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As vitaminas “subiram e sumiram”. É assim que o gerente de produtos para Aquacultura da Guabi Saúde e Nutrição Animal, João Manoel Cordeiro Alves, resume os eventos recentes no mercado de ingredientes para a suplementação de rações para animais de produção. O que, inicialmente, se apresentava como um problema logístico, com dificuldades para importar esses insumos, está se tornando uma crise de abastecimento, com fechamento de fábricas na China, onde está concentrada 90% da produção mundial desses produtos.

Vitaminas e minerais aplicados na alimentação são considerados fundamentais para manter os padrões zootécnicos exigidos pelo mercado (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

“Começou há uns dois meses e agora piorou a situação. Os preços das ofertas das cotações estão suspensos e a gente está num feriado longo na China, que só vai voltar dia 7, mas está totalmente suspensa a oferta de várias vitaminas minerais e aditivos para nutrição animal”, relata Alexandre Camargo Costa, sócio-gerente da chinesa FNF Ingredients no Brasil. Ele conta que seus clientes estavam preocupados com a alta nos preços, mas o cenário se agravou nas últimas semanas. “Agora eles perceberam que a crise é muito maior do que se imaginava e estão começando a ficar preocupados com disponibilidade”, completa o executivo.

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Por trás das dificuldades do setor de nutrição animal, está um contexto já amplamente noticiado, como a crise logística internacional e a retomada da economia mundial. Mas, com a China reunindo esforços para conter as suas emissões de gases do efeito estufa, muitas indústrias químicas reduziram ou interromperam a sua produção nos últimos meses, impactando diretamente a produção de aditivos para ração animal.

Embora representem apenas 4% da composição dessas fórmulas, em termos financeiros, esses aditivos e suplementos podem representar até 20% do custo de produção do setor. Do ponto de vista nutricional, são essenciais. “Se faltar uma única vitamina, você já não consegue fazer a ração”, explica Costa.

Há mais de uma década atuando no ramo de nutrição animal, o responsável pela área de Ingredientes da MCassab Nutrição e Saúde Animal, Guilherme Palumbo, conta que o Brasil passou de necessidade para dependência nos últimos anos. “O Brasil não produz vitaminas. Somos hoje o terceiro maior produtor mundial de ração, atrás apenas de EUA e China, porém o Brasil não produz uma grama de vitamina sintética”, destaca Palumbo.

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Entre os ingredientes em falta no mercado, está a vitamina C, usada principalmente em fórmulas nutricionais para peixes. Segundo Palumbo, “existem três ou quatro produtores na China, dois se destacam e estão em regiões que estão sob pressão pela questão energética”. Também falta vitamina A e algumas do complexo B, além de aminoácidos aplicados na nutrição animal para melhorar o desempenho e a conversão alimentar, principalmente na criação de aves e suínos.

“Hoje, o uso de vitaminas é um conceito dado e, desde a década de 90 e se tornou essencial. A demanda e o desempenho estão sob tanta pressão que, sem esses aditivos, os animais não terão o desempenho esperado. Então já há um conceito de essencialidade”, explica Palumbo. Para contornar o problema, as empresas têm buscado compensar readequando suas fórmulas. Mas a estratégia tem limites, explica o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal, Ariovaldo Zani.

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“Existem duas limitações. Uma física e quantitativa, quando acaba de uma vez determinado ingrediente sem ter como substituir. E a outra é uma questão do preço. Chega num ponto em que o custo para substituir é tão alto que inviabiliza a fórmula. Se eu fizer, tenho prejuízo”, explica.

Zani alerta que, se o cenário atual persistir por um prazo mais longo, pode haver desabastecimento do mercado, limitando a produção de proteína animal do país. “O que se diz é que em março pode ser que a coisa melhore, mas acho muito difícil porque a demanda não tem baixado”, acrescenta Costa, da FNF Ingredientes, ao ressaltar que essa falta já existe para alguns produtos.

“Algumas empresas vão ter falta de produto principalmente porque não se programaram. São empresas que ficaram mais preocupadas com o custo dessas matérias primas do que se garantirem com o abastecimento”, avalia Costa.
Source: Rural

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