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Pesquisadores querem transformar a Amazônia em um laboratório a céu aberto com a missão de fornecer dados sobre um tópico ainda pouco comprovado: como a Amazônia será ou o que deixará de ser com o aumento do aquecimento global? A fim de responder este e outros questionamentos, brasileiros e britânicos assinaram, nesta segunda-feira (08/11) durante a Conferência do Clima (COP26), um acordo para simular o aumento das emissões de carbono (CO2) na Amazônia e suas consequências.

96 torres de 35 metros de altura, ultrapassando a copa das árvores, e divididas em seis “complexos” em forma de círculo serão instalados na Amazônia por meio da parceria entre Brasil e Reino Unido (Foto: Reprodução/Unicamp)

 

Chamado de AmazonFACE, o projeto pretende instalar uma estação de pesquisa usando a tecnologia Free-Air CO₂ Enrichment (FACE). Experimentos FACE são usados com sucesso em vários locais ao redor do mundo, incluindo Reino Unido e Austrália. Mas é a primeira vez que a experiência será realizada em larga escala em florestas tropicais.

No Brasil, isso significa construir 96 torres tubulares de 35 metros de altura, ultrapassando a copa das árvores. Serão seis desses "complexos", montados na forma de estruturas circulares, na região próxima a Manaus (AM). Baseado em projeções para 2050, esses tubos emitirão na área interna do círculo um volume de CO2 50% maior que o do entorno de cada complexo. Tudo controlado por computador.

A ideia, segundo os responsáveis pelo estudo, é analisar o comportamento da área de floresta delimitada pelo círculo de tubos e tentar antecipar o entendimento de qual seria o resultado sobre a biodiversidade na Amazônia, na hipótese de se confirmar o aumento de emissões de gases de efeito estufa projetado para daqui 30 anos. 

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“Estamos olhando muito o desmatamento, enquanto as florestas estão sendo silenciosamente corroídas pelas mudanças climáticas. E sabemos muito pouco sobre esse processo", alegou Alberto Quesada, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e vice-presidente do AmazonFACE. O INPA trabalhará em parceria com o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, Met Office. 

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Alberto Quesad, vice-presidente do AmazonFACE

De acordo com a Unicamp, membro do comitê científico do projeto, o investimento britânico equivale a R$ 18 milhões. A expectativa dos pesquisadores é que o projeto dure cinco anos, no mínimo. O ideal seria mais tempo, pensando na complexidade dinâmica da floresta e no crescimento de árvores, que é mais demorado. Mas vai depender do aporte de recursos do Reino Unido, que pode ser revisto anualmente.

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Quesada conta que o laboratório está no campo experimental desde 2015, inclusive com árvores já sendo monitoradas para entender todos os processos que podem mudar mediante a maior exposição de gás carbônico. Segundo ele, as projeções indicam que o sequestro de carbono vai diminuir na próxima década e, a partir do investimento europeu, a Amazônia será uma das florestas mais bem estudadas nos trópicos. "Acima e abaixo do solo”, disse ele.

O projeto na Amazônia mantém pelo menos 40 pesquisadores na floresta desde a fase inicial do projeto, em 2015, coordenados pelo INPA (Foto: Reprodução/Unicamp)

 

Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), afirmou que o experimento é muito esperado pela comunidade científica, sobretudo porque deve reduzir as incertezas sobre a relação entre emissões de gases de efeito estufa e mudanças climáticas. “Essa parceria torna-se real em um momento especial, porque, infelizmente, o investimento em pesquisas no Brasil não está acontecendo”, comentou.

Já Richard Betts, membro do Met Office e da Universidade de Exeter, considerou que o AmazonFACE ajudará os países a cumprir as metas da COP26, dando aos cientistas informações cruciais sobre a rapidez com que o dióxido de carbono seria removido do ar pela floresta amazônica no futuro.

Essa parceria UK e Brasil torna-se real em um momento especial, porque, infelizmente, o investimento em pesquisas no Brasil não está acontecendo

Thelma Krug, vice-presidente do IPCC

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Ao fim da apresentação, os painelistas receberam perguntas do público. Uma jovem de 18 anos questionou se toda a infraestrutura das torres não seria invasiva demais e pouco sustentável. Alberto Quesada, do INPA, admitiu que há impactos ambientais nas instalações, mas ponderou que se trata de “uma questão científica para guiar o futuro”.

“É uma pequena área de impacto. Claro que será a mais natural, mas haverá impacto. É uma delicada infraestrutura, mas é por uma boa razão, é algo que a comunidade científica quer para as próximas décadas. Vamos tomar cuidado para deixá-la mais intacta possível e faremos todas as compensações de carbono necessárias”, esclareceu.

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Source: Rural

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