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Desmatamento, déficit de preservação de mananciais e repressão da água para uso privado são três dos fatores que levaram o Brasil a perder 15,7% de superfície de água desde o começo dos anos 1990, segundo estudo inédito do MapBiomas. Amazônia e Pantanal aparecem como biomas críticos.

Tasso Azevedo, coordenador do trabalho, pondera que o entendimento por completo dessas causas ainda vai demandar mais investigação. Mas vê ligação com o agronegócio. Segundo ele, o estudo aponta mais de 50 mil represas privadas localizadas próximas às cabeceiras dos rios, na região chamada de arco do desmatamento. Essas represas, construídas em propriedades rurais, principalmente, para atender à demanda por irrigação, teriam impacto sobre os volumes de água nos cursos naturais.

“O desmatamento e a redução do fluxo em cursos naturais reduzem a capacidade da floresta de bombear água para atmosfera gerando mais seca e construção de mais reservatórios privados criando um ciclo de mais escassez”, explica Tasso, em entrevista à Globo Rural. Ele reforça que a supressão de vegetação na Amazônia influencia diretamente na disponibilidade hídrica, já que é fonte de mais de 1/3 da chuva do País.

Ponte sobre Rio Maneta, no Pantanal, cujo nível de água está muito menor do que o normal para o bioma, que é conhecido por sua planície alagada (Foto: José Medeiros/Ed. Globo)

 

A demanda por água para irrigação, de acordo com o coordenador do MapBiomas, tem afetado, inclusive, regiões onde o volume de chuva já é menor por uma condição naturalmente estabelecida. No seminário, por exemplo, tem chovido ainda menos.

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Em regiões como a do São Francisco, ele diz que há sinais de que o excesso de demanda de água para o perímetro irrigado está reduzindo a oferta para o entorno do rio, incluindo o reservatório de Sobradinho, que já recuou mais de 20 quilômetros. “Há, inclusive, sinais de processos de desertificação neste entorno”, diz, ao mencionar que a irrigação é responsável por 70% do consumo de água no país.

Também segundo o estudo, outro rio que está com volume menor é o Negro, na Amazônia, cuja perda foi de mais de 360 mil hectares de superfície de água, uma diferença de 22% entre 1991 e 2020. O sinal de queda mais acentuado ocorreu entre 1999 e 2000 com redução de mais de 560 mil hectares (-27%).

Questionado sobre o Plano Nacional de Recursos Hídricos, Tasso Azevedo defende que esta é uma política positiva, mas a falta de controle sobre o desmatamento, a ocupação de áreas de proteção ambiental e a degradação das áreas de preservação permanente são fatores que deterioram a disponibilidade e qualidade da água. “Precisamos avançar nestas três frentes”, enfatiza.

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O estudo ainda indica que há tendência de perda de superfície de água em oito das 12 regiões hidrográficas, em todos os biomas. Enquanto, em 1991, a área coberta do água no Brasil era equivalente a 19,7 milhões de hectares, em 2020, caiu para 16,6 milhões de hectares. Desde 1991, houve uma redução de 15,7% da superfície de água no país.

Mato Grosso do Sul

O município que mais pegou fogo entre 1985 e 2020, segundo o MapBiomas Fogo, e que mais perdeu água nesse período foi Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Também é o mesmo Estado que concentra a maior perda absoluta e proporcional de superfície de água na série histórica de 35 anos, com redução de 57%.

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“Os ciclos de fogo e água estão interligados e se retroalimentam. Menos água deixa a terra e a matéria orgânica que se depositam sobre ela mais vulneráveis ao fogo. Mais fogo suprime a vegetação, que tem papel crucial para perenizar nascentes e mananciais”, explica Tasso Azevedo, Coordenador do MapBiomas.

Se em 1985, o Estado tinha mais de 1,3 milhão de hectares cobertos por água, em 2020 eram apenas pouco mais de 589 mil hectares. Mais de 780 mil hectares de água foram perdidos no período. Essa redução se deu basicamente no Pantanal, mas toda a bacia do Paraguai é afetada pela redução da superfície de água.

Em segundo lugar está o Mato Grosso, com uma perda de quase 530 mil hectares, seguido por Minas Gerais, com um saldo negativo, entre a água que entrou e a que se esvaiu, de mais de 118 mil hectares.

Source: Rural

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