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Em Patrocínio, interior de Minas Gerais, polo de produção dos cafés selecionados do Cerrado Mineiro, os produtores de café estão preocupados: a estiagem que atingiu a região, no ano passado, exatamente na época da primeira florada, vai afetar fortemente a produção desta safra.

A Secretaria de Agricultura de Minas Gerais estima que os prejuízos sejam de R$ 8 bilhões, com um volume reduzido em 10 milhões de sacas. Para minimizar os efeitos das mudanças climáticas, que todos os anos tem gerado instabilidades à produção, cafeicultores e empresas do setor vão investir em ações sustentáveis.

Trabalhador em fazenda de café (Foto: Divulgação/Nespresso)

 

Os investimentos em sustentabilidade são concentrados em uma plataforma chamada Consórcio Cerrado das Águas, uma iniciativa liderada pelo Fundo de Ecossistemas Críticos (CEPF), organização que atua no bioma com fundos internacionais, em parceria com as cooperativas Expocaccer, do Cerrado Mineiro, Cooxupé, do Sul de Minas, e empresas como a Lavazza, Nespresso, Volcafé e Cofco International.

O objetivo, segundo Michael Becker, coordenador do CEPF no Brasil, é criar, através da restauração da paisagem original do Cerrado, meios para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na produção cafeeira.

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Até agora, o projeto já recebeu aportes de R$ 2,3 milhões e há previsões mais investimentos, que podem somar R$ 3,4 milhões, por parte de parceiros, os que já estão e novos.

“As mudanças climáticas que atingem as regiões produtoras, como a seca, impactam a produção de café, e a restauração ambiental da paisagem nativa do Cerrado é uma forma de mitigar esses efeitos”, explica Becker. “A formação estratégica de corredores ecológicos pode alavancar os ganhos de biodiversidade, preservando os recursos naturais, sobretudo, os hídricos", acrescenta.

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O projeto foi implantado inicialmente em Patrocínio, na bacia do Córrego Feio, mas a intenção, de acordo com Becker, mas até 2023, a estratégia é expandir a atuação para outras regiões, como a Serra do Salitre, Monte Carmelo, Rio Paranaíba, Carmo do Paranaíba, Araguari e Coromandel. Juntas, essas cidades representam 70% do café produzido no Cerrado Mineiro.

Safra de café

A colheita do café começou, nas principais regiões brasileiras em maio. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou que a expectativa para a safra é de 48,.8 milhões de sacas de café beneficiado, uma diminuição de 22,6% em relação à safra passada. Isso, considerando as safras de cafés de variedades arábicas e robusta.

Para os cafés de variedade arábica, a estatal estima uma quebra de 31,5% (33,36 milhões de sacas) e para o robusta, 15,44 milhões de sacas (7,9% a menos que na safra passada). Só para Minas Gerais, a companhia projeta que a quebra será de 32,6%.

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O Cerrado Mineiro é responsável por 77% do café arábica produzido no país. Além de ser uma safra de bianualidade negativa, o que naturalmente já reduz o volume total em média, em 20%, a seca deve ser a responsável por reduzir mais 20% na região, conforme a Empresa de Extensão Rural de Minas Gerais (Emater/MG).

A chuva que faltou no começo do ciclo deve derrubar fortemente a produtividade da cultura nas principais regiões produtoras. Na safra passada, a média nacional de rendimento foi de 33,5 sacas por hectares e, para esta temporada, a estimativa de rendimento médio é de 25 sacas por hectare, uma redução de 25,4%.

Produtor consciente

As perdas tão grandes na lavoura têm movimentado os cafeicultores e não somente as empresas ou cooperativas. Na região de atuação do Consórcio Cerrado das Águas, o CEPF, junto com o Instituto de Educação do Brasil (IEB), também implantou o Programa de Investimento do Produtor Consciente (PIPC), com o objetivo de criar ações estratégicas ambientais junto aos produtores, em suas propriedades.

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“Todos os elos da cadeia precisam fazer a sua parte para restaurar e conservar a paisagem natural para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”, diz Becker.

O programa foi lançado em janeiro de 2020, também em Patrocínio, e conta com consultoria especializada e baseada em metodologias sustentáveis para os moradores locais do Triângulo Mineiro, conforme explicou a bióloga Fabiane Sebaio Almeida, secretária-executiva do Consórcio Cerrado das águas.

As metodologias, segundo ela, envolvem desde o diagnóstico das áreas, passando pela agricultura inteligente baseada no clima à gestão eficiente dos recursos hídricos. O objetivo é que esse gerenciamento assegure o abastecimento da produção de café, mesmo em momentos de escassez, como o atual.

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“As orientações são pensadas sob a ótica da segurança e estabilidade ecossistêmica, prezando pela singularidade e necessidade de determinada propriedade”, explica Fabiane. “Assim, os produtores rurais planejam o manejo mais adequado para controlar o fogo, enriquecer vegetações nativas e recuperar solos degradados, por exemplo."

O cafeeiro é uma planta que necessita de, pelo menos 1500 milímetros a 2 mil milímetros por ano para se desenvolver bem. Em épocas de estiagem, a planta busca água no solo para compensar o déficit hídrico, mas no ano passado, entre os meses de agosto e outubro, não choveu na região e a seca atingiu 55,9% dos municípios produtores, seguido de altas temperaturas, que também contribuíram para derrubar as floradas.

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Source: Rural

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