Skip to main content

(Foto: André Teixeira/Oxfam Brasil)

Relatório lançado nesta segunda-feira (5/4) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) aponta que a fome alcançou 12% dos domicílios rurais, contra 8,5% na área urbana, entre os meses de setembro, outubro e novembro de 2020.

Realizada entre os dias 5 e 24 de dezembro do ano passado, a pesquisa considerou 2.180 domicílios em todo o país, sendo 518 na área rural – 23,7% das entrevistas realizadas. O questionamento se ateve apenas a domicílios particulares, ou seja, onde há moradores permanentes.

Rosana Salles Costa, pesquisadora da Rede e professora do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que é preocupante o avanço da fome nas zonas rurais, agravada pela pandemia do Covid-19. O cenário fica ainda mais grave nas regiões Norte e Nordeste.

saiba mais

ONU: mais de 30 milhões de pessoas estão a um passo da fome extrema

 

 

Eu me preocupo em ver a desnutrição nesse país

Rosana Salles Costa, pesquisadora da Rede e professora do Instituto de Nutrição da UFRJ

De acordo com ela, a perda do poder de compra do brasileiro tem afetado diretamente as produções agrícolas, pois a restrição à compra de itens essenciais têm tirado a renda dos trabalhadores do campo.

“A partir do momento que não tenho mais o comprador, o desperdício é grande. Ou o produtor escolhe não plantar, mas já gastou com a compra dos insumos, ou ele colhe, mas não tem como escoar a produção, e há desperdício de alimentos”, diz.

Ela diz que, com a menor diversidade, frutas, verduras e carnes têm sido retiradas das dietas. “Eu me preocupo em ver a desnutrição nesse país”, lamenta ao dizer que as zonas rurais têm sido alvo da invisibilidade nas políticas públicas nos últimos anos, e a pandemia “escancarou este agravamento”. “O mesmo acontece com indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais”, completa.

saiba mais

Aumento de insumos preocupam produtores de FFLV

 

Redução dos preços

O fechamento dos estabelecimentos durante a pandemia, como restaurantes, comércios e escolas, jogou o preço dos alimentos para baixo. Produtores entrevistados apontaram que, sem a demanda, o preço foi impactado e, por consequência, houve redução no poder de compra da família que depende desta renda.

Rosana lembra que o estudo foi feito com pequenos produtores que, no máximo, vendem para centros urbanos próximos das propriedades. Desta forma, há dificuldade de organizar vendas online e o custo para um intermediário é oneroso. Sem conseguir vender os alimentos que produz, o agricultor não consegue comprar o que não produz, mas necessita.

Onde houve redução dos preços, a insegurança alimentar moderada e grave aumentou (Foto: Reprodção/PENSSAN)

 

“A partir do momento que a garantia de venda dