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Elas não são somente cenários bonitos, as florestas brasileiras abrigam uma grande e exuberante biodiversidade e oferecem à sociedade vários benefícios, chamados de serviços ecossistêmicos, como a garantia da oferta de água, a proteção do solo, o abrigo a polinizadores de culturas agrícolas e agentes biológicos que podem fazer o controle natural de pragas, entre outros.

 

As florestas também têm uma importante participação na regulação do clima, por sequestrar o carbono da atmosfera e armazenar em sua biomassa, evitando maior aquecimento da Terra. Como dá para perceber, os alimentos, as fibras e a energia que o agro produz estão relacionados à conservação das florestas.

Além dos serviços ecossistêmicos, a vegetação nativa provê produtos que incrementam a alimentação, o bem-estar e a renda de forma direta (94 espécies florestais são oficialmente reconhecidas como plantas alimentícias, inclusive para comercialização).

O desmatamento associado a uma exploração não-sustentável dos recursos naturais provocou a substituição de ecossistemas naturais por outros usos do solo. A necessidade de recuperar ambientes degradados motivou a Organização das Nações Unidas (ONU) a declarar o período de 2021 a 2030 a Década da Restauração de Ecossistemas, quando serão estimuladas e intensificadas ações com esse objetivo.

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O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, e a agropecuária brasileira pode contribuir com essa meta, principalmente com a recomposição de áreas de preservação permanente (APP) e de reserva legal nos imóveis rurais, em conformidade com a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (conhecida como Código Florestal), que traz diretrizes que favorecem o equilíbrio entre produção agropecuária e conservação.

Todo proprietário rural deve fazer o preenchimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR), e, se precisar recompor suas áreas, deve aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), possibilitando acessar o crédito agrícola e o seguro rural. Implantados pelos estados, os PRAs orientarão os produtores a restaurar a vegetação nativa e realizar a adequação ambiental dos imóveis rurais.

O plantio de mudas e a semeadura direta de espécies nativas são as técnicas de restauração mais conhecidas, mas podemos adotar a condução da regeneração natural, aproveitando o potencial de recuperação da própria vegetação nativa. Sistemas Agroflorestais (SAFs), que permitem a integração de culturas anuais com espécies arbóreas nativas, também podem ser usados na recomposição das áreas, e contribuem simultaneamente para o aumento da segurança alimentar e da renda do produtor. Independentemente da técnica escolhida, é fundamental monitorar e conduzir a restauração para que as funções do ecossistema sejam restabelecidas.

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A restauração reúne os benefícios econômicos e sociais aos ecológicos. A coleta de sementes de espécies nativas das florestas da propriedade é uma boa oportunidade de renda, dada a baixa oferta atual de sementes para a restauração de nossas florestas. Mecanismos de incentivo à restauração de ecossistemas nativos vêm sendo discutidos e implantados para remunerar os proprietários rurais que recuperem ou conservem vegetação nativa, como o pagamento por serviços ambientais (PSA) e o mercado voluntário de carbono.

Como sociedade, já estamos pagando pela perda dos serviços ecossistêmicos e mudanças do clima, pela água mais escassa, a falta de chuva nas lavouras, o aumento do custo da energia e até a redução da competitividade dos produtos brasileiros nos mercados internacionais. O desequilíbrio ambiental provoca ainda impacto negativo na saúde e bem-estar das pessoas conforme o conceito de Saúde Única, segundo o qual o equilíbrio ambiental e a saúde humana estão interligados. O engajamento da sociedade e poder público na Década da Restauração é fundamental e necessário, demandando todo compromisso e conhecimento disponível, do tradicional ao científico.

*Luiz F. Morais é pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Sônia Jordão é pesquisadora da Embrapa Amapá e Milton Kanashiro é pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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