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Quando ainda mal se falava sobre o conceito de cultivo orgânico, a produtora rural Maria Margarida Xavier da Silva já estava na lida da lavoura sem usar agroquímicos. Plantar e colher faz parte da vida dela desde a infância. Quando menina, aos 11 anos de idade, ela já tinha as próprias plantas para cuidar. Mãe de cinco filhos, sendo quatro companheiros no trabalho de campo, além das noras, Maria tem uma história de vida simples em Ibiúna, interior de São Paulo. Mas é na simplicidade da terra que estão seus grandes valores. “Hoje levo minhas netas para a roça e explico sobre ter de trabalhar para saber dar valor. Eu fico brava quando pisam nas plantas. Ensino que tem de dar valor à verdura", diz Margarida.

Maria Margarida Xavier da Silva trabalha com o "plantio dedicado" (Foto: Divulgação Liv Up)

 

Ela lembra que, em 1985, a produção orgânica começou a fazer parte das conversas de agricultores, mas confessa que, no começo, foi muito difícil. “Os produtores homens da região não queriam dar muitas informações, pensavam apenas neles e não queriam ajudar”, lamenta, e revela que foi o contato com uma agrônoma que a fez entender melhor o que seria a nova forma mais sustentável de produzir. E não parou mais. "Gosto de plantar orgânicos porque é uma planta que traz saúde para a gente. É outro clima para nós. Para colher, para lidar, para cuidar delas, sabe?”

Há 30 anos vivendo da terra, Maria Margarida assiste com os próprios olhos à evolução da família, da agricultura e do Sítio Boa Vista, que tem cerca de 4 hectares de área plantada. Aliás, a criação dos próprios filhos se entrelaça com a criação da horta.

Curiosa e dedicada, a produtora não apenas acompanha a ascensão da agricultura orgânica, como faz parte dela. Margarida é fornecedora de couve kale para a startup Liv Up – empresa dentro do segmento de foodtech, que iniciou as operações em 2016, vendendo refeições saudáveis prontas ultracongeladas para um público majoritariamente urbano. Ao olhar para como era feita a comercialização na década de 1980, a agricultora afirma que uma das principais diferenças de lá para cá é a forma como as vendas acontecem agora. “Hoje em dia, com a tecnologia e as redes sociais, é bem mais fácil contar os benefícios (dos orgânicos) para mais pessoas, o que, consequentemente, aumentou o consumo e tem nos apoiado nas vendas”, afirma.

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Margarida trabalha em um molde produtivo chamado de "plantio dedicado", que garante o escoamento da produção e ajuda a produtora a ter melhor previsibilidade das vendas. De acordo com a Liv Up, cerca de 30% da produção de couve kale da produtora deve ir para a foodtech. Margarida ainda escoa parte da lavoura para outros parceiros higienizadores e processadores e distribuidores de orgânicos, inclusive com a couve kale já higienizada e pronta para a montagem de pratos.

Em relação ao processo de adaptação com a tecnologia, como o acompanhamento de pedidos por aplicativos de celular, a produtora conta com a ajuda da família. "Eu fico mais na roça, aí essa parte de tecnologia deixo para a Evellyn, que é a minha nora que toca a roça junto comigo e com meu filho. Se tivermos algum problema no campo, é só chamar a agrônoma da Liv Up que vem na hora”, ela revela, sorrindo.

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Ao lembrar do passado e inovar no presente, Margarida não deixa de pensar no futuro e, por isso, não esconde o sonho de as netas continuarem o legado da avó no sítio. “Eu já enxergo minha neta mais velha, de 18 anos, como dona do sítio. Ela já tem a horta dela, com o manjericão e o hortelã dela. Ela fica o dia e a noite na roça comigo. Já a menina mais nova, de 9 anos, gosta de ir comigo para colher a kale, porque parece um buquê. Fica bem redondinha, bem bonita", descreve a produtora.

Conforme o tempo vai passando e a tecnologia vai avançando, Margarida acredita que, independentemente de qualquer problema que os netos tenham no campo, eles terão acesso mais fácil à informação, além do próprio plantio de orgânico já estar mais difundido e contar com um portfólio maior quando comparado com 30 anos atrás.

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Source: Rural

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