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O engenheiro mecânico Daniel Estima começou sua carreira desenvolvendo aeronaves na Embraer e fez mestrado em administração com foco em inovação. Roger Rafani se formou em ciência da computação e, desde a adolescência, pratica aeromodelismo. Neemias de Souza Pereira, estudante de agronomia, fazia planejamento agrícola em uma usina sucroalcooleira.

Hoje, os três trabalham com uma das vedetes da agricultura de precisão: os drones, também chamados de vants (veículos aéreos não tripulados), que foram criados nos EUA para uso militar, mas, nos últimos anos, tornaram-se aliados do produtor agrícola no Brasil e no mundo.

Profissão de piloto de drone deve ser regulamentada em breve pelo Ministério da Agricultura (Foto: Skydrones/Divulgação)

 

Daniel é dono da empresa SkyDrones Tecnologia Aviônica, de Porto Alegre, que tem dez funcionários. A fábrica desenvolve partes da eletrônica e software de drones e tem capacidade para montar até dez equipamentos por mês, mas Daniel afirma que a escassez de peças que afeta toda a indústria brasileira e a pressão inflacionária do dólar têm atrapalhado um pouco.

Fotógrafo amador, faixa preta de judô e piloto de paraglider, ele foi atraído pelos drones por um primo que precisava de um sócio para investir em um negócio inovador. “Começamos com drones de busca e salvamento, mas achamos nosso foco no agronegócio.” Atualmente, desenvolvem modelos de drones baseados na mesma estrutura para lavouras de cana-de-açúcar e empresas florestais.

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O engenheiro de 43 anos conta que 2017 e 2018 foram anos de validação do conceito do drone agrícola e que, nos anos seguintes, o equipamento ganhou escala – e deve ter um crescimento exponencial nos próximos anos. Questionado se o drone substitui o avião e o trator, ele responde que depende do serviço.

Em determinadas culturas, como hortifrútis, e em terrenos íngremes ou áreas que necessitam de alta precisão de aplicação, o drone certamente faz um trabalho melhor. E, na comparação com a pulverização manual, ganha fácil, porque reduz o volume de defensivo e não expõe o trabalhador aos agrotóxicos

Daniel Estima, dono da empresa SkyDrones Tecnologia Aviônica

 

Filho de arquitetos, casado com uma gerente de marketing e extremamente urbano, Daniel conta que “aprendeu na marra” o que era uma lavoura de soja, feijão e cana. “Até 2015, achava que o leite vinha do saquinho. De 2015 a 2018, rodei 200 mil quilômetros de camionete por Goiás, Bahia, São Paulo, e visitei muitas feiras agrícolas para conhecer o agro.”

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O cientista da computação Roger, de 43 anos, nascido em Jaú (SP), também não tinha nenhuma intimidade com o campo, mas cultivava a paixão por aeromodelos desde 1998. “Em 2010, começou a surgir um tipo de helicóptero diferente, chamado multirrotor.  Aí colocaram uma câmera nele e descobriram que isso tinha uso comercial. Por causa do aeromodelismo, comecei a estudar a nova tecnologia, comprava peças e montava, e acabei casando o hobby com a profissão.”

Em 2017, foi contratado por uma empresa de Ribeirão Preto para pilotar drones de segurança que eram usados na construção civil. A passagem para o drone agrícola veio em 2019, quando começou a pilotar para a empresa AgroAzul, de Sertãozinho (SP), que faz mapeamento e pulverização. O pioneirismo na empresa lhe garantiu o cargo de gerente técnico da área de drones. Hoje, ele forma novos pilotos, cuida da manutenção dos equipamentos e busca novas tecnologias.

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Nessas buscas, Roger está desenvolvendo um drone sob medida com técnicos da Rússia para pulverização nas faixas estreitas de viveiro de mudas pré-brotadas dentro da área de renovação dos canaviais. “Os drones atuais são configurados normalmente para aplicação em áreas de 6 a 7 metros de largura. Preciso de um equipamento que pulverize com precisão faixas de 1 a 2 metros.”

Dos nove pilotos que Roger já treinou na AgroAzul, cinco são formados em escolas técnicas agrícolas, mas há também na equipe um torneiro mecânico, que perdeu o emprego na indústria metalúrgica e hoje é um dos melhores pilotos da empresa. Rafani conta que o primeiro profissional que formou abandonou o emprego por não ter se adaptado ao trabalho no campo.

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Não foi o caso de Neemias Pereira, de 28 anos. Trabalhando em uma usina de cana nada tecnológica em São José do Rio Preto e fazendo agronomia, ele começou a estudar por fora e participar de drone shows pelo Estado.

“Comprei um drone e passei a oferecer serviços de mapeamento e aplicação de produtos biológicos junto com um sócio.” Sem dinheiro para investir no negócio, a sociedade terminou, no entanto, ele foi contratado como piloto de drones pelo grupo AgTech Agrotecnologia, de Rio Preto, que atua em lavouras de cana.

Neemias fez vários cursos, se certificou como piloto e passou a treinar novos profissionais e supervisionar as operações. “Antes da contratação, sempre pergunto ao candidato como ele imagina ser o trabalho. A maioria acha que vai ficar pilotando dentro de um carro ou na sombra de uma árvore e, se der algum problema, corre para o escritório. Nada disso, o piloto precisa acordar cedo, ter resistência em ficar horas sob sol e poeira, entrar nas lavouras, comer marmita, resolver os problemas simples do equipamento no campo e viajar para outros Estados.”

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O supervisor também faz questão de dizer que, diferentemente do que circula em muitas redes sociais, piloto de drone não ganha R$ 20 mil. “Com salário fixo e comissão, dá para tirar uns R$ 6 mil.”

Os três aguardam a instrução normativa que o Ministério da Agricultura deve baixar nos próximos meses para a regularização do uso de drones das classes 2 (de 25 a 150 quilos) e 3 (até 25 quilos de peso total) na aplicação de defensivos, fertilizantes, adjuvantes, inoculantes, corretivos e sementes. A norma deve exigir registro no Ministério da Agricultura e curso de piloto agrícola remoto, além de prever os requisitos das aeronaves e equipamentos.

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Source: Rural

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