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As emissões brasileiras de gases de efeito estufa em 2020 cresceram 9,5% em relação ao ano anterior. É o que mostra a nova estimativa do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, lançada nesta quinta-feira (28/10), com o objetivo de divulgar o cálculo de quanto o Brasil gerou de poluição climática.

Enquanto no mundo inteiro as emissões sofreram baixa em quase 7% devido à pandemia de Covid-19, com o fechamento de indústrias e redução do transporte; no Brasil, o SEEG calculou em 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) as emissões nacionais brutas no ano passado, contra 1,97 bilhão em 2019. É o maior nível desde 2006.

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Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. (Foto: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas)

 

Dos cinco setores da economia que respondem pela totalidade das emissões, a mudança de uso da terra e o agronegócio apresentaram acréscimos significativos, de acordo com os pesquisadores do Observatório do Clima.

Diretamente relacionadas ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado, as mudanças de uso da terra emitiram 998 milhões de toneladas de CO2e em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019. É por isso que o desmatamento, muitas vezes ligado à abertura de áreas para plantio de grãos e pasto, é o maior desafio do Brasil na COP-26.

A Conferência do Clima, que começa no próximo domingo (31/10), em Glasgow, na Escócia, discutirá se houve avanços desde o Acordo de Paris, na COP-21, quando as nações assinaram compromissos nacionalmente determinados (NDCs) para reduzir o aquecimento global. 

Para o Observatório, as emissões mostram que o Brasil está na contramão. Quando se corta as árvores, o estoque de carbono que estava no solo se transforma de dióxido de carbono e contribui para o aquecimento do planeta. Apenas na Amazônia, foram suprimidos 10.851 km2 em 2020, segundo os dados do sistema Prodes/Inpe, o que culminou na alta de 9,5%.

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“Mudança de uso da terra mais uma vez desponta como a principal fonte de emissão
do Brasil. Dois mil e vinte foi o ano que tivemos as maiores emissões do setor em 11
anos, um reflexo claro do desmonte em curso da política ambiental, que tem
favorecido a retomada das altas taxas de desmatamento”, afirma Ane Alencar,
diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Evolução das emissões de GEE do setor agropecuário por subsetor no período de 1970 até 2020 (Foto: Reprodução/Observatório do Clima-Relatório SEEG)

 

As emissões da agropecuária abarcaram 577 milhões de toneladas de CO2e (27% do total nacional) em 2020, representando alta de 2,5%. Segundo o estudo, isso ocorreu em parte por uma razão contraintuitiva: a crise econômica diminuiu o consumo de carne, com uma redução de quase 8% no abate de bovinos. Isso aumentou em 2,6 milhões de cabeças o rebanho nacional, o que, por sua vez, aumentou também as emissões de metano.

“Embora seja visível o crescimento da implementação de técnicas de agricultura de baixo carbono no Brasil, inclusive com o cumprimento de grande parte das metas do Plano ABC, esse crescimento ainda está aquém dos patamares necessários para que possamos ver a trajetória de emissões do setor ser modificada e demonstrar o real potencial que o Brasil possui em se ter uma agropecuária sustentável e de baixo carbono”, explica Renata Potenza, coordenadora de projetos do Imaflora, organização responsável pelo cálculo das emissões da agropecuária.

Ainda no relatório do SEEG, os autores reforçam que principal conclusão que se pode tirar dos dados é que o Plano Nacional das Mudanças Climáticas (PNMC) foi em vão. Este instrumento oficializou o compromisso voluntário do Brasil junto à COP-21, de 2015, de reduzir emissões de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% das emissões projetadas até 2020. Mas, ao contrário, o que foi visto foi um acréscimo contínuo desde 1970.

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"O pacto nacional formado na época da adoção da PNMC em torno da redução do desmatamento se desfez, e a política de clima nunca adquiriu um grau de institucionalidade que permitisse ao país realmente adotar uma estratégia de desenvolvimento amparada na redução de emissões e em medidas de adaptação à crise climática", aponta um trecho do documento.

Em seguida, mais um número: o desmatamento na Amazônia em 2020 chegou a ser 176% maior do que o compromisso fixado em lei na época do PNMC, "e o governo foi acionado no Supremo Tribunal Federal para cumpri-lo em 2021, o que tampouco aconteceu", conclui o relatório.

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Source: Rural

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