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(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

O furto e o roubo de animais são problemas antigos e já conhecidos de quem mora no campo. Feito por quadrilhas especializadas, que sabem identificar animais de maior valor e até mesmo abatê-los em campo aberto, esse tipo de crime tem despertado o interesse de grandes organizações criminosas diante da crescente valorização do gado.

“Claro que os itens de valor que os ladrões gostam é ouro e essas coisas. Mas, hoje, a carne bovina está bastante valorizada em função de escassez e isso desestabiliza muito o setor, é mais sério do que se imagina”, relata Amado de Oliveira Filho, consultor técnico da Associação de Criadores do Mato Grosso, maior produtor do país.

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Embora os dados gerais indiquem queda de 5% nesse tipo de crime no Estado em 2020, em algumas regiões a alta ultrapassa 50%, chegando a 67% em Nova Mutum. No total, o Mato Grosso registrou 312 casos de furto de gado e 24 de roubo no último ano – segundo o Código Penal, a pena prevista é de dois a cinco anos de prisão e multa.

O mais comum, conforme explica o delegado regional da Polícia Civil de Barra do Garças, no Centro-Oeste do Estado, Wilyney Santana Borges, é o furto dos animais, muitas vezes abatidos no próprio campo e transportados em carros de passeio.

“Não é mais como antigamente, que eles iam com uma caminhonete, matavam o animal e tiravam o couro no local para levar só a carne. Hoje, eles cortam o gado em quatro partes e só deixam a cabeça pra trás. Se você não prestar atenção no molejo, nunca vai pensar que tem um boi de 20 arrobas em um Gol 1.0”, relata o policial.

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Borges ainda destaca que, com a valorização dos animais, também tem crescido a violência empregada nesses crimes, despertando interesse do crime organizado. “Além do contexto econômico, há uma maior facilidade para o cometimento desse crime quando comparado a roubar um banco, por exemplo”, observa.

No caso mais recente, na cidade de Vila Rica, os bandidos chegaram em cinco caminhões boiadeiros e levaram 142 cabeças de gado avaliadas em mais de R$ 1 milhão. “Eles chegaram de madrugada na fazenda, abordaram os funcionários, prenderam eles num quarto e, como sabiam onde estava o gado, embarcaram o caminhão e saíram pelas entradas vicinais de terra”, relata a vítima, que prefere não se identificar.

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Nesse caso, o rebanho foi recuperado. Com helicóptero próprio, o pecuarista seguiu o comboio que levava os animais e repassou as informações à polícia que, em terra, perseguiu os criminosos. Contudo, nem sempre essas histórias acabam bem.

“Geralmente, o crime ocorre em propriedades onde não há pessoas residindo, o que é muito comum na região. Com isso, os criminosos chegam antes, fecham o gado no curral e, posteriormente, trazem um caminhão, que pode fazer parte da quadrilha ou não”, explica Borges.

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Além do dano ao patrimônio privado, o crime de abigeato, como é chamado o furto e roubo de gado, também representa um risco à saúde pública – uma vez que esses animais são revendidos para açougues clandestinos e até mesmo churrascarias sem qualquer tipo de inspeção sanitária ou controle de procedência.

“Pode ser um animal doente que estava na propriedade, e o transporte é feito sem refrigeração, em condições insalubres. Ou seja, essa carne não é apta à saúde humana”, explica Borges ao destacar a dificuldade para repassar a carne de animais roubados a frigoríficos regulares, cadastrados nos sistemas de inspeção municipal, estadual ou federal.

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“Geralmente esse gado vai para fazendas de recria e engorda. É muito difícil que frigoríficos sérios aceitem receptar esse gado, por isso não vai para abate direto. Quando acaba sendo levado para frigoríficos de São Paulo ou Goiás, o que é mais difícil, tem que esquentar nota, falsificar guia de trânsito animal. Então, geralmente essas quadrilhas colocam esses animais em outras propriedades para recria e engorda”, aponta o delegado.

Diante desse contexto, Borges alerta para o papel do consumidor no combate a esse tipo de crime. “Só existe o furto e roubo porque tem o receptador, que é o açougueiro e as churrascarias. E eles só compram essa carne porque o consumidor só olha o preço e não se preocupa com a origem daquele produto. Por isso, o consumidor tem que desconfiar quando vê um produto pela metade do preço num lugar, senão acaba fomentando esse crime."

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Source: Rural

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