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A falta de chuva que provoca perdas na agricultura do Rio Grande do Sul está levando municípios a declarar Estado de Emergência. Julio de Castilhos, na região central, tomo a medida na última segunda-feira (6/12), informa a secretária de Agricultura, Ana Paula Alf Lima. No município, o clima desfavorável afeta lavouras de milho e deve prejudicar também plantações de soja e pecuária leiteira.

Falta de chuva prejudica lavouras no Rio Grande do Sul e levou municípios como Julio de Castilhos a declarar estado de emergência (Foto: Ana Paula Alf Lima)

 

Ana Paula afirma que, nos últimos dois anos, Julio de Castilhos teve 38% a menos de chuva acumulada. “Neste ano, por exemplo, nós deveríamos ter tido uma precipitação acumulada em torno de 138 milímetros em novembro e não tivemos nem 30 milímetros. E isso aliado com as altas temperaturas afeta tanto o desenvolvimento do milho quanto da soja.”

A quebra de safra do milho não é exclusiva da região central do Estado e deve atrapalhar a repetição de uma safra recorde, segundo o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira. É a terceira quebra consecutiva da lavoura, que fechou 2020/21 com uma produção de 4,3 milhões de toneladas e uma demanda adicional de 7 milhões de toneladas para abastecer suas cadeias de suinocultura e avicultura.

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“A previsão era colher a melhor safra de milho da história, mas essa seca prolongada justamente na época de enchimento de grãos é muito preocupante. Só as lavouras com pivô estão se desenvolvendo bem. Se não chover nos próximos dias, a perda será irreparável”, lamenta Pereira. Ainda assim, a Farsul divulgou na quinta-feira (9/12) uma previsão de safra recorde de grãos no Estado no ciclo 2021/2022.

Oficialmente, a Farsul não faz uma estimativa da quebra. A justificativa é que as entidades oficiais, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que divulgou nesta quinta sua terceira estimativa de safra com revisão para cima do número para o milho de verão, ainda não fizeram isso. Em entrevista à Globo Rural um dia antes, no entanto, Hamilton Jardim, um dos diretores vice-presidente da Farsul, disse que os estragos causados pelo fenômeno La Niña, com dias muito quentes e pouca chuva, podem causar uma redução de mais de 50% na safra de milho em relação ao ano passado.

A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS) divulgou um levantamento feito no final de novembro pela Rede Técnica de Cooperativas (RTC) do Estado, com 20 das 31 associadas, que apontou uma perda média de 29,4% na produtividade do milho de sequeiro plantado logo no início do calendário, com potencial de ultrapassar 80%. Já nas plantações irrigadas, a estimativa de perda é de 4% na média, com possibilidade de chegar a 20% em algumas regiões, especialmente no Centro, Noroeste e Planalto.

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“Desde o levantamento, não houve chuva e as condições das lavouras de milho se agravaram. Infelizmente, a tendência é que só poderemos contar com a produção irrigada, que não chega a 10%”, diz Paulo Pires, presidente da Fecoagro. Segundo ele, a expectativa com o milho era grande, já que houve aumento de 7% na área plantada, mas deve se repetir o que houve nas duas últimas safras em que a produção não passou de 4 milhões de toneladas, 2 milhões a menos que a média.

O dirigente diz que, antes das quebras consecutivas, o Rio Grande do Sul importava de outros Estados de 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas para suprir sua demanda anual de milho. “Com as quebras de safra, nossa importação subiu para 6 ou 7 milhões de toneladas. E ainda temos que considerar no próximo ano um aumento de demanda com o crescimento das cadeias de suínos e aves.”

Leite e soja

Lavoura em Julio de Castilhos. Município gaúcho declarou estado de emergência (Foto: Ana Paula Alf Lima)

 

Julio de Castilhos, o município de 19,5 mil habitantes que já decretou estado de emergência, é um dos maiores produtores de leite da região central e o segundo maior produtor de soja. Segundo a secretária municipal da Agricultura, 99% da receita vem do setor primário, sendo quase 75% da soja e milho, mais trigo e produção de gado de corte e leite.

Ana Paula Alf Lima afirma que os agricultores não estão conseguindo plantar a soja por falta de umidade e as áreas já plantadas não estão tendo a germinação da forma correta, o que deve provocar a necessidade de replantio. As perdas na produção de leite no município já são estimadas entre 30% e 40% devido à quebra de produção do milho silagem.

“A vaca precisa do milho para alimentação e de água para produção de leite, então o prejuízo é grande. Sem falar que o pouco de leite que sai, por conta da alimentação que não é adequada, aumenta a acidez e as empresas laticínios começam a pagar menos pelo produto”, diz ela.

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Na safra 2020/2021, os produtores da cidade plantaram 100 mil hectares de milho com rendimento de 80 sacos por hectare (safra 2020/21), uma queda de 10% em relação ao período anterior. A expectativa de recuperar essas perdas agora já foi frustrada e o resultado pode ser ainda pior, segundo a secretária. “E se não bastasse a falta de chuvas, já temos bastante incidência da praga da cigarrinha do milho.”

Segundo a secretária, a decretação do estado de emergência é uma forma de o município justificar por que não vai respeitar as janelas de plantio e vazio sanitário e também de os produtores terem argumentos para o não pagamento de financiamentos. Além disso, ela conta com o decreto para pedir ajuda ao governo do Estado para o abastecimento de água para pessoas e animais das comunidades rurais.
Source: Rural

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