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O produtor rural Azael Pizzolato Neto plantou 350 hectares de milho neste ano em Casa Branca (SP), na região de Campinas, esperando colher de 130 a 140 sacas por hectare. Colheu apenas 49 sacas na média e teve que comprar no mercado a R$ 100 para honrar seu contrato de venda antecipada fechado em R$ 70. “A plantação sofreu ação da seca, geadas e da cigarrinha. Foi a pior produtividade desde que estou no negócio da família, há cinco anos. Meu pai, que está há 40 anos na atividade, também nunca viu nada igual.”

Agricultor esperava colher mais de 100 sacas por hectare. Colheu menos de 50 e precisou recorrer ao mercado para honrar contratos (Foto: Azael Pizzolato Neto/Arquivo Pessoal)

 

Edivaldo de Jesus Manttuy, agricultor na região de Santa Fé do Sul, no noroeste paulista, desistiu do milho neste ano, devido à escassez de chuva, e plantou 500 hectares de sorgo, mais resistente à seca e que pode substituir o grão na ração animal. Mesmo assim, teve uma queda de produtividade de 60% e vai colher apenas 20 sacas por hectare. “Depois do plantio, o sorgo recebeu apenas 30 milímetros de chuva, quando o normal seria mais de 100.”

Guilherme Frederico Lamb, produtor de grãos em Maracaí, na região oeste de São Paulo, plantou 240 hectares de milho. Deve colher 75 sacas ante a média de 105 sacas. “Como plantei dentro da janela de cultivo, o milho sofreu poucos impactos da primeira geada, mas a seca castigou bastante este ano. Já a segunda geada foi inesperada e atingiu áreas que não tinham sido afetadas. Os grãos parecem isopor de tão leves. Muitos vizinhos que plantaram com atraso em abril têm áreas com perda total.”

Lamb conta que vendeu antecipadamente 10 mil sacas de sua produção por R$ 45 a R$ 80 e agora espera colher o suficiente para pelo menos cumprir o contrato e não ter que comprar milho no mercado.

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Lucas César Correa, gerente da empresa de cereais Agro100, de Maracaí, ganhou uma nova função neste ano por causa das perdas do milho de segunda safra. Está entrando em contado com os cerca de 100 clientes que venderam a produção de forma antecipada para checar se será entregue como foi acordado. “Muitos falaram que tiveram grandes perdas, mas, como travaram em média apenas 20%, esperam entregar o grão. Mas já me relataram que muitos produtores arrancaram o milho porque não choveu nada e não teve produção. Felizmente, não eram nossos clientes.”

Gustavo Chavaglia, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de São Paulo (Aprosoja-SP), estima uma quebra de 30% a 50% na produção de milho safrinha no Estado. “As regiões do centro-sul e noroeste foram as mais afetadas, mas recebi relatos dos quatro cantos do Estado de produtores dizendo que não poderia contar com a safrinha deles neste ano.”

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Ele explica que os produtores plantaram uma área maior neste ano, mesmo fora da janela, porque o preço do milho em abril estava três vezes maior que o do ano passado. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), São Paulo plantou 549,9 mil hectares de milho na safrinha, um aumento de 4%, mas vai colher 1,96 milhão de toneladas, 15,9% a menos do que em 2020.

Chavaglia afirma que a lavoura, muito prejudicada pela falta de chuvas desde abril, sofreu ainda o impacto das duas geadas, derrubando ainda mais a produtividade. “E quem plantou fora da janela não tem direito a receber o seguro. Tem áreas que não terão colheita nenhuma, áreas que foram abandonadas e outras que viraram silagem para gado.”

O dirigente ressalta que até o sorgo, que precisa de muito menos água que o milho, vai ter uma produtividade bem menor. E fala por experiência própria: optou pelo plantio de 100 hectares. “Não escapei da segunda geada. Queimou muitas áreas e vem aí mais uma previsão de geada. Estimo uma perda de 60% na minha lavoura.”

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O relato das perdas com a seca e as geadas não vêm apenas dos produtores de grãos. Pizzolato Neto conta que a última geada comprometeu seriamente a cana-de-açúcar da sua fazenda. Ele e o pai plantam 4.000 hectares. “Onde a geada atingiu as plantas em produção tivemos que antecipar a colheita. Já a cana mais nova deve perder pelo menos dois meses de crescimento.”

Edvaldo da Costa Mello, um dos maiores produtores de limão do país, que atende exclusivamente o mercado interno, relatou perdas em várias áreas das quatro fazendas que somam 1.000 hectares na região noroeste de São Paulo e em Iturama (MG).

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“Já teve o impacto da seca e aí veio a segunda geada, que foi muito forte. Não havia relatos anteriores de perda de plantas devido à geada porque o clima aqui na região é bem quente.” Mello, que tem uma produção anual de 25 milhões de kg de limão, diz que ainda não quantificou os prejuízos, mas pelo menos uma área de 10 hectares terá que ser arrancada e receber novas mudas.

Mesmo com as perdas, todos os produtores ouvidos pela Globo Rural manifestaram otimismo com as próximas safras. “O cenário de clima é desafiador, mas o produtor tem a obrigação de ser otimista”, diz Lamb, que deve plantar 240 hectares de soja. Ele reclama que os insumos chegaram a subir 150% nesta safra e o preço das máquinas aumentou até quatro vezes, baseados na rentabilidade da soja. “O problema é se a soja despencar na próxima safra. Porque sabemos que o preço da soja sobe de escada e desce de elevador.”
Source: Rural

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