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“Minhas gurias são muito mansas. Eu e minhas filhas lhes damos carinho e elas retribuem da mesma forma”, diz a pecuarista gaúcha e médica veterinária Desireé Hastenpflug Möller, de 33 anos, se referindo às 48 búfalas de cerca de 500 quilos que cria há três anos em sua fazenda em Itapuã, distrito de Viamão, a 50 quilômetros de Porto Alegre (RS). Na próxima quinta-feira, dia 9/9, em cerimônia na Expointer, em Esteio, ela vai se tornar a primeira mulher a assumir a presidência da Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu), que tem 43 anos e cerca de 60 associados.

Desireé e um de seus animais. Ela será a primeira mulher a assumir a presidência da associação de criadores de búfalos (Foto: Arquivo pessoal)

 

Caio Vinicius Di Helena Rossato, presidente da Associação dos Criadores de Búfalos do Brasil (ABCB), diz que a produtora gaúcha será a primeira mulher no comando de uma associação bufaleira do país, mas já há muitas mulheres envolvidas com a cadeia da bubalinocultura em todas as regiões produtoras, incluindo criação, industrialização, pesquisa e assistência técnica.

Desirée conta que pretendia criar gado da raça hereford, mas se encantou com os búfalos após conversar com Delfino Barbosa, um grande produtor gaúcho, e decidiu investir em um lote de novilhas em 2018 para ver se obtinha um retorno melhor do que com gado bovino.

“Eu tinha cruza de gado comum em 60 hectares, mas não era rentável. As vacas não pariam, não engordavam e ainda exigiam muito manejo e tratamento caro contra carrapatos. Com as gurias, o manejo é bem simples, elas são bem rústicas, se alimentam com a planta invasora annoni que gado não come, só precisam de volume e não qualidade e não demandam gasto com carrapatos”, diz Desirée, acrescentando que nunca usou antibióticos no rebanho e que optou por manter na fazenda as matrizes do primeiro lote, das raças murrah e mediterrâneo, e vender as crias desmamadas, com média de idade de seis meses.

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Em três anos de criação, a produtora vendeu 70 terneiros, ao custo médio de R$ 1 mil. No próximo ano, ela acredita que já terá o retorno do investimento feito em 2018, já que as búfalas podem parir por até 25 anos. “Nunca tive doença no rebanho. São animais de alta taxa de natalidade, baixa mortalidade e alta rentabilidade.” O único macho na fazenda tem quase 800 quilos.

Junto com o marido Henrique, Desirée dirige ainda o restaurante Butiá, nas margens do rio Guaíba, que fica na área da fazenda e tem capacidade para 600 pessoas (reduzida agora para 300 por conta da pandemia). Na criação das búfalas, diz ter a ajuda apenas das filhas Ana e Lia, de 5 e 6 anos, respectivamente. “Nunca pensei em trabalhar com gado. Fiz especialização em cavalos, mas acabei me apaixonando pelas búfalas. Acredita que uma delas, a minha preferida, que eu chamo de 73, dá beijo na gente e pede carinho?”

Sobre o cargo na Ascribu, Desirée, a primeira de sua família a se envolver com o agro, diz que foi convidada pela atual diretoria e resolveu assumir o desafio da presidência por gostar muito dos animais e ter ideias para atrair outros pequenos produtores para a criação de búfalos no Estado. Ela também quer debater rastreabilidade e certificação da carne do animal, que recebe valor menor que o bovino nos frigoríficos. “Meu pai me disse que eu vou assumir um pepino como presidente, mas, se ele estiver certo, pretendo fazer desse limão uma limonada.”

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Régis Gonçalves, segunda geração de criadores de búfalos da sua família e atual presidente da Ascribu, diz que Desirée pode ajudar a modernizar a associação e atrair mais criadores por ser nova, ter muito entusiasmo e uma visão feminina e mais ampla da atividade. Segundo ele, o Estado tem 800 criatórios e cerca de 70 mil cabeça. Praticamente todos os frigoríficos gaúchos abatem búfalos, mas a maioria paga de 10% a 15% menos e vende a carne junto com a dos bovinos.

“A carne de búfalo, que é mais magra, mais saudável e sem marmoreio, só é identificada em nichos.” Como Desirée, Gonçalves destaca a docilidade dos búfalos. “É um animal reativo que responde ao manejo. Sendo bem tratado, sem agressão, é extremamente dócil.”

Rossato, o presidente da ABCB, diz que é preciso derrubar o mito de que búfalos são agressivos. “Na verdade, há uma confusão. O búfalo doméstico é considerado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) como o animal doméstico mais dócil do planeta. O tipo agressivo é o búfalo selvagem africano.”

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O Brasil tem atualmente 16 mil produtores e um rebanho de cerca de 2 milhões de animais, sendo 70% de corte e 30% de leite. Pará, Amapá e Amazonas concentram a maior parte do rebanho. Por ano, são abatidos cerca de 200 mil búfalos.

Produtor de leite e dono de laticínio em Pilar do Sul (SP), Rossato afirma que o leite de búfala é o produto mais valorizado da cadeia pelo rendimento industrial quase duas vezes maior do que o leite bovino e pelo valor agregado de seus produtos, como mussarela, manteiga e ricota.

O preço da carne de búfalo, diz, é determinado pela oferta e procura, mas em alguns Estados, como São Paulo, Bahia, Rio Grande do Norte e Pernambuco, que têm investido mais na criação, já se observa um preço melhor em relação à carne bovina.
Source: Rural

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