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Ao se discutir alternativas energéticas para um futuro sustentável, o hidrogênio (H), que é o elemento químico mais abundante no universo, é a opção mais lembrada. Comparado aos combustíveis convencionais, o hidrogênio possui o maior conteúdo de energia por unidade de peso, três vezes maior do que a gasolina, com a grande vantagem de não produzir emissões poluentes.

Vozes do Agro: Maurício Antônio Lopes (Foto: Arte/Globo Rural)

 

 

 

 

 

 

 

 

No entanto, e apesar de sua abundância, o hidrogênio só é encontrado em combinação a outros elementos, como na água (combinado ao oxigênio) ou em hidrocarbonetos (combinado ao carbono). Por isso a sua obtenção envolve processos de separação complexos, custos econômicos altos e, muitas vezes, impactos ambientais significativos.

Hoje a maior parte do hidrogênio é produzida a partir de combustíveis fósseis – o chamando “hidrogênio cinza”, que resulta em grandes emissões de CO2. Quando o carbono gerado no processo é capturado, neutralizando as emissões, temos o hidrogênio azul. Só o hidrogênio produzido de fontes renováveis não emite carbono, sendo chamado de “hidrogênio verde”.

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O mercado de hidrogênio vive um momento auspicioso, com vários países anunciando planos de descarbonização e transição energética com a participação desse recurso. Muito embora as rotas tecnológicas do “hidrogênio verde” estejam ainda se consolidando, as pressões pela chamada descarbonização profunda das economias deverá acelerar investimentos na sua produção.

O potencial brasileiro para produção do hidrogênio verde é enorme, considerando a capacidade do país obtê-lo pela eletrólise da água, usando fontes energéticas abundantes por aqui – eólica e solar. É também significativo o potencial brasileiro de produção de hidrogênio por outras rotas renováveis, usando hidroeletricidade, pirólise, gaseificação ou a biodigestão de biomassa.

O hidrogênio obtido de biomassa ou biocombustíveis poderá também ser “esverdeado”, com incorporação de mais valor, na medida em que as emissões de carbono resultantes e os seus impactos sobre os recursos naturais se tornem nulos ou negativos. Tal recurso permitiria, por exemplo, a produção de fertilizantes dependentes de energia fóssil, com baixo impacto ambiental, o que é essencial para a nossa produção agrícola no futuro.

O hidrogênio poderá também revolucionar o nosso setor de transporte, com a inserção de veículos elétricos que não dependam de baterias – que têm alto custo, demandam recargas constantes e produzem impactos ambientais. Já é possível utilizar combustíveis líquidos, como o etanol, em uma célula de combustível que produz hidrogênio e, a partir dele, energia elétrica, sem a necessidade de bateria e sem emissão de carbono.

Imaginemos um futuro em que veículos elétricos que não demandem bateria, possam ser abastecidos em milhares de postos com o nosso brasileiríssimo e renovável etanol de cana-de-açúcar, do qual se extrai hidrogênio e eletricidade com um único dispositivo. Igualmente desejável é a possibilidade de se levar eletricidade a muitos rincões distantes das redes de distribuição, bastando que comunidades possam ter acesso à mesma tecnologia adaptada às suas necessidades.

* Maurício Antônio Lopes é pesquisador da Embrapa desde 1989 e foi presidente da instituição 2012 a 2018

**As ideia e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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