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Jocileia Ribeiro da Silva, técnica agrícola da SLC (Foto: Guida Fotos)

 

*Publicada originalmente na edição 426 de Globo Rural (maio/2021)

Aos 21 anos, a técnica agrícola Jocileia Ribeiro da Silva enche de orgulho seu Manuel e dona Raimunda, pequenos produtores rurais de Campos Lindos (TO). Eles cultivam a terra apenas para o consumo próprio da família e não se cansam de contar aos amigos que a filha, tão jovem, chefia uma das equipes que monitoram lavouras na imensidão da Fazenda Planeste, em Balsas (MT), onde, na safra passada, foram cultivados 59 mil hectares de soja, milho e algodão.

Jocileia é funcionária da SLC Agrícola, uma das maiores companhias agropecuárias de capital aberto do país, que neste ano se classificou entre as melhores empresas do agro para trabalhar no Brasil (confira a matéria nas páginas a seguir), no ranking elaborado pela consultoria Great Place to Work (GPTW).

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Ela começou como estagiária na propriedade e lá deu os primeiros passos no aprendizado da agricultura digital. Jocileia lembra que, nas aulas sobre controle de pragas nas lavouras, na escola,os alunos usavam cadernetas para registrar a contagem dos insetos. Na fazenda da SLC, ela usa um tablet para inserir as informações coletadas no campo, que ficam disponíveis em tempo real à equipe de gestão e controle da propriedade, a alguns quilômetros dali.

Álvaro Dilli, diretor de RH e sustentabilidade da empresa, relata que, até meados da década passada, os trabalhadores nas lavouras de algodão da empresa usavam pranchetas para fazer as anotações de campo. Hoje, como uso do tablet, as informações georreferenciadas estão disponíveis na palma da mão, inclusive nas lavouras de soja e milho.

Dilli ingressou na SLC há 35 anos, também como estagiário, numa fazenda em Goiás, no Entorno de Brasília. Chegou à gerência de fazendas; anos depois, foi promovido a assessor de projetos de qualidade na matriz da empresa; e há dez anos assumiu a área de recursos humanos e sustentabilidade. Recentemente passou a ser responsável também pela tecnologia da informação. O quê isso tem a ver com o agro? Para entender melhor, é preciso ter noção do que o negócio se transformou.

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Dilli lembra que, quando começou na SLC, a empresa plantava 12 mil hectares. Hoje, são 450 mil hectares de lavouras, espalhadas por 16 fazendas, localizadas na Bahia, Mato Grosso, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Goiás e Piauí. Na safra passada, foram cultivados 125.462 hectares de algodão, 235.444 de soja, 82.392 de milho e 5.270 de outras culturas. A companhia tem hoje 2.800 colaboradores fixos e mais mil temporários, de acordo com as atividades de campo.

Um ponto forte da SLC é a digitalização, que começou a ser implantada em 2018, levando a cobertura 4G para todas as fazendas do grupo, para possibilitar a conexão dos tratores e colheitadeiras de última geração e alta tecnologia embarcada. Para fazer a transição, foi criado naquela época um programa de inclusão digital. Cada unidade da empresa passou a ter uma sala comum computador conectado on-line com diversas plataformas, onde as pessoas começaram a ter aulas de acesso à internet e de aprendizado.

A digitalização aumentou a contratação de profissionais de curso superior, principalmente engenheiros agrônomos e agrícolas. No ano passado, o quadro de funcionários cresceu 10%, com a contratação de 200 profissionais, em função do aumento da área plantada, principalmente algodão – que demanda mais profissionais, inclusive técnicos agrícolas.

O tablet substitui as pranchetas no trabalho de monitoramento das lavouras (Foto: Guida Fotos)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A mudança no perfil de escolaridade dos profissionais do campo é retratada nos estudos elaborados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), sediado em Piracicaba (SP).

Segundo a pesquisadora Nicole Rennó de Castro, de 2013 a 2020, o número de profissionais com ensino superior cresceu 62%, passando de 125 mil pessoas (empregados e produtores rurais) para 257 mil pessoas. Em contrapartida, a quantidade de profissionais sem instrução recuou 54%, passando de 1,6 milhão para 740 mil pessoas.

