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A 140 quilômetros do sul de Chicago, no Meio-Oeste americano, uma empresa familiar brasileira se consolidou no mercado de biodiesel, farelo de soja e óleo comestível – competindo com gigantes americanas como ADM, Bunge e Cargill.

Operando desde meados da década de 1990 em Gilman, no Estado de Illinois, a Incobrasa Industries concluiu recentemente um investimento de US$ 65 milhões para aumentar em 50% a capacidade de esmagamento de soja e a produção de combustível renovável.

Folhas de plantação de soja (Foto: Getty Images)

 

Com a ampliação, a Incobrasa passou a beneficiar 93 mil toneladas de soja por mês. Do total, 70 mil toneladas vão para a produção de farelo de soja, distribuída em sua grande maioria por meio de 720 vagões próprios de trens – todos pintados de verde, para simbolizar a origem da empresa.

Outras 23 mil toneladas são transformadas em óleo bruto, das quais 5,5 mil resultam em óleo comestível e 17,5 mil em biodiesel. Toda a produção é voltada ao mercado interno norte-americano.

Vídeo mostra detalhes da produção

 

“Felizmente, mesmo com a pandemia, os segmentos em que atuamos se mantiveram extremamente saudáveis, praticamente não sentimos os efeitos da retração mundial. Estamos sempre buscando sermos o mais competitivo possível. Todos os nossos investimentos vão nessa direção”, afirma Aluízio Ribeiro, um dos diretores e proprietários da Incobrasa, filho do fundador, Renato Bastos Ribeiro, falecido em 2019.

A árdua tarefa de competir em um mercado dominado por multinacionais como ADM, Bunge e Cargill não freou o ímpeto do empresário natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Renato, falecido aos 75 anos, fez história no agronegócio ao se tornar o primeiro investidor brasileiro a inaugurar nos Estados Unidos uma planta de esmagamento de soja, na década de 1990, e de biodiesel, nos anos 2000.

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“Meu pai sempre foi muito empreendedor, gostava de investir em diferentes setores. Era visionário e extremamente focado em tudo que fazia”, conta Aluízio, que administra os negócios ao lado do irmão Rogério, responsável pela área de compra e venda de commodities.

A trajetória do empresário gaúcho no Meio-Oeste americano, sem falar quase nada de inglês, teve início ainda na década de 1980, quando começou a comprar áreas de terras agrícolas no condado de Champaign, na região central de Illinois. Na época, a família Ribeiro mantinha negócios também no Rio Grande do Sul, nos setores agrícola, de mídia e imobiliário.

Aluíso Ribeiro, diretor-proprietário da Incobrasa (Foto: Divulgação)

 

Após comprar a Empresa Jornalística Caldas Júnior, dona do jornal Correio do Povo e da rádio e TV Guaíba, liderou a reabertura do jornal em 1986. Sob a gestão da família, o Correio do Povo adotou o formato tabloide e passou a ser impresso em três parques gráficos, com transmissão via satélite – algo inovador na época.

Até meados da década de 1990, a família era proprietária também da esmagadora de soja Merlin, uma das maiores do Rio Grande do Sul, com unidades em Canoas e Rio Grande. Em 1996, as estruturas gaúchas foram vendidas para a Santista Alimentos, mais tarde adquirida pela Bunge. No ano seguinte, a Incobrasa inaugurou a primeira planta de esmagamento de soja em Illinois. E, no começo dos anos 2000, ampliou os negócios em solo americano com unidades de refino e envase de óleo.

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No ano em que a família Ribeiro vendeu o jornal Correio do Povo e a rádio e TV Guaíba para o Grupo Record, em 2007, por cerca de R$ 100 milhões, a Incobrasa inaugurou a planta de biodiesel nos EUA. Na época, não existia muita tecnologia disponível para a produção de combustíveis renováveis.Aempresa teve então de desenvolver soluções próprias, com ajuda de especialistas buscados em universidades brasileiras e norte-americanas.

No próximo verão, com a ampliação concluída no começo do ano, a unidade terá capacidade anual para produzir 60 milhões de galões de biodiesel. Antes do investimento, a capacidade era de 44 milhões de galões por ano. A expectativa é de uma recuperação do mercado de combustíveis renováveis nos EUA em 2021, impulsionada pelos incentivos do presidente democrata Joe Biden, que prometeu reduzir o uso de combustíveis de origem fóssil.

Perfil da Incobrasa Industries (Foto: Estúdio de Criação)

 

Mesmo adaptada à cultura americana, com a maioria dos 180 funcionários nativos ou migrantes latinos, a empresa faz questão de manter o DNA verde-amarelo. Além do controle pelos herdeiros, os principais diretores das unidades de produção são brasileiros, como o paulistano Mariano Ramirez, gerente da área industrial de embalagens.

Desde 2001, ele é responsável pela parte de envase de óleo na Incobrasa, que, além das marcas próprias, presta serviço para outras empresas americanas. “A linha de produção foi totalmente modernizada e automatizada, com tecnologia de ponta”, detalha Ramirez, ao mostrar os painéis que controlam os sistemas robotizados.

Entre os funcionários da linha de frente estão ainda dois americanos que falam português fluentemente. Trabalhando na empresa desde a instalação das plantas industriais, há quase 25 anos, Kerry Fogarty e Rick Eshleman aprenderam o idioma para se comunicar melhor com os chefes brasileiros. Numa conversa rápida, quase não se percebe o sotaque deles. “Tentamos fazer um mix entre as duas culturas, mantendo o DNA brasileiro, mas sabendo que estamos a cada dia mais americanizados”, avalia Aluízio

Após a consolidação no mercado americano, com fornecedores de soja e clientes fiéis, o empresário não descarta a possibilidade de a companhia voltar a investir no Brasil. “Ainda estamos decidindo o futuro”, resume o executivo, sem revelar planos no horizonte.

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Source: Rural

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