Skip to main content

A Globo Rural acompanha faz mais de uma semana o drama dos produtores e exportadores brasileiros de frutas, que estão com cargas travadas no porto de Algeciras, no Sul da Espanha. Mais de 300 contêineres de toda a América Latina foram barrados no país. Alguns foram liberados, mas cerca de 60 ainda estão presos no mar espanhol.

Dentre essas cargas, estão 92 toneladas de manga pertencentes ao grupo Agrodan, maior produtor e exportador da fruta no Brasil.

Para embargar a entrada desses produtos, a Espanha alega a presença de duas substâncias vetadas como aditivos alimentares desde 2008 pelo Parlamento Europeu na cera de carnaúba, usada para dar brilho e evitar a maturação precoce das frutas.

Essa última é considerada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um ingrediente seguro ao consumo humano. Trata-se de uma gordura natural que contava com a credibilidade dos fruticultores como um todo.

 

O desentendimento começou quando os europeus passaram a exigir uma ficha técnica dos exportadores para saber o que cada produto contém. E o registro de álcool etoxilado (emulsionante) e formaldeído (conservante) nesse documento foi a justificativa para o bloqueio.

Mas não só os produtores brasileiros usam essa cera na conservação de frutas. É uma prática comum em percursos marítimos transatlânticos que podem durar mais de 20 dias. E esses aditivos sempre constaram na carga e nunca causaram embargos em outras oportunidades, o que ocasionou estranhamento entre os latino-americanos.

Os produtores nacionais já estão em busca de soluções para continuar usando a carnaúba, mas sem o formaldeído e o álcool etoxilado. Muitas mercadorias estão, porém, em pleno trânsito rumo à Europa, o que pôs os brasileiros em total alerta.

saiba mais

Porto espanhol ainda retém 60 contêineres de frutas da América Latina

 

Neste momento há um gabinete de crise, que envolve o Ministério da Agricultura, Abrafrutas e outras associações da América do Sul para lidar com a situação. Fontes do setor cogitam, entretanto, um estranhamento nesse imbróglio, uma vez que os bloqueios foram efetuados apenas em território espanhol, embora a legislação que ampara o embargo seja do bloco europeu. O Porto de Roterdã, o maior da Europa, aceitou, por exemplo, as cargas brasileiras, levando o setor de frutas a criar algumas teorias.

Fala-se em retaliação comercial, sobretudo neste início do verão no hemisfério norte, quando a Espanha está no pico da colheita em várias culturas. Por isso, o mercado de lá está lotado de produtos espanhóis e barrar a entrada das frutas brasileiras seria uma vantagem. Mas não passa de especulação.

Por outro lado, não existe comprovação científica alguma de que esses produtos façam mal à saúde humana. Vale recordar que o Brasil os usa somente para exportação visando conservar esses produtos no curso da viagem. Além disso, as frutas com destino ao mercado interno brasileiro não detêm cera de carnaúba.

Manter essa carga parada em portos tem um alto custo de estadia e refrigeração. Fontes citam valores em torno de EU$ 400 por contêiner, que significam prejuízo"

Cassiano RIbeiro, editor-chefe da Globo Rural

Enquanto as cargas continuam barradas, a Agrodan e outros produtores afetados recorrem até ao adido agrícola do Brasil na Espanha, que já está a serviço para liberar os produtos brasileiros. A esperança é de que essas frutas voltem a circular antes de estragarem.

Contudo, manter essa carga parada em portos tem um alto custo de estadia e refrigeração. Fontes citam valores em torno de EU$ 400 por contêiner, que significam prejuízo. Outros portos como o de Rotterdam ficam mais distantes da América do Sul, o que também encarece o transporte de forma considerável.

Leia mais análises e artigos de opinião do especial Vozes do Agro no site da Globo Rural

*Cassiano Ribeiro é editor-chefe da Revista Globo Rural e comentarista de agronegócio da rádio CBN.

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.
Source: Rural

Leave a Reply