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O aumento de custos que atingiu diversos setores do agronegócio não poupou a indústria de produtos à base de plantas. Os chamados plant-based, produtos substitutos de proteínas animais, também vem sentindo os efeitos da oferta e demanda mais apertada e do aumento de preços de itens usados como matérias-prima, como ervilha, lentilha e grão-de-bico.

De janeiro de 2020 a outubro de 2021, a ervilha passou de US$ 650 a US$ 950 a tonelada no Porto de Santos, segundo o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Já o preço da lentilha foi de US$ 685 para US$ 1.400 por tonelada no período. Maior produtor mundial (37%), o Canadá atingiu o menor nível de oferta em 2021, com perda de 31%. As exportações canadenses estão em torno de 1,8 milhões de toneladas na safra atual, ante 2,3 milhões na última temporada.

Ervilha é um dos ingredientes bastante utilizados como matéria-prima de alimentos plant-based (Foto: Getty images)

 

Os pulses, como são chamadas essas leguminosas, estão mais caros porque a oferta estrangeira está mais enxuta. Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe, destaca ainda que a produção de feijão também vem caindo na América do Norte. “A oferta ficará mais enxuta no mercado internacional”, destaca. Nos Estados Unidos e no Canadá, houve perdas de 17% em área e 19% na produtividade na safra 2021/2022, diz ele.

“Os preços seguem apertados, o que é uma realidade não somente nossa, mas de toda a indústria de alimentos”, observa Sérgio Pinto, diretor de Inovação e Novos Negócios da BRF. Marca da companhia, a Sadia entrou no mercado de plant-based ano passado, com dois itens e proteína importada. Neste ano, ampliou o portfólio para dez opções, buscando as matérias-primas no próprio país.

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Hoje, hambúrgueres vegetais e outros produtos meat-free custam três vezes mais que os tradicionais, à base de carne. Apesar da alta de custos, representantes da indústria afirmam que têm conseguido segurar o repasse para o preço final dos produtos que chegam no varejo. “A gente está conseguindo segurá-los por uma questão de nacionalização dos itens”, pondera Pinto. “Nossos preços estão nos mesmos níveis de quando a categoria surgiu, em 2019”, acrescenta.

Foodtech criada naquele ano, a R&S Blumos produz proteína vegetal a partir de soja, ervilha e feijão. É um dos principais fornecedores de comida plant-based no país Responsável pela “tinta proteica”, isto é, a base vegetal do frango meat-free da BRF, a companhia produz 100 toneladas de proteína vegetal por mês, na linha de produção principal, com planos de chegar a 500 toneladas, por meio da extrusão seca ou úmida do grão e pulses.

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Diretor da empresa, Fernando Santana classifica o cenário como um quebra-cabeça, já que o Brasil, sendo um grande produtor de soja, também é um fornecedor de matérias-primas para produtos à base de plantas. Ele reforça a avaliação de que a internalização de ingredientes que servem de base para os produtos vegetais tem ajudado a segurar preços.

“Não obstante o dólar alto, nós agregamos cada vez mais valor aqui no Brasil. Então, em vez de importar uma matéria-prima texturizada de ervilha, nós conseguimos criar aqui o concentrado proteico — mesmo que o ingrediente venha de fora, eu faço o produto no Brasil, reduzindo os custos”, afirma.

Novas tecnologias

O mercado plant-based vem crescendo, no mundo, a um ritmo de 11,1% anuais nos últimos cinco anos, segundo pesquisa da Euromonitor. O faturamento do setor, de US$ 48,8 milhões em 2015, passou para US$ 82,8 milhões em 2020 (quase 70% a mais). Para 2025, a estimativa é que o segmento gere US$ 131,8 milhões, três vezes mais que o açaí. No Brasil, as empresas vêm ampliando seu leque de produtos e invstimentos em hambúrgueres vegetais e outros substitutos de carne 100% nacionais. 

O ano de 2019 foi decisivo, segundo o The Good Food Institute (GFI). “A organização do mercado é recente. De um tempo para cá, surgiram novas tecnologias”, analisa o presidente da entidade no país, Gustavo Guadagnini. Ele observa que há cerca de 60 empresas brasileiras envolvidas na produção de itens que têm a soja e os pulses (lentilha, ervilha, grão-de-bico e feijões) como ingredientes básicos. “O valor dos produtos têm diminuído no varejo”, afirma, "graças ao aumento na oferta nacional".

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Uma das principais apostas do país é o feijão. Marcelo Lüders, do Ibrafe, avalia que a demanda por proteína vegetal tende a aumentar e será preciso encontrar um substituto no Brasil. “Ao que tudo indica, é um caminho sem volta”, destaca. O segmento ainda tem a percepção de que seu futuro envolve o feijão”, acrescenta.

Feijão caupi é visto por pesquisadoes como boa alternativa para diversificar matérias-primas para produtos de base vegetal (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

A pesquisadora Janice Lima, da Embrapa, também vê a tendência do plant-based se voltar para o feijão. “O mercado trabalha muito, hoje, com a proteína de soja. Em segundo lugar, a ervilha”, observa.

“O feijão é muito promissor, com a vantagem de ser uma matéria-prima 100% nacional, produzida em todas as regiões, e que pode ser usada em qualquer concentrado proteico”, acrescenta. 

“O Brasil pode, com a diversificação de pulses e feijão caupi, tornar-se um grande player global de plant-based food”, afirma outro pesquisador da Embrapa, Warley Nascimento. “É a nossa leguminosa por natureza”, ele diz.

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Na safra 2021/2022, o Brasil deve colher 3,103 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), levando em conta os três ciclos anuais da cultura nas variedades cores – que inclui o feijão carioca – caupi e preto. 

A Embrapa também vem desenvolvendo culturas alternativas para a produção de plant-based. Um exemplo é a fibra de caju, matéria-prima que rendeu o lançamento de um hambúrguer, o Amazônica mundi, no ano passado. A matéria-prima rendeu a criação de uma coxinha recheada, um empanado e kafta à base vegetal na inciativa privada, segundo Janice Lima.

“Dá uma textura bem interessante aos produtos. E, como é um aproveitamento da indústria de caju, acaba sendo mais barata que outras matérias-primas”, ela diz.
Source: Rural

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