, fatores fundamentais para o fluxo do comércio internacional do café.

Dois mil e vinte e um foi um ano em que desafios climáticos e preocupação com a pauta ambiental e de direitos humanos mobilizaram as agendas regulatórias de importantes mercados para o produto nacional em direção à descarbonização das economias e à obrigatoriedade de avaliação de riscos e diligência de critérios ESG pelas empresas.

Assim, é vital comunicar de forma clara e com embasamento técnico-científico o que se faz na cafeicultura brasileira. Por isso o Cecafé, junto a exportadores associados, lançou novos projetos e se engajou em iniciativas coletivas, em alinhamento com a agenda do clima, de segurança alimentar e bem-estar social, em voga nos principais fóruns globais.

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Uma dessas ações é o Projeto Carbono, desenvolvido sob liderança técnico-científica do professor Carlos Eduardo Cerri, da Universidade de São Paulo (USP), e do Imaflora. Essa pesquisa gerará indicadores sobre o carbono capturado da atmosfera e estocado no solo nos cafezais e nas áreas de vegetação nativa conservadas, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, em propriedades de café de importantes regiões produtoras.

A iniciativa coletiva de “Bem-estar Social na Cafeicultura Brasileira”, da qual o Cecafé é um dos coordenadores, foi consolidada em 2021 e favorecerá a promoção do trabalho decente e a melhoria contínua do ambiente trabalhista no setor, tendo como um dos importantes indicadores a mensuração da renda digna dos produtores, valorizando o pilar econômico da sustentabilidade.

Inclusão digital e capacitação de agricultores e trabalhadores rurais para o desenvolvimento de uma cafeicultura mais sustentável e alinhada às normas de segurança alimentar é outro eixo de trabalho do segmento exportador. Em 2021, iniciamos a construção de um projeto de plataforma EAD no âmbito do programa “Produtor Informado” do Cecafé, em parceria com a Plataforma Global do Café, que apoiará a disseminação de boas práticas ambientais e sociais no campo.

Em suma, 2021 foi um ano de fortes emoções e desafios, mas que os exportadores enxergaram como oportunidades para os cafés do Brasil. Devido a isso, demos start a um portifólio de ações estratégicas, que será reforçado com novos projetos na área de rastreabilidade e promoção internacional, sempre com foco na sustentabilidade.

Sabemos que alguns problemas persistirão em 2022, em especial os gargalos logísticos, mas temos certeza de que a capacidade de nosso segmento continuará fazendo o Brasil honrar seus compromissos e atender, com excelência, à demanda mundial crescente por cafés sustentáveis.

Isso porque o consumo de café também se faz resiliente, como já demonstrou anteriormente em períodos de crises e depressões econômicas. Além de a população ter ampliado seu consumo em casa enquanto estava restrito o acesso a cafeterias, restaurantes e afins, a reabertura desses negócios, hoje, fomenta a demanda, com muitos mantendo sua preferência por consumir fora dos lares. Em meio a uma pandemia que ainda não acabou, dentro ou fora de casa, a bebida permanece na lista dos desejos dos consumidores!

* Nicolas Rueda é presidente do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé)

**as ideias e opiniões expresas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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