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No ano em que o PIB do agro cresceu 24%, bateu recorde e respondeu por quase 30% das riquezas produzidas no país, o desempenho das maiores empresas do agronegócio brasileiro não poderia decepcionar. Com um salto nominal de 18% na receita líquida consolidada, o resultado das 500 maiores também ultrapassou sua marca histórica e, pela primeira vez, superou a barreira do trilhão de reais. Na ponta do lápis, a soma da receita líquida bateu exato R$ 1,091 trilhão, segundo levantamento da Serasa Experian para o Anuário dos Melhores do Agronegócio, da revista Globo Rural, com um incremento de mais de R$ 100 milhões na comparação com o ano anterior.

Em 2020, a receita das maiores do agro atingiu R$ 1,002 trilhão, uma alta de 18% e mais de R$ 100 milhões (Foto: Getty Images)

 

A evolução dos negócios das maiores empresas ficou em linha como ritmo de crescimento da agropecuária brasileira, apesar das dificuldades logísticas e de mão de obra, especialmente nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. Segundo o Ministério da Agricultura, o Valor Bruto da Produção (VBP) cresceu 17% em 2020 e atingiu R$ 1,002 trilhão. Nas lavouras, houve crescimento médio de 22%, enquanto os segmentos de proteína animal avançaram, também em média, 8%. Entre os setores mais problemáticos, por sua vez, estão os hortifrútis e o de flores, atingidos em cheio pelas medidas de lockdown impostas pela pandemia.

No front internacional, as coisas foram particularmente bem. Com recordes de preços e de volumes de produção, as exportações do agro, em 2020, somaram US$ 100,8 bilhões. Com esse resultado, não chegaram a romper o teto histórico, de US$ 101,2 bilhões, registrado em 2018, mas foi por pouco. Em compensação, os dólares chegaram valendo 41% a mais em reais, em média, cotados a R$ 5,15 no ano passado, frente a um dólar médio de R$ 3,65 em 2018. A essa altura, vale lembrar, o país convivia com taxas de inflação de um dígito – para ser exato, de 3,75%, em 2018, e 4,31%, em 2019, conforme a variação do IPCA (Índice de Preçosao Consumidor).

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“O agro no geral foi muito bem”, comenta o engenheiro agrônomo José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro. “Claro que tivemos problemas localizados, mas isso foi resolvido, e conseguimos ter um desempenho muito satisfatório”, diz Hausknecht, que destaca as dificuldades enfrentadas pelos frigoríficos, no Brasil e no exterior, logo nos primeiros meses da pandemia. “Foi um desafio enorme para continuar operando dentro das regras de controle, mas foi tudo muito bem conduzido, e acabamos servindo inclusive de modelo para outros países”, diz o agrônomo.

Olhando para frente, a expectativa é de um clima mais próximo do normal, com boas safras de soja e na primeira colheita de milho. O maior desafio do ciclo 2021/2022 será provavelmente o fenômeno climático La Niña, apesar de as condições até aqui terem jogado a favor, em matéria de chuvas, especialmente do Estado de SãoPaulo para cima. “O La Niña poderá afetar a produção no sul do país, na Argentina e no Uruguai. Ainda não se sabe qual será a sua intensidade, mas ela aumenta os riscos”, afirma Hausknecht.

Na avaliação do engenheiro agrônomo André Pessôa, da Agroconsult, o período da pandemia, ao colocar mais uma vez o agro sob estresse, serviu para testar algumas das suas qualidades operacionais. E o saldo, avalia Pessôa, teria sido positivo. “O agro brasileiro, em geral, é muito rápido e eficiente, e aí me refiro principalmente ao agro organizado nas várias cadeias produtivas. Durante a pandemia, que foi uma tragédia econômica e humana, conseguiu se adaptar rapidamente e fazer as coisas funcionarem”, considera o consultor, que menciona, entre os sustos da fase inicial, o salto do custo do capital de giro no primeiro mês da quarentena.

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Pessôa destaca o fato de o Brasil ter conseguido ampliar o número de parceiros comerciais mundo afora, e esse seria outro ganho significativo. “Conseguimos vender mais nos mercados em que já estávamos presentes, assim como ampliar mercados, o que foi muito positivo no ano passado, e isso também traz boas perspectivas para o futuro”, diz o consultor, para quem a volta da demanda foi mais rápida do que o esperado, especialmente porque a Ásia rapidamente reagiu ao avanço da pandemia.

 

O consultor destaca o caso do algodão como um dos segmentos que se saíram melhor do que o esperado inicialmente. Com os auxílios financeiros pagos às famílias, no Brasil e no exterior, e medidas de suporte aos negócios, muitos puderam ampliar a demanda. O resultado é que o país bateu recorde de exportação na safra 2020/2021, com crescimento de 23% em relação ao período anterior. E neste ano a indústria têxtil brasileira provavelmente baterá recorde de importação para atender à procura aquecida.

