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Após atingir o menor patamar em 15 anos, com 27,6 quilos, o consumo per capita de carne bovina do Brasil deve registrar nova queda em 2021 caso a decisão do governo argentino de proibir as exportações do país se estenda para além dos 30 dias previstos inicialmente.

Com uma exportação de cerca de 800 mil toneladas por ano, sendo 70% desse volume para a China, a ausência do país no mercado internacional tem reflexos diretos na demanda externa pela carne brasileira num contexto de baixo consumo e baixa oferta no Brasil.

Consumo de carne bovina atingiu menor patamar em 15 no Brasil em 2020 (Foto: Thinkstock/Ed. Globo)

 

“É mais do mesmo do que aconteceu no ano passado. Como a produção está baixa, com queda de 10% nos abates no primeiro trimestre, a minha leitura é que neste ano vamos produzir menos e exportar um pouco mais – o que significa que o consumo vai cair novamente”, explica o consultor de agronegócios do Itaú, César de Castro Alves, ao manifestar pessimismo com o encerramento da crise argentina ainda neste mês.

“Acredito que essa coisa pode se estender mais. O governo lá é muito intervencionista e isso obviamente pode começar a reverberar aqui”, completa o consultor.

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Entre os efeitos para o mercado brasileiro, estão o aumento do volume de exportação e, principalmente, de preço da arroba bovina no país – o que acentuaria a crise enfrentada pela indústria que depende do mercado interno.

“É um cenário altista, sem dúvidas é um cenário inflacionário, e isso já está reverberando no mercado futuro. O boi para outubro já rompeu os R$ 340 e acho que vai ter que subir um pouco mais justamente porque está muito caro produzir confinado”, ressalta Alves.

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O analista de proteína animal do Rabobank, Wagner Yanaguizawa, reforça que, de fato, não há consenso sobre o prazo de 30 dias estipulado pela Argentina, contados a partir de 20 de maio.

“Alguns acreditam que pode ser menor, outros que pode ser um pouco mais, mas o grande balizador será o reflexo nos preços do mercado interno da Argentina”, pontua ao ressaltar que a saída temporária da Argentina do mercado mundial de carne bovina seria uma grande oportunidade para o Brasil caso o país não estivesse passando por um cenário de escassez de animais para abate.

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“Além dessa questão do ciclo pecuário e de todos os desafios climáticos que já tivemos nessa safra das águas, com um volume menor de animal terminado a pasto, me pergunto de onde vai sair esse animal se a gente tem essa exigência de idade máxima de 30 meses dos animais para exportar para a China?”, observa o analista do Rabobank.

Ele ainda destaca as exigências específicas do mercado chinês. “Lógico que vai ter um esforço, sem dúvidas, para conseguir aproveitar essa redução de oferta da Argentina e ganhar participação de mercado, mas temos um desafio ainda maior do lado da oferta”, completa Yanaguizawa.

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A economista e professora da PUC-SP e da ESPM, Cristina Helena Pinto de Mello, lembra que a medida também deve afetar o balanço de dois dos três principais frigoríficos brasileiros de carne bovina: Marfrig e Minerva.

“Muitos dos nossos exportadores locais vendem carne comprada do Mercosul, não é só carne brasileira que é exportada. Então, isso é outro ponto de atenção porque esses frigoríficos vão ter dificuldades de honrar as entregas e abater gado antes do tempo é um prejuízo”, explica a docente.

Ela ainda observa que o anúncio afetou diretamente as ações das duas empresas na bolsa de valores, com desvalorização de 3,53% no caso da Minerva e de 1,08% no caso da Marfrig no pregão de 18 de maio, dia seguinte ao anúncio de suspensão pela Argentina.

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A reação do mercado financeiro acompanhou o grau de exposição das companhias ao mercado argentino. Em comunicado divulgado naquela mesma data, a Minerva detalhou que a operação no país representa 10% da sua receita consolidada enquanto a Marfrig revelou uma participação de 3,2%.

“Mesmo com a suspensão temporária das exportações na Argentina, a Minerva Foods, com o suporte de sua diversificação geográfica no continente, seguirá atendendo aos clientes internacionais por meio de suas operações no Uruguai, Paraguai, Brasil e Colômbia, de modo a atenuar o impacto da suspensão temporária”, explicou a Minerva a seus acionistas.

Perda bilionária

Partindo do volume exportado pela Argentina nos três primeiros meses deste ano, o analista do Rabobank calcula que o impacto da suspensão das vendas internacionais represente cerca de US$ 153 bilhões a menos em vendas de carne bovina ao longo dos próximos 30 dias.

“Sem dúvidas, não é uma coisa que é muito fácil de resolver porque qualquer tipo de mudança e redirecionamento de mercado passa por um processo de adaptação”, pontua Yanaguizawa ao ressaltar que o problema maior será caso o bloqueio de 30 dias seja prorrogado.

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“Para as empresas, penso que o efeito não tende a ser muito grande justamente por essa capacidade de reorganização do fornecimento que todas têm. Mas se isso perdurar um pouco mais, pode, sim, machucar os balanços – ainda que os resultados que têm sido reportados venham sendo muito bom”, conclui Alves.
Source: Rural

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