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O presidente do Sistema Famato (Federação da Agricultura do Estado do Mato Grosso), Normando Corral, disse, nesta terça-feira (14/12), que ninguém no mundo pode impedir o produtor do Mato Grosso de desmatar suas terras porque ele já obedece a lei ambiental mais restritiva do mundo, o Código Florestal.

“Por que não comprar produtos de áreas desmatadas? Temos direito de usar nossos recursos naturais, nosso solo, chuvas. E, se não querem que a gente use, que nos paguem, porque isso é um recurso natural do país. Isso [proibir] seria tomar parte do nosso patrimônio”, disse o paulista Corral, que é agricultor e pecuarista em Tangará da Serra (MT) desde 1982.

Lavoura de soja (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

 

Segundo ele, a relação entre produção agropecuária e meio ambiente se tornou na verdade um palco de teatro e a estratégia dos produtores para responder a isso é mostrar a realidade da produção no Mato Grosso. “Não temos receio de mostrar a nossa produção, que é feita de forma ambientalmente correta e socialmente justa.”

Corral destacou que Mato Grosso é o maior produtor do Brasil de soja, algodão e milho usando apenas 12% do seu território e tem o direito de utilizar mais que isso. “O que é ilegal é uma questão mínima, que não cabe ao produtor rural. Onde é esse desmate, como, quanto e como é feito? Tem legislação e a polícia para proibir isso”, ressaltou.

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O presidente da Famato fez questão de afirmar ainda que o país detém o maior conhecimento em produção de agricultura tropical do mundo, com a realização de duas safras por ano. “Só esse tipo de agricultura é capaz de responder à necessidade de aumentar a produção mundial de alimentos no mundo porque os países de clima temperado já exauriram sua produção.”

As declarações foram dadas durante coletiva de balanço e perspectivas da agropecuária do Estado, ao responder a uma questão sobre a tendência de exigências crescentes dos mercados internacionais em relação a critérios de sustentabilidade e desmatamento na região Amazônica.

Normando Corral, presidente da Famato (de terno cinza): "O que é (desmatamento) ilegal é uma questão mínima, que não cabe ao produtor rural" (Foto: CNA)

Comentando as declarações de Corral, Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima e do MapBiomas, disse que ninguém está impedindo que o produtor de Mato Grosso desmate as suas áreas, mas os clientes e compradores têm o direito de decidir se querem comprar produtos oriundo de desmatamento, seja legal ou ilegal.

Ele vê uma inconsistência na declaração, já que, como já foi repetido por todos os ministros da Agricultura nas últimas duas décadas, inclusive a titular atual, Tereza Cristina, o Brasil não precisa desmatar mais nenhuma árvore para aumentar a sua produção.

“Mas, mais importante que tudo isso, é que os principais prejudicados pelo desmatamento somos nós, brasileiros, porque o desmatamento está reduzindo a disponibilidade de água no Brasil (que já diminuiu 15% desde 1991) com reflexos cruciais na segurança energética, saúde e na produção rural. Além de fazer do Brasil o quinto maior emissor de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global e amplificam os impactos da escassez hídrica”, disse Veloso.

Há um mês, dados oficiais registraram um crescimento recorde de desmatamento entre agosto de 2020 e julho de 2021, em relação ao período anterior, com 13.235 km². Foi a maior alta desde 2006.

Mercado europeu

As pressões sobre o agronegócio brasileiro não são recentes, mas ganharam novo capítulo há um mês, quando a Comissão Europeia adotou novas regras para garantir que apenas produtos livres de desmatamento sejam permitidos no mercado da União Europeia. Segundo o chamado “Acordo Verde Europeu”, o principal impulsionador do desmatamento é a expansão agrícola ligada a produtos como soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau e café. O Brasil é grande exportador de todos esses produtos, inclusive para a Europa.

A defesa do desmatamento identificado como legal já foi feita antes por outros integrantes do agronegócio, como o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja-Brasil), Antonio Galvan, que também é de Mato Grosso, e pelo diretor de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias.

Respondendo ao Acordo Verde Europeu, a Aprosoja disse que a medida era um protecionismo comercial disfarçado de preocupação ambiental e uma afronta à soberania nacional por colocar na mesma vala a conversão de uso do solo permitido em lei e o desmatamento ilegal, que já é punido pela legislação ambiental brasileira.

Já Ananias afirmou que o país só tem que zerar o desmatamento ilegal, já que o Código Florestal regula quanto o produtor deve conservar em cada bioma.
Source: Rural

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