O estudo do Cepea, elaborado com base em dados da PNAD-Contínua e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), mostra que, apesar das safras recordes e do aumento do faturamento no campo, que cresceu 31% entre 2013 e 2020, o número de trabalhadores recuou 11%, passando de 19,4 milhões para 17,3 milhões de pessoas.

Nicole Rennó explica que, além de no setor primário não haver correlação entre o volume/valor da produção e os empregos, porque as grandes lavouras geram menos postos de trabalho, existe a questão do avanço da tecnologia, que torna a agropecuária menos intensa no uso de mão de obra, com a maior utilização de máquinas.

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No ano passado, devido à pandemia, o impacto da modernização foi menor. Enquanto a queda no nível de emprego foi de 2,25% na agropecuária, na agroindústria, a retração foi de 7,24% e em agrosserviços, 8,4%. No total, no agronegócio houve redução de 5,2% nos postos de trabalho; em todos os segmentos da economia, a queda foi de 7,8%.

Na SLC, a falta de escolaridade vem sendo enfrentada há cinco anos por meio do programa de educação de jovens e adultos dentro das fazendas.Todos os anos são formadas turmas de níveis fundamental e médio, em aulas ministradas por professores cedidos por convênios com as secretarias estaduais e municipais de educação. No ano passado, foram formados 170 colaboradores em aulas telepresenciais, por causa da pandemia. Neste ano, devem se formar 260 colaboradores.

Quando o assunto é ensino, uma das principais referências é a Faculdade de Tecnologia (Fatec) Shunji Nishimura, instalada em uma área de 82 hectares na cidade de Pompeia, no interior paulista. Duas profissões inovadoras, como mecanização em agricultura de precisão e bigdata do agronegócio, têm cursos com duração de três anos, por meio de uma parceria público-privada entre a Fundação Jacto, mantida pela Jacto Máquinas Agrícolas, e o Centro Paula Souza. A busca por esses cursos cresce. A faculdade coloca no mercado cerca de 120 profissionais por ano.

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Gustavo Almeida Stabille, de 24 anos, filho de um sojicultor de Bom Jesus de Goiás (GO), vai concluir este ano o curso de mecanização em Pompeia. Formado em engenharia mecânica, ele conta que foi atraído pela oportunidade de lidar com as máquinas agrícolas. “Decidi fazer o curso para aliar minha paixão por máquinas à inovação da agricultura de precisão, de olho nesse mercado de trabalho que está crescendo muito no país.”

Letíciade Melo Mesquita, de 25 anos, aluna do sexto semestre de bigdata do agronegócio na Fatec, se preparava para o vestibular de odontologia quando soube do novo curso na cidade vizinha e foi atraída pela chance de ingressar em um setor de inovação. “Não tinha conhecimento técnico de TI, mas descobri um mundo novo. Hoje, já faço estágio em transformação digital e quero investir nessa área.”

Nívea Regina, coordenadora do convênio entre a Fundação Jacto e o Centro Paula Souza, diz que 78% dos alunos de Pompeia já têm emprego quando se formam e outros 6% optam por fazer outra graduação ou especialização. Formanda da primeira turma de mecanização em AP, ela já tinha formação em gestão quando decidiu fazer a nova faculdade para conhecer o mundo do agronegócio.

Hoje, a ex-aluna busca colocação para os formandos. A mudança no perfil também é observada nas seleções de emprego. Álvaro Dilli, da SLC, lembra que há 30 anos a primeira pergunta dos candidatos era se havia área de lazer e campo de futebol. Hoje, todos querem saber se há internet. Mesmo com todos os avanços, persiste o desafio da diversidade. O trabalho no campo ainda é predominantemente masculino. A SLC tem procurado mudar essa realidade. “A empresa tem um programa de fortalecimento das mulheres, Força Feminina no Agro, em módulos, para preparar as profissionais e os colaboradores homens para recebê-las”, diz Dilli.

Os pais da jovem Jocileia Ribeiro agradecem.

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Source: Rural

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