À medida que foram passando os meses, ficou claro que as cadeias produtivas não ficariam em banho-maria por muito tempo. “A indústria têxtil mundial, por exemplo, começou a repor estoques e, além disso, houve uma demanda extra em alguns segmentos, como no caso de cama, mesa e banho, porque muitos começaram a se dar conta de que não trocavam o lençol ou a toalha a cinco, dez anos”, diz Pessôa.

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O agro também se beneficiou indiretamente da liquidez injetada nas economias nacionais, chama a atenção Pessôa, pois uma parcela desses recursos serve de caixa para os fundos de investimentos que, ao tomarem suas decisões de compra de ativos, contribuíram para inflar ainda mais os preços das commodities. “A própria expectativa de inflação também ajuda os preços das commodities, que são vistas como uma proteção contra a inflação para alguns gestores”, diz o consultor, para quem as dificuldades com energia e custo de logística também colaboraram para a alta dos preços.

As interrupções nas cadeias produtivas, no caso do agro, afetaram principalmente os fornecedores de defensivos e fertilizantes, mas também de máquinas agrícolas. “Se você precisa trazer um produto e o frete quintuplicou, ou se não existem contêineres para trazer, então isso vai impactar os custos. Ou quando sobe o custo do gás natural, que é um insumo importante da ureia, vai subir o custo final”, diz Pessôa, da Agroconsult.

A safra 2022/2023 preocupa devido à alta dos custos, tanto de fertilizantes como de defensivos. Nesse caso, o forte crescimento dos últimos anos também ajuda a explicar os gargalos atuais. Nos últimos dois anos, pelas contas da Agroconsult, as importações de fertilizantes cresceram, em média, 4,5 milhões de toneladas anualmente.

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“Estávamos acostumados a crescer 1 milhão de toneladase, de repente, crescemos mais de 4 milhões, então, alguma coisa acaba saindo errado, a menos que estivesse tudo muito coordenado, planejado”, afirma Pessôa. “A verdade é que também está faltando máquina agrícola no mundo inteiro a essa altura, e no Brasil mais ainda, pela velocidade de crescimento”, afirma o consultor.

Outro exemplo mencionado de alta dos custos é o da soja. Saiu de um custo de produção de R$ 3,5 mil por hectare, na safra 2020/2021, e está custando R$ 4,5 mil por hectare, na safra 2021/2022. E custará, no ciclo produtivo 2022/2023, cerca de R$ 5,5 mil por hectare. E, no caso do milho safrinha, a situação é semelhante, com um aumento significativo para o plantio previsto para começar em janeiro.

Na avaliação de Maurício Palma Nogueira, sócio-diretor da Athenagro Consultoria, a pecuária foi menos afetada pela pandemia do que os demais segmentos do agro. E isso porque o setor já vinha sendo impactado pela demanda aquecida nos principais mercados internacionais, em decorrência da peste suína na China e da consequente alta da demanda por proteínas animais produzidas no Brasil. “Agora, a principal preocupação está relacionada à logística, como no caso dos portos. No caso das proteínas, a gente vê que existe uma perspectiva de longo prazo ainda favorável”, diz Nogueira.

Já a “bola de cristal” do economista Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do banco francês BNP Paribas, enfrenta dificuldades, sendo a maior estimar para onde irá o dólar nos próximos meses e, mais grave ainda, ao longo do próximo ano e suas esperadas turbulências eleitorais.

“A expectativa é que o PIB do agro chegue a crescer 5% em 2022, essa é uma boa notícia. Do outro lado, vamos ter um processo eleitoral, o que gerará impacto no ambiente econômico”

GUSTAVO ARRUDA

O fato de a pandemia ter piorado as contas públicas, como ocorreu nos demais países, teve o efeito negativo de minar os ganhos da Reforma da Previdência. Com a trajetória mais explosiva do déficit público, há menos espaço no orçamento, o que tende a aumentar as tensões sociais, destaca Arruda. “A expectativa é o PIB total crescer 1,5% em 2022, mas com alguns analistas já falando em 0,5% de crescimento. E as cotações das commodities devem continuar elevadas, mas não irão continuar a subir”, avalia Arruda.

Ele acredita que o dólar deve seguir com fortes oscilações, porém, em um patamar próximo do atual, apesar de o mercado entender que haveria espaço, em termos macroeconômicos, para uma cotação mais próxima de R$ 4,50 ou até menos. “A cotação poderá cair, a depender da evolução do cenário eleitoral, e isso poderá ser uma questão para o agro lá na frente”, diz o economista.

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Source: Rural

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