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Dois problemas comuns e aparentemente distintos na criação de suínos, o sofrimento de porcas prenhas e a agressividade de leitões após o desmame apresentaram uma relação direta em um estudo conduzido por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária da USP.

Ao todo, 22 matrizes foram acompanhadas durante a sua primeira gestação e, após o parto, tiveram seus filhotes avaliados ao longo de 30 dias. O resultado apontou uma redução do número de lesões de pele entre os lotes cujas mães apresentaram maiores índices de bem-estar durante a gestação.

Além de mais agressivos, leitões nascidos de porcas com dor também apresentaram menor ganho de peso (Foto: Ernesto de Souza/Editora Globo)

 

“O que é novo nesse artigo é que não é só o bem-estar da fêmea que está comprometido. Não é só o fato de a fêmea ter dor, mas o fato é que esses hormônios de estresse que banham a fêmea chegam ao útero e afetam a prole”, afirma Adroaldo Zanella, professor responsável pelo Centro de Estudos Comparativos em Saúde, Sustentabilidade e Bem-Estar da Universidade de São Paulo e um dos autores do estudo.

Para avaliar o nível de sofrimento das porcas, os pesquisadores usaram um índice que determina o nível de dificuldade que os animais apresentam para se locomover numa escala de 0 a 5.

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“Claudicação e dor são dois conceitos associados e, a partir da claudicação, vem as consequências para a vida desse animal que se encontra em situação de dor. Uma porca em situação de dor é uma porca que não vai ter as mesmas possibilidades para acessar recursos, para socializar e é um animal que, por ser reprodutor, não vai ter o mesmo cuidado materno devido à condição de dor”, explica a pesquisadora responsável pela avaliação dos dados, Marisol Sarmiento.

Segundo ela, porcas que mancam também apresentam mudanças na forma de amamentar, deitando de forma menos cuidadosa e aumentando o risco de esmagar os filhotes. “Tudo isso são fatores que começam a aumentar o nível de estresse e sofrimento no animal”, completa Marisol.

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O indicador de bem-estar adotado também não foi por acaso. A pesquisadora estima que cerca de 50% do rebanho mundial de suínos apresente claudicação, nome técnico para designar quando o animal está mancando.

“Aqui no Brasil têm sido poucos os estudos epidemiológicos para mostrar a prevalência dessa condição, mas do pouco que se encontra está por volta disso. E é um número altíssimo de animais, considerando-se que são quase 5 milhões de fêmeas suínas hoje no Brasil e mais da metade está em situação de dor”, ressalta a médica veterinária.

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De acordo com Zanella, a claudicação é o pior problema de bem-estar animal no setor produtivo hoje e está associada à seleção genética dos animais para ganho de peso, más condições ambientais e manejo inadequado.

“O que o trabalho mostra é que mesmo um grau de claudicação médio já incomoda o animal e um dos assuntos que estamos interessados agora é criar estratégias para treinar as pessoas para o diagnóstico”, revela o professor ao ressaltar que os produtores ainda têm dificuldade de identificar o problema quando não se trata de casos mais graves. “Não é que as pessoas ignoram a claudicação, mas a verdade é que elas não veem”, pontua.

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Após o desmame e ao serem misturados com outros leitões, os lotes com filhotes nascidos de mães sem claudicação apresentaram 53% menos lesões por briga com outros leitões. O acompanhamento foi feito de forma diária por profissionais sem acesso às informações sobre o parentesco dos animais.

Também foi avaliado o ganho de peso dos animais, apontando um índice até 500g menor entre aqueles que nasceram de porcas em situação de sofrimento.

“Do ponto de vista do que o produtor está perdendo, faz todo sentido controlar a claudicação, só pelo volume perdido. Por isso, ela é o tipo de ponto de encontro na área de bem-estar animal cuja solução fará bem a todos os setores da cadeia”, conclui Zanella.

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Source: Rural

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