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A produtora Maria Aparecida Corso, que integra o conselho do grupo familiar JCN, se arrependeu de ter reduzido para 12,5 mil hectares a área plantada de algodão nas fazendas da família nesta safra e já definiu que a pluma vai ocupar 15 mil hectares na próxima. A baiana Alessandra Zanotto Costa, que também reduziu a área, vai plantar quase o dobro na  temporada 2021/22.

Maria Aparecida Corso integra o conselho do grupo familiar JCN (Foto: Maria Aparecida Corso/Arquivo Pessoal)

O cenário para o algodão com a pandemia, as perspectivas futuras, desafios, participação das mulheres no agronegócio e outros assuntos da cadeia foram tema do encontro Mulheres de Fibra, que reuniu Maria Aparecida, Alessandra e mais 38 mulheres empoderadas do setor no hotel Palácio Tangará, na capital paulista.

Foi o primeiro encontro presencial do setor após o início da pandemia. A organização foi da indústria de defensivos FMC, líder do mercado de algodão no Brasil.

“Os meninos não queriam, mas eu decidi pela redução de área porque tive medo. O momento da pandemia era crítico e ninguém sabia como seria a reação”, conta Maria Aparecida, filha do empreendedor Josué Corso Neto, que começou sua carreira na agricultura como comerciante de verduras em São João da Boa Vista. O pai deixou para ela e o irmão José Izidoro o comando de 22 mil hectares de área plantada.

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Hoje, a família tem 72 mil hectares distribuídos por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo e planta 50 mil hectares de algodão, soja, milho e café. O filho dela, Kriss, e o sobrinho Josué dirigem a operação das fazendas, sob a orientação dos pais no conselho.

Ela conta que o algodão é o carro-chefe do faturamento, mas a maior área é da soja. O grupo tem duas algodoeiras, 12 colheitadeiras e está investindo na compra de mais máquinas. “Vamos ver se a indústria consegue entregar para próxima safra ou se teremos que terceirizar a colheita.” Cerca de 60% a 70% da pluma vai para exportação.

Formada em pedagogia, Maria Aparecida conta que lecionou apenas oito anos e foi trabalhar com o pai nas fazendas. Em 2008, assumiu a direção com o irmão e enfrentou muitos desafios pela pouca experiência e por ser mulher.

Quando cheguei no Mato Grosso, os funcionários começaram a me pressionar ameaçando parar a colheita se eu não desse aumento salarial. Achavam que, por ser mulher, eu não teria capacidade e nem firmeza nas decisões. Eu que sou muito delicada respondi que iria analisar, que queria trabalhar com eles e ficaria triste se pedissem demissão. Ninguém saiu, a colheita não parou e eu conquistei o respeito deles

Maria Aparecida Corso, produtora de algodão

 

Formada em Administração, Alessandra, 35 anos, começou a trabalhar com o pai na fazenda em Luis Eduardo Magalhães (BA) há 15 anos. Hoje, comanda as áreas comercial e financeira. Nesta safra, os Zanotto plantaram 500 hectares de algodão, uma redução de 75%. “Fomos assertivos na decisão porque era necessário fazer rotação de culturas e a soja oferecia mais oportunidades de mercado.”

A família planta no total 4.500 hectares de algodão, soja irrigada e de sequeiro. A produção anual de pluma é de 6 mil toneladas, mas caiu para 3 mil com a área menor nesta safra. Cerca de 80% vão para exportação.

Segundo ela, o desafio do cotonicultor é ser excelente em todo o processo de produção, produzir com sustentabilidade e custo acessível. Geralmente, ela opta por venda antecipada de 60% do algodão para travar os custos.

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Vice-presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão, ela está à frente da campanha Sou de Algodão, que visa valorizar a qualidade e a sustentabilidade da fibra brasileira. Sobre a questão de gênero, Alessandra, que só tem uma irmã e se casou com um corretor de algodão que passou a trabalhar na fazenda, diz que enfrentou muitos desafios, principalmente no início.

“A mulher demora mais para gerar credibilidade. Infelizmente, o machismo ainda persiste em alguns momentos, mas eu me posiciono sempre como empresária. A mulher precisa ser mãe, filha, esposa e muitas vezes é taxada de estourada por cumprir tantos papéis. Mas somos fortes e determinadas.”

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Daniela Tavares, diretora de marketing Brasil da FMC, diz que a empresa mantém desde os anos 1990 um programa de relacionamento com produtores de algodão, o Prima Classe. Anualmente, cerca de 90% do PIB da cadeia do algodão participa dos encontros da FMC.

Neste ano, a multinacional decidiu reunir apenas 40 mulheres por conta das restrições do protocolo sanitário, mas em 2022 espera voltar para o formato de 500 empresários, homens e mulheres.

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A diretora comercial Cerrado Oeste, Sinara Ferreira, diz que a FMC, assim como todas as empresas do agro, elevou seus custos por causa da logística difícil de fretes, os aumentos das matérias-primas e de embalagens e teve que repassar isso aos produtores. “Mesmo com os aumentos, não houve redução de vendas e esperamos um acréscimo de 5% no faturamento no Brasil em relação aos negócios de 2020.”

A organização do encontro recebeu aplausos das participantes. “A FMC é nossa parceira há 50 anos. Adorei os debates e palestras de motivação. Me senti valorizada e reconhecida no nosso trabalho com o algodão e saio daqui com um respeito ainda maior pelos nossos 600 colaboradores”, disse Maria Aparecida Corso.

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Source: Rural

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