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Há pouco mais de dez dias à frente do Ministério do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite herda a responsabilidade de tirar do papel o apoio financeiro dos Estados Unidos para combater o desmatamento na Amazônia.

A sinalização vinda do presidente norte-americano Joe Biden não avançou, mesmo depois da Cúpula do Clima, reflexo de uma imagem desgastada do ex-ministro Ricardo Salles e, mais ainda, da forma como a política ambiental do Brasil tem se desdobrado nos últimos anos.

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Com a passagem pela Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais, incluindo a gestão do programa Floresta+ — iniciativa para pagamento por resultados com foco na redução do desmatamento —, Leite terá que mostrar que entende da equação clima e finanças, se quiser recuperar a credibilidade brasileira.

É o que aponta Olympio Barbanti Júnior, professor de Relações Internacionais da UFABC e membro do Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil.

Joaquim Álvaro Pereira Leite, atual ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro (Foto: Divulgação/MMA)

 

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Para ele, a entrada do novo ministro pode “eventualmente facilitar o diálogo internacional sobre alguns pontos específicos, principalmente em relação à interface entre finanças e clima”, já que ambos os assuntos estão na mira do Grupo dos Sete (G7), que inclui os países
mais industrializados do mundo, entre eles os Estados Unidos.

“O G7 lançou um conjunto de documentos que sinalizam novo alinhamento em relação às questões de desenvolvimento internacional para as próximas décadas. Parte deste conjunto, o documento sobre questões ambientais possui indicações que colidem frontalmente com a agenda do governo Bolsonaro – e com o próprio”, pondera Barbanti.

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O professor da UFABC indica que não há como falar de pagamentos por serviços ambientais e estratégias de desenvolvimento sustentável se as queimadas na Amazônia se mantiverem em índices elevados, bem como a falta de defesa dos povos indígenas e demais populações tradicionais, quilombolas e ribeirinhas.

Em meio a uma agenda governamental que fortalece o agronegócio, Barbanti ainda lembra que Pereira Leite é ruralista e deve se manter neste “campo político”. Assim, a visão internacional deve permanecer a mesma. 

“Não há como Bolsonaro mudar seu discurso e apagar tudo o que fez ao longo de sua carreira. Uma colisão de interesses de grandes proporções está à vista para a economia e a política do Brasil”, diz o professor.

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Josilene Ferrer, professora de Relações Internacionais da FAAP e especialista em mudanças climáticas e políticas públicas na área ambiental, considera que o país está em um “processo de desgaste” e a mudança de ministros na pasta não deve alterar a percepção do mercado internacional no curto prazo.

“O Brasil está criando um desgaste muito grande desse capital que a gente foi acumulando, de excelente diplomacia, esforços para lidar com a preservação da biodiversidade, cuidado com as populações indígenas, quilombolas. Sinto que, para fazer diferença, no sentido positivo, vamos ter que fazer muito esforço”, ressalta ela ao se referir ao aporte financeiro de países desenvolvidos.

Nós vamos sentir qual é o passo do novo ministro na hora que ele começar a andar

Josilene Ferrer, professora de Relações Internacionais da FAAP

Ela ressalta que o Brasil tem uma das maiores biodiversidades do mundo, a maior porção de Amazônia, água em abundância e, com isso, “os desafios são superlativos”. “As nossas questões são todas superlativas na área ambiental. Nós vamos sentir qual é o passo do novo ministro na hora que ele começar a andar”, avalia.

De acordo com ela, ainda que haja cortes no orçamento e enfrentamento de uma pandemia, há meios de proteger o meio ambiente e colocar muito do que já se sabe em prática.

“Uma coisa é ter uma pessoa que assume com a ordem de desmanche, outra situação é ter um ministro que assume para fazer a melhor governança possível, com os recursos disponíveis e com o que as instituições conseguem entregar. São cenários muito diferentes", conclui.

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Source: Rural

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