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A produção agrícola brasileira pode chegar a 285 milhões de toneladas na safra 2021/2022, de acordo com estimativa realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), reforçando a posição do Brasil como um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Essa produção toda, no entanto, não seria possível sem a indispensável ajuda de vários fatores de produção e matérias-primas utilizadas para melhorar a qualidade e a produtividade na agricultura: os chamados insumos agrícolas (mecânicos, químicos e biológicos).

 

Embora não sejam novidades, os insumos biológicos – ou bioinsumo – passaram a receber mais atenção recentemente à medida que cresce a preocupação com os impactos ambientais e a necessidade de se praticar uma agricultura cada vez mais sustentável. Nesse contexto, uma série de produtos tem cada vez ganhado mais espaço nos cultivos brasileiros, inclusive com a criação de biofábricas de inoculantes (bactérias, fungos, entre outros) e de produtos para o controle de pragas (parasitoides, ácaros e insetos predadores). Mas dentro dessa diversidade, chama à atenção a ausência quase que total na agricultura brasileira de um dos mais importantes bioinsumos utilizados no mundo: os polinizadores, mais especificamente, as abelhas, o maior e mais eficiente grupo de polinizadores na agricultura.

Hoje, sabe-se que 75% das culturas agrícolas dependem em algum grau da polinização feita por animais, principalmente abelhas, para maximizar a quantidade ou a qualidade da produção. Assim, a Plataforma Intergovernamental em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) estima que 5 a 8% da atual produção global de alimentos, com um valor de mercado anual de U$235 a U$577 bilhões, se deve diretamente a polinização animal. No Brasil, esse valor é estimado em U$12 bilhões.

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A maioria dessas culturas apresenta aumentos de produtividade e qualidade dos frutos quando bem polinizadas, mas conseguem produzir boas colheitas mesmo quando isso não acontece. Este fato faz com que os produtores não percebam que poderiam ter produções mais rentáveis com os mesmos investimentos. Soja, algodão, café e laranja são alguns exemplos. Já as culturas dependentes de polinizadores só produzem quando polinizadas por abelhas. É o caso da maçã, melão, amêndoa e maracujá.

Assim, do mesmo jeito que o ambiente agrícola não consegue nutrir ou fornecer os agentes de produção na quantidade e qualidade que os cultivos demandam, sendo necessário o uso dos respectivos insumos agrícolas e bioinsumos, ele também não consegue fornecer todos os polinizadores necessários. E essa carência será tão maior quanto for a dependência do cultivo em polinizadores.

A introdução de bioinsumos de polinização, ou seja, polinizadores complementares, se faz necessária. Isso já foi percebido há vários anos por países que incorporaram as abelhas em seus sistemas de produção agrícola. Nos Estados Unidos, por exemplo, 2,5 milhões de colmeias da abelha melífera (Apis mellifera) foram usadas para polinização agrícola em 2020, assegurando altas produtividades e gerando uma renda extra no campo de U$254 milhões em serviços de polinização.

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No Brasil, no entanto, as abelhas continuam esquecidas e não consideradas como um bioinsumo importante na cadeia de produção. Com exceção de cultivos altamente dependentes da polinização por abelhas, como o melão e a maçã, o que se vê são algumas tímidas iniciativas isoladas em cultivos como o café, o coqueiro e a soja. Mas estudos feitos no país têm demonstrado incrementos de produção de soja entre 6 e 18%.

Recentemente o Brasil instituiu o Programa Nacional de Bioinsumos (decreto nº 10.375 de 26 de maio de 2020) “com a finalidade de ampliar e de fortalecer a utilização de bioinsumos no País para beneficiar o setor agropecuário”. Em tempos contraditórios, onde se precisa aumentar a produção de alimentos e reduzir os impactos ambientais, reconhecer e estimular o uso de um bioinsumo abundante e capaz de aumentar a produtividade da grande maioria das culturas plantadas no país parece um caminho óbvio a ser seguido.

Devemos, portanto, aproveitar esse momento e, seguindo o exemplo de tantos outros países, passar a ver as abelhas como um bioinsumo valioso e importante para aumentar a produtividade das lavouras brasileiras de uma forma politicamente correta, ambientalmente sustentável e economicamente viável.

*Breno M. Freitas é engenheiro agrônomo do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrária da Universidade Federal do Ceará e membro do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do seu autor e não representam, necressariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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