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Certa vez, um produtor mineiro me lançou a seguinte pergunta durante uma reportagem: “Cassiano, se você tivesse R$ 10 milhões de limite no banco, colocaria tudo ali?”. O “ali” a que ele se referia era uma imensa lavoura de soja, e em seguida complementou a questão. “Se São Pedro ajudar, os R$ 10 milhões podem se transformar em R$ 12 milhões ou R$ 13 milhões”, ele disse. “Caso contrário, você fica com uma dívida monstruosa e por longo prazo”.

Gosto sempre de contar essa história quando alguém de fora do agro me diz que os produtores rurais “ganham” muito dinheiro. Fato é que, sim, o faturamento do segmento cresce exponencialmente a cada safra, resultado de uma série de fatores, principalmente o aumento da demanda externa e da valorização dos produtos.

 

Mas, e o risco do negócio? Este é cada vez maior, principalmente para os pequenos e médios. Não é à toa que as fazendas vêm passando por uma gradual profissionalização na gestão. Fazenda é negócio, é empresa, e precisa ser gerida como tal.

Entretanto, para isso acontecer, é preciso ter renda, investimento e, para haver investimento, é preciso ter pessoas comprando os riscos desta “indústria a céu aberto”. Na edição bimestral (junho/julho) da revista Globo Rural, mostramos como está esse mercado de apostas no agro.

 

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Com recursos públicos insuficientes para financiar a atividade, é cada vez maior o número de produtores rurais buscando vias paralelas para a obtenção de crédito rural, um mercado que consome anualmente mais de R$ 250 bilhões somente com as linhas oficiais, mas que tem demanda anual de quase R$ 1 trilhão, segundo estimativas de entidades do setor.

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Uma das alternativas mais procuradas tem sido o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). O montante de dinheiro movimentado por esse título disparou nos últimos anos. Em 2018, o país emitiu cerca de R$ 7 bilhões em CRA´s.

No ano passado, o valor beirou os R$ 16 bilhões, ou seja, mais do que dobrou em três anos.E isso é nada perto do potencial que existe. Esta alternativa permite que qualquer pessoa possa investir no setor, financiando a atividade agrícola, e ela pode ser acessada via mercado de capitais, isto é, na Bolsa.

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O desafio é fazer os pequenos e médios produtores terem acesso a este mecanismo. O atraso na definição e liberação das linhas oficiais de crédito colocam em xeque o negócio de milhares de agricultores que se enquadram nessas duas categorias. São famílias que dependem quase que exclusivamente dos recursos subsidiados pelo governo para custear o plantio ou até investir em tecnologias para aumentar a produtividade e a renda.

O atraso na definição e liberação das linhas oficiais de crédito colocam em xeque o negócio de milhares de agricultores

Cassiano Ribeiro, editor-chefe da Revista Globo Rural

Estamos em junho, prestes a iniciar uma nova temporada e, até agora, não se sabe qual o montante de recursos disponível ao agro, muito menos as taxas de juros a serem aplicadas no novo Plano Safra.

A ausência dessas definições atrapalha o planejamento do setor, especialmente dos pequenos (de novo!), que precisam trabalhar adiante do tempo e se antecipar cada vez mais para prevenir os riscos. Muitos são produtores de frutas, verduras e legumes.

Produtores que investem tempo, dinheiro e sobretudo coragem a cada nova safra, para apostar tudo na lavoura à céu aberto. Neste ano, eles precisam adicionar ainda uma boa dose de paciência. Tomara que São Pedro também espere.

*Cassiano Ribeiro é editor-chefe da Revista Globo Rural e comentarista de agronegócio da rádio CBN.

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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