Skip to main content

(Foto: Ernesto de Souza/Editora Globo)

 

O conteúdo do ensino fundamental tem uma contribuição expressiva na formação do cidadão. É nessa fase que o nosso caráter está sendo moldado e os valores que são transmitidos nesse momento irão nortear nossa visão de mundo e capacidade de questionar a realidade.

Por isso, o conteúdo didático oferecido a crianças e jovens tem uma dimensão que extrapola os bancos escolares e segue nos acompanhando por toda a vida. Foi neste contexto que Xico Graziano e Marcos Fava Neves, ambos doutores em engenharia agronômica e com atividades científicas, técnicas e política de porte, debruçaram-se sobre os atuais parâmetros curriculares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para analisar a forma como o agronegócio é apresentado aos estudantes.

O que encontraram não nos surpreende, porque tem sido repetido mecanicamente na mídia. Em um texto bem fundamentado, os autores descrevem um conteúdo didático que faz referências anacrônicas a sistemas latifundiários improdutivos, omitindo o agro tecnológico, produtivo e sustentável; apontam o suposto conflito entre o agronegócio e a chamada agricultura familiar, como se ambos não integrassem uma mesma atividade; e identificam o viés ideológico que perpassa todo o conteúdo programático, o que compromete o conhecimento em assuntos essencialmente técnicos como, por exemplo, o consciente uso de defensivos agrícolas.

Essa abordagem dissociada da realidade acaba por sepultar o agro tecnológico e eficiente, que mantém o país economicamente em pé e abastece pelo menos 1 bilhão de mesas diariamente ao redor do mundo. Graziano e Fava Neves propõem alterar as diretrizes curriculares usando somente fatos e realidade. Apresentam dez eixos temáticos: 

1- cooperativismo, que responde por 50% da produção nacional e que, nas palavras dos autores, “é uma força em prol da solidariedade, fundamental, por trazer milhares de agricultores familiares ao ciclo da prosperidade”; 

2- o papel da sociedade em evitar o desperdício de alimentos, que ronda absurdos 30%;

3- nosso Código Florestal, um dos mais rigorosos do mundo e que contribui para preservar mais de 60% do território nacional;

4- a relação dos produtores rurais com o manejo racional, garantindo o bem-estar animal;

5- alternativas de produção de alimentos para combater a fome;

6- avanços da bioeconomia, com a produção de biomassas, bioenergia, bioplástico;

7- a agricultura digital e a conexão entre a produção de alimentos e as tecnologias de última geração;

8- avanços do melhoramento genético, praticado desde tempos imemoriais, que tem possibilitado produzir mais, em menos tempo e de forma mais sustentável;

9- o agro colaborativo e integrativo, com o compartilhamento dos fatores de produção e a integração de atividades, em que o resíduo de uma é insumo de outras;

10- atividades do agro tidas como secundárias, mas tecnológicas, como apicultura, floricultura e florestas plantadas. Na visão imparcial dos autores, “trata-se, simplesmente, de contar às crianças a história verdadeira”.

*Luiz Josahkian é zootecnista, professor de melhoramento genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

Leave a Reply