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Participei de um dos primeiros eventos presenciais do setor de proteína animal do Brasil, realizado pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Lá estavam alguns dos mais importantes nomes da cadeia produtiva, grandes pensadores do futuro da alimentação no País e no mundo.

Entre eles, o conhecido Professor Mário Penz, um dos gigantes do agronegócio. Ele comentava estratégias para adequação da qualidade e quantidade de água nos sistemas produtivos e o quanto isso é relevante para a saúde e desempenho dos lotes. Falou brilhantemente sobre o fato de que pequenos controles e ajustes na temperatura, pH e cloro, desinfecção, cuidado com as tubulações e instalações podem fazer toda a diferença para expressar o maior potencial das aves, e isso se reflete totalmente em economia de recursos e qualidade de produto.

 

Em outra conversa sobre inovações, o professor Penz comentava sobre uma solução desenvolvida para redução de emissões. Pela estratégia, com o uso de enzimas e aminoácidos sintéticos disponíveis, na proporção de 1% do total de ração ofertada, é possível uma redução de emissões de CO² de até 6%, em alguns casos.

Ainda no evento da Asgav, em outra apresentação, a diretora técnica do Instituto Ovos Brasil, Daniela Duarte de Oliveira, contou um pouco sobre o desenvolvimento de genética no setor de postura. Ela comentou de evoluções genéticas que resultaram na produção de ovos com qualidades específicas de clara de ovo/albúmen, que resultaram em um produto para a indústria de alimentos que reduz o tempo de utilização de máquinas batedeiras, para a produção de merengue. Consequentemente, menos energia será necessária para obter o mesmo produto, com a mesma qualidade.

Em comum, além de brilhantes inovações, os casos acima são notáveis aplicações de conceitos que fundamentam conceitos de sustentabilidade. São pontuais, mas enormes em ganhos no sistema produtivo de 6,5 bilhões de aves e 54 bilhões de ovos, anualmente.

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São visões que se unem a outras já consagradas no setor, como é o caso da economia circular presente na transformação de dejetos da pocilga em energia elétrica, a partir do metano. Nas granjas avícolas, a energia fotovoltaica está cada vez mais presente como um atrativo sustentável e financeiramente atraente, especialmente em tempos de tarifa energética elevada. Tais soluções contribuíram para que o Departamento de Agricultura do Reino Unido reconhecesse que um quilo de carne de frango brasileira entregue na gôndola inglesa demanda menos emissão de CO² que o produto local.

Estas práticas ganharam impulso em uma iniciativa idealizada pela ABPA junto aos seus associados. É o Programa ABPA de Incentivo às Práticas Sustentáveis. Com treinamentos e materiais educativos, a iniciativa quer ampliar a adoção de soluções sustentáveis ao longo de toda a cadeia produtiva, desde as empresas de menor porte até as maiores agroindústrias. Tem em seu escopo orientações para implantação de sistemas de energia fotovoltaica e orientações para o total cumprimento das legislações vigentes. Em breve, também tratará do uso da água, biodigestores, controle de emissões, entre outros.

Por si, o programa não traz inovações. Mas é em sua essência que acredito que está o seu ponto mais forte para alcançar seus objetivos. O programa apela por ações simples que, aplicadas por todos, levam a conquistas maiores. Somada a outra iniciativa da ABPA – o Família Integrada, um programa de educação à distância para produtores de aves e de suínos – tem o propósito de simplificar ideias para torná-las mais acessíveis.

Em ano de COP-26, de Expo Dubai e de anúncios de programas voltados à agenda ESG, sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, a sustentabilidade precisa ser acessível a todas as empresas, mesmo por meio de pequenas iniciativas. Entender que cada iniciativa com este propósito conta é fundamental para que ela prospere em todos os elos da cadeia produtiva, da grande empresa ao pequeno produtor. Afinal, a sustentabilidade também está nas pequenas iniciativas.

*Ricardo Santin é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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