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Se a fixação biológica de nitrogênio e o uso de leguminosas forrageiras já era bom negócio para o ambiente, agora essas práticas estão ainda mais interessantes para o bolso do produtor. Isso porque o preço do nitrogênio subiu mais de 200% em comparação aos praticados no início de 2021.

Isso se deve, em grande parte, à pandemia de Covid-19, que trouxe como consequência uma grande disrupção das cadeias de suprimentos globais. Esse fator, associado a uma crise energética, tem provocado escassez na oferta de fertilizantes utilizados na agricultura, ocasionando uma alta substancial nos preços desses insumos. Os agricultores brasileiros têm pela frente o grande desafio de buscar alternativas para substituir as fontes de adubos nitrogenados para produção agrícola, sob pena de verem as produtividades despencarem, com forte redução nas margens de lucro.

Vozes do Agro (Foto: Arte/Globo Rural)

 

O nitrogênio é um nutriente que apresenta grande impacto sobre a produtividade e a qualidade dos produtos agrícolas, razão pela qual os adubos nitrogenados são os mais demandados na agricultura.

Existem diversas formas e fontes para suprir esse nutriente, sendo a adubação nitrogenada, que utiliza fontes minerais solúveis, a mais comum. Adicionalmente, as fontes orgânicas podem atender parcialmente as demandas por nitrogênio dos cultivos, por meio da mineralização da matéria orgânica presente no solo. De forma geral, em sistemas agrícolas bem manejados, a mineralização de nitrogênio contribui com valores que atingem até 180 kg/ha/ano, o que possibilita, por exemplo, a produção de nove toneladas de milho por hectare.

A redução da fertilização nitrogenada pode ser alcançada pelo incremento do nitrogênio natural no solo. O uso de leguminosas, como plantas de cobertura, em sistemas agrícolas é uma das formas mais efetivas para incorporar nitrogênio no sistema, resultando em grandes quantidades do elemento para a cultura comercial sucessiva. Isso proporciona incrementos significativos na produção e ainda contribui para a saúde do solo.

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Entre as principais espécies de leguminosas forrageiras que podem ser utilizadas em sistemas agrícolas destacam-se: Arachis pintoi (amendoim-forrageiro), Cajanus cajan (feijão-guandu), Stylosanthes guianensis, Stylosanthes macrocephala e Stylosanthes capitata (estilosantes). Comercialmente, estão disponíveis os cultivares Arachis BRS Mandobi, Arachis cv. Belmonte, Guandu BRS Mandarim, Estilosantes BRS Bela e Estilosantes Campo Grande. Essas cultivares podem contribuir com até 150kg a 250 kg N/ha/ano, quando introduzidas nos sistemas agrícolas em estande puro.

Um dos critérios para escolha da fonte de nitrogênio a ser utilizada pelo produtor é o custo da unidade desse elemento aplicado nos cultivos, uma vez que entre as fontes solúveis existe pouca diferença na eficiência agronômica, quando corretamente aplicados. Considerando os preços dos fertilizantes no mês de dezembro de 2021, o quilo de N quando a fonte é ureia é de R$ 17,00 (R$ 6.850,00/t). Quando a fonte é o sulfato de amônio, o custo do quilo de N alcança R$ 23,00 (R$ 5.580,00/t).

Quando comparamos esses valores com os associados ao uso das leguminosas, verificamos que o custo do quilo de nitrogênio aportado pela utilização dessas plantas é inferior ao da ureia e do sulfato de amônio. O custo do quilo desse macronutriente com a utilização do guandu BRS Mandarim é R$ 10,00. O custo do quilo de nitrogênio resultante do uso de estilosantes BRS Bela é de R$ 5,00 e o do estilosantes Campo Grande é de R$ 4,30.

Deve-se considerar, ainda, todas as vantagens adicionais que o uso das leguminosas podem promover nos sistemas agrícolas, notadamente a reciclagem de vários nutrientes e a disponibilização deles de forma mais controlada, em comparação com as fontes minerais de alta solubilidade.

Além disso, o uso de leguminosas e a fixação biológica de nitrogênio (FBN) são práticas que integram o Plano Setorial para adaptação à mudança do clima e baixa emissão de carbono na agropecuária com vistas ao desenvolvimento sustentável 2020 – 2030 (ABC+). Esse plano faz parte dos compromissos brasileiros para mitigação das emissões de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global. Assim, se mexerem no seu nitrogênio, mexa-se em direção às leguminosas forrageiras, aliadas funcionais e ecoamigáveis dos sistemas agrícolas. 

* Marcelo Ayres Carvalho, Claudio Takao Karia, Allan Kardec Braga Ramos são pesquisadores da Embrapa Cerrados.

** As ideia e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural

 
Source: Rural

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