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Michelle Rabelo, administradora da Fazenda OCB (Foto: Divulgação)

 

*Publicada originalmente na edição 426 de Globo Rural (maio/2021)

Em Brasilândia de Minas, município localizado no noroeste mineiro, Michelle Rabelo de Morais administra a Fazenda CMB, onde lida com a pecuária de corte e, nos últimos cinco anos, também com o cultivo de eucalipto. Mulher jovem, que já enfrentou preconceitos por estar na gestão de uma grande propriedade, Michelle confessa que a mulher, mesmo exercendo inúmeras funções, ao final do dia ainda se vê como coadjuvante.

Ela acredita que esse sentimento tem conexão com a forma como o mercado de trabalho se apresenta à mulher e com as jornadas exaustivas, que não permitem valorizar o próprio esforço. “De forma bem simples, é sobre assumirmos um lugar de honra, sobre como exercermos o amorpróprio e sobre a forma como permitimos que os outros nos tratem e nos reconheçam de maneira igualitária”, diz.

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Trabalho, casa, filhos, estudos… Michelle concorda que a jornada múltipla é visível no dia a dia das funcionárias da Fazenda CBM, pois, além da lida no campo, há ainda a responsabilidade pelo serviço doméstico. Sem contar o receio de engravidar e perder o emprego.

Mariselma Sabbag, líder do comitê de agronegócio do Grupo Mulheres do Brasil e produtora de café também em Minas Gerais, lembra que até hoje mulheres precisam levar seus filhos para a lavoura, pois não têm com quem dividir esse cuidado. “O custo de uma ajudante do lar é caro, e a renda da família precisa ser garantida. Então a criança fica ali, perto da mãe, enquanto ela trabalha”, diz Mariselma. Isso significa que essa mulher não estará totalmente dedicada ao trabalho nem dando atenção integral ao filho.

Por isso, mais do que abrir processos seletivos e esperar que mulheres se inscrevam, Areta Barros, responsável por processos de recrutamento e seleção na Hub Talent, agência que atua no agronegócio, afirma que o ideal é que haja incentivo para que as candidatas se sintam à vontade para concorrer e que haja condições para o trabalho ser exercido com qualidade.

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Areta observa ainda que, quando o assunto é o deslocamento para uma oportunidade de emprego, o fator família pesa mais para a mulher. Muitas vagas no agronegócio são afastadas dos grandes centros. “Se for homem, ele vai aceitar e mudar com a família ou vai vê-la aos finais de semana. Se for mulher, ela vai pensar muito antes de aceitar, em especial se a família estiver bem estabelecida”, diz Areta. Ela afirma que nunca conheceu uma mulher que trabalharia longe e veria a família no fim de semana. “Devido à restrição de mobilidade, há impacto significativo na progressão de carreira das mulheres.”

Areta Barros, responsável por processos de recrutamento e seleção na Hub Talent, (Foto: Divulgação)

 

Apesar dos desafios, é inquestionável que mais mulheres têm ocupado cargos de liderança no agro. Para que isso ganhe escala e seja realidade em outros níveis hierárquicos, Areta defende a proatividade da equipe de gestores contratantes e a estipulação de metas em relação à presença de mulheres nas equipes. “Trace um percentual das vagas a ser fechado com mulheres e compartilhe com o time de gestoras e gestores contratantes”, diz Areta.

Elisabete Rello, diretora de recursos humanos da Bayer, explica que a multinacional segue o mesmo raciocínio. Há dois anos, o grupo de alta liderança da empresa continha apenas uma mulher na equipe, e atualmente a divisão entre homens e mulheres é de 50%, considerando todos os setores em que atua. “Existe um compromisso global da Bayer de ter equidade de gênero em cargos de liderança até 2030”, afirma.

No campo, Elisabete admite que a contratação de mulheres ainda está aquém do esperado, mas a própria criação do Prêmio Mulheres do Agro, idealizado pela Bayer, tem sido uma forma de amadurecer a contratação de funcionárias em diferentes níveis. “Esse processo veio crescendo, evoluindo, despertando mais adesão, e agora a gente amadurece e vai nessa direção.”

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Para que as condições de trabalho para as mulheres sejam mais equânimes, Mariselma Sabbag sugere como solução a retomada das escolas rurais, “a fim de ajudar a mulher com os filhos, incentivando a educação e garantindo a renda, sem que haja essa sobrecarga”.

Michelle Rabelo, da Fazenda CBM, defende um auxílio às funcionárias, para dar-lhes condições de permanecer no mercado de trabalho, “sem que isso possa gerar algum tipo de estresse ou esgotamento físico, mental ou emocional”. Areta Barros, da Hub Talent, propõe políticas que incentivem os homens a assumir a divisão das tarefas domésticas, como a extensão do período da licença-paternidade
Source: Rural

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