Skip to main content

As empresas líderes no mercado agrícola se destacam por uma combinação de fatores. As novas tecnologias e os produtos disponíveis no campo podem até surpreender muitos produtores e técnicos do setor, mas já haviam sido pensadas 20 ou 30 anos antes. Esse é um dos diferenciais de uma empresa líder. Afinal, criar uma tecnologia ou produto não acontece da noite para o dia.

É imprescindível a aplicação de recursos em pesquisa de novos produtos – que não pode ser vista como um gasto – pois representa um investimento estratégico para se sobressair num mercado em expansão.

 

Contudo, as necessidades do mercado agrícola para as próximas décadas requerem também uma dose de audácia. É preciso esquadrinhar os atuais horizontes e antever como a agricultura será influenciada por macrotendências sociais e globais em diferentes cenários como mudanças climáticas, mudanças nas preferências do consumidor, consolidação de mercado, acesso à tecnologia, sustentabilidade dentre outras.

Tomemos como exemplo uma nova geração de ideias, produtos e tecnologias para o controle de pragas em 2040, com base em somente três diferentes cenários. O propósito destes cenários é representar as possíveis condições que podem afetar o controle de insetos e com base nisso considerar as futuras tecnologias/serviços e seu possível sucesso.

saiba mais

Tereza Cristina defende protagonismo do Brasil na inovação tecnológica

Embrapa lança hub para estimular inovação na cadeia produtiva do leite

 

Cenário 1: Escassez de água

Em 2018, as Nações Unidas reportaram que quase a metade da população mundial irá viver em áreas com alta escassez de água em 2030, sendo que 1,8 bilhão destas pessoas, em países ou regiões com absoluta falta de água. Como a população humana só aumenta, a demanda por água nas cidades irá crescer em detrimento das fazendas, e muitas culturas agrícolas vão estar sobre pressão.

Nesse cenário, destacam-se culturas agrícolas mais tolerantes à seca (geneticamente modificadas ou não), boas práticas de não revolvimento de solo e melhorias da capacidade de retenção de água e matéria orgânica. Para o controle de pragas, há um mau prognóstico para os produtos químicos que necessitam de mistura em água para pulverizações e aplicações mecanizadas.

Leia mais análises e opiniões no Vozes do Agro

No entanto, as condições favoráveis para métodos de controle biológico, especialmente os macro-organismos (parasitoides e predadores) e semioquímicos (substancias químicas produzidas por organismos que modificam o comportamento de outros seres vivos).

E, em situação um pouco mais desconfortável, o uso de microrganismos entomopatogênicos e nematoides, para os quais a presença de umidade no solo é um grande aliado.

Cenário 2: Consumidor decide

Tendências mundiais na preferência do consumidor indicam um contínuo aumento na demanda por alimentos orgânicos. O consumidor cada vez mais exige alimentos rotulados como orgânicos, naturais, limpos, não transgênicos, cultivados localmente, rastreados e certificados.

Nesse cenário, toda sorte de produtos químicos nos tratos gerais das lavouras, incluindo adubação, controle de plantas daninhas, doenças e pragas – somente para mencionar alguns deles – terão cada vez menos espaço.

A automação será a norma para substituir o trabalho humano, aumentar a eficiência dos insumos, facilitar o manejo adaptativo em resposta às mudanças climáticas, reduzir as preocupações ambientais e atender ao consumidor

José Mauricio Simões Bento

Para o controle de pragas, teremos condições bem propícias para os diferentes métodos de controle ecologicamente corretos, como o controle biológico, incluindo macro (parasitoides e predadores) e micro-organismos entomopatogênicos, além dos semioquímicos e novas tecnologias como uso de laser, robôs e armadilhas inteligentes.

Cenário 3: Redução de mão de obra

De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2016) a mão de obra agrícola irá declinar à metade até 2050, devido às mudanças tecnológicas e ao aumento de produtividade. Até mesmo a mão de obra qualificada será retirada da agricultura no futuro.

A automação será a norma para substituir o trabalho humano, aumentar a eficiência dos insumos, facilitar o manejo adaptativo em resposta às mudanças climáticas, reduzir as preocupações ambientais e atender ao consumidor.

Leia mais notícias sobre Pesquisa e Tecnologia

Nesse cenário futurista e previsível, teremos sensores nos solos e nas plantas; veículos aéreos não tripulado (vants), satélites e drones nos céus; computadores interligados e softwares e algoritmos prevendo e antevendo alterações no tempo e na incidência de pragas, doenças e deficiências nutricionais.

Do plantio à colheita tudo será automatizado e controlado por robôs. No controle de pragas, haverá espaço para as armadilhas inteligentes, laser, novas técnicas moleculares (ex: RNAi), controle biológico com macro e micro-organismos via drones e robôs, além do uso de semioquímicos e micro-organismos que beneficiem as defesas das plantas e a qualidade dos produtos.

*José Mauricio Simões Bento é professor da Esalq/USP e pesquisador do SPARCBio, sigla em inglês para Centro de Pesquisa Avançada em Controle Biológico de São Paulo.

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

saiba mais

Biológicos podem aumentar resiliência do solo às mudanças climáticas

Mercado de defensivos biológicos deve crescer mais de 50% no Brasil em 2021

 
Source: Rural

Leave a Reply