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Velha conhecida dos agricultores, a cigarrinha do milho ganhou força na safra 2020/2021, quando o tempo quente e seco e as más condições das lavouras favoreceram a disseminação das doenças provocadas pelo inseto.

Milho espontâneo em lavoura de soja no norte de Mato Grosso facilita a disseminação de doenças provocadas pela cigarrinha (Foto: Rogério Albuquerque/Ed. Globo)

Encontrada pela primeira vez em regiões produtoras do Sul e do Centro Oeste do país, a praga não possui produto químico registrado para controle dos vírus e bactérias transmitidos para a plantação. Há apenas inseticidas usados no controle do inseto.

Em um cenário de avanço da praga e dificuldades na aquisição de inseticidas, produtores rurais de várias regiões estão preocupados, já colocando em dúvidas as projeções de safra cheia no ciclo 2021/2022, para quando se espera uma recuperação da colheita brasileira do cereal. Para orientar o manejo, a Embrapa e a CropLife Brasil, entidade que representa a indústria de sementes e químicos, fizeram um manual com dez orientações de manejo das lavouras contra a cigarrinha do milho. Veja abaixo.

Cartilha de boas práticas contra a cigarrinha do milho elaborada pela Embrapa em parceria com a CropLife (Foto: Reprodução)

 

“A cigarrinha se locomove muito fácil, ela é pequena, fácil de voar no vento, então está sempre procurando por plantas novas de milho, saindo das lavouras mais antigas e infectadas e contaminando plantas novas”, explica o gerente de educação e boas práticas agronômicas da CropLife Brasil, Roberto Araújo. Junto com a Embrapa, a entidade representativa do setor de agroquímicos formulou uma cartilha com dez medidas para se proteger da cigarrinha na safra 2021/22. “E não adianta fazer oito dessas práticas e deixar duas de fora porque você vai estar deixando espaço para a cigarrinha se proliferar”, ressalta Araújo.

 

Controle do milho tiguera

Considerado uma planta daninha quando nasce de forma espontânea na lavoura de soja, o milho tiguera é resultado de restos da colheita anterior que permanecem no campo. Ao longo do tempo, a planta se torna hospedeira do vírus e bactérias danosas às lavouras e que serão transmitidas pela cigarrinha. “Tem que manejar esse milho tiguera, tentar eliminar essa planta ou aquele milho que está no meio da soja porque além de competir com a soja, ele vai ser um reservatório de cigarrinha e molicutes para o milho”, explica o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Luciano Viana Cota.

 

Mantenha distância

Nesse mesmo sentido, o fitopatologista ressalta que é importante manter distante as lavouras mais novas daquelas já infestadas, já que a cigarrinha tem uma tendência de migrar para o milho precoce e nas fases iniciais de desenvolvimento. “A planta de milho vai sofrer quanto mais cedo essa infecção ocorrer, quanto mais nova ela é infectada mais dano ela sofre porque os molicutes [bactérias que atacam o milho] vão ter mais tempo para se multiplicar no interior do floema”, explica Cota.

 

Trate bem suas sementes

Ou seja, quanto mais cedo for feita a prevenção contra a cigarrinha, melhor. Com isso, os especialistas destacam a importância de adquirir sementes de boa procedência e fugir de produtos piratas. “Temos relatos de empresas associadas que foram notificadas e quando foram investigar o que estava acontecendo descobriram que a embalagem era falsa. Ou seja, quem vendeu ao produtor vendeu de má fé, afirmando que a semente tinha tolerância quando a semente nem era daquela empresa”.

 

Plantas tolerantes

Outra medida importante é verificar a possibilidade e usar variedades mais tolerantes às doenças provocadas pela cigarrinha caso o produtor encontre-se numa região sob forte pressão da praga. “As mais tolerantes talvez não sejam as mais produtivas, então o produtor tem que fazer escolhas. Não é uma cosia fácil porque o produtor está acostumado a plantar a semente de milho e pronto. E agora não, ele vai ter que ter mais cuidado e mais atenção”, observa Araújo.

 

Plantio sincronizado

Uma das principais armas contra a cigarrinha é uma ferramenta criada milênios antes de cristo: o calendário. Tal qual ocorre com a soja, cujo cultivo é restrito a um período do ano apenas para evitar a disseminação da ferrugem asiática, o pesquisador da Embrapa destaca a importância de evitar mais de um plantio de milho na mesma área no mesmo ano-agrícola.
“A gente sabe que é difícil porque o produtor vai plantar de acordo com a capacidade de maquinário que ele tem, mas ao plantar milho em diferentes épocas a tendência é a cigarrinha ir migrando de lavouras mais velhas para as que estão sendo plantadas mais tarde e, nesse processo, a gente tem uma maior probabilidade de estar chegando cigarrinhas infectadas”, alerta Cota.

 

Esteja atento

O monitoramento das lavouras ganha um peso adicional quando se trata da cigarrinha do milho. É nas fases iniciais de desenvolvimento que o controle do inseto deve ser feito, sobretudo entre as fases de crescimento vegetativo. “É extremamente importante durante a fase vegetativa do milho, pelo menos até V8 a V10 fazer um bom monitoramento da lavoura detectando a presença de cigarrinha, e fazer as aplicações de inseticidas recomendadas, seja químico ou biológico. Passou essa fase pra frente já não tem muito mais o que fazer”, destaca o pesquisador da Embrapa.

 

Rotacione os modos de ação

Quando o assunto é cigarrinha, não existe fidelidade a um ou outro produto. A recomendação dos especialistas é rotacionar as medidas de controle químico para evitar o surgimento de insetos resistentes aos produtos existentes no mercado. “É importante entender que a gente está lidando com biologia, esses animais se adaptam, evoluem e arrumam mecanismos para romper essa tolerâncias”, completa o gerente de educação e boas práticas agronômicas da CropLife Brasil.

 

Evite perdas

Se o controle do milho tiguera durante o desenvolvimento das lavouras de soja e algodão é um dos pilares no controle da cigarrinha, evitar que ele apareça é ainda mais importante. Por isso, a recomendação dos especialistas é manter o maquinário bem calibrado e com a manutenção em dia para evitar que restos da colheita fiquem no campo, dando margem ao surgimento de plantas espontâneas no ano seguinte.

 

Transporte

O mesmo vale para o transporte até portos e armazens. Afinal, o milho voluntário que surge na beira da estrada também será um potencial hospedeiro da cigarrinha e dos microorganismos responsáveis pelo enfezamento das lavouras.

 

Parcimônia

Por fim, é preciso rotacionar o cultivo do milho com outras culturas, quebrando o ciclo de reprodução da cigarrinha e das doenças que afetam as lavouras através do inseto. “O milho é uma cultura que foi ganhando importância econômica no Brasil a cada safra que foi passando e hoje se planta milho no Brasil praticamente o ano inteiro. Isso tem feito com que se crie na natureza uma paisagem agrícola favorável para proliferação desse tipo de problema”, completa Araújo.
Source: Rural

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