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Nos anos 2000, o país caracterizava a topologia do desmatamento na Amazônia como um “arco”. Esta era a forma da distribuição no espaço do dano à floresta. Para combater o “Arco do Desmatamento” ou o “Arco de Fogo”, políticas punitivas eram acompanhadas de incentivos direcionados aos municípios no “Arco Verde”.

 

O “arco” era integrado por lista de municípios prioritários, divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente. O seu eixo começava em Rondônia, pendulava pelo Mato Grosso até chegar ao Pará. Nestes três estados, localizavam-se 35 dos 36 municípios-prioritários do desmatamento no país.

O ano de 2012 é um marco na trajetória do desmatamento na Amazônia. Por um lado, neste ano, a taxa de corte florestal atinge a mínima histórica de 4,5 mil km². Por outro, a partir daí, ele volta a subir. Em 2013, a taxa de desmatamento dá salto de 28,8%; nos anos seguintes, novos saltos de quase 30%. E não parou mais.

(Foto: FGV)

 

O novo desmatamento começa a revelar atributos particulares. Um dos mais negativos é o protagonismo do estado do Amazonas. Embora seja um dos estados mais preservados do país, com 98% do território intocado, o sul do estado assiste ao avanço significativo do corte florestal. Desde 2017, 4 municípios da região ingressaram na lista dos focos prioritários: Apuí, Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá. Em 2021, o Amazonas teve a segunda maior taxa de desmatamento do país, perdendo apenas para o Pará.

Por outro lado, uma característica positiva do novo cenário é a queda do desmatamento no Mato Grosso. Em 2004, o Estado derrubou 11,8 mil km2 de floresta. Desde então, Mato Grosso promoveu queda considerável nas taxas de desmatamento, com inovações e políticas exitosas de colaboração com municípios, setor privado e social. Nos últimos anos, no entanto, o desmatamento volta a dar sinais de elevação.

(Foto: FGV)

 

Por fim, o desmatamento na Amazônia pós-2012 avança para novas zonas de pressão. A lista de municípios prioritários do desmatamento agora inclui representantes no Acre e em Roraima. O Acre, o “estado da floresta”, é hoje um dos centros de avanço do desflorestamento. Ao mesmo tempo, a pecuária assume posição mais relevante no estado. O avanço do gado dentro da Reserva Chico Mendes ilustra o desafio.

Roraima, por sua vez, também entra na nova zona de alerta. A fronteira da economia no estado, antes direcionada para os lavrados no norte, começa a migrar para o sul. Desde a retirada de “arrozeiros” do interior da reserva indígena “Raposa Serra do Sol”, a economia agropecuária tende a avançar para o sul florestado do estado. Em Rorainópolis, um dos novos eixos do desmatamento, o rebanho bovino dobrou em uma década.

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Os novos focos de alerta na Amazônia se somam aos antigos e criam uma topologia nova a partir de 2012. A base côncava do antigo “arco do desmatamento” é agora cada vez mais preenchida por novos municípios, dando origem a uma “linha reta”, que atravessa mais de 1 milhão de km2 em 5 estados.

Esta também é, coincidentemente, a linha reta da pobreza na região amazônica. Por lá, estão alguns dos municípios com menores índices socioeconômicos do país. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) per capita no Brasil é de R$ 38,3 mil, nos municípios-prioritários de desmatamento é de R$ 24,2 mil (dados de 2018). Enquanto o resto do Brasil recebe R$ 161 per capita como apoio do programa Bolsa Família, os municípios da linha reta recebem R$ 239 per capita (dados de 2019)**. Onde a miséria e o abandono gracejam em “linha reta”, a curva do desmatamento se aplaina e finca raiz.

*Daniel Vargas é professor da FGV-EESP e Coordenador do Observatório da Bioeconomia da FGV.

** Valores monetários corrigidos pelo IPCA para preços de 2021. PIB corrigido pelo deflator implícito para preços de 2020.

***as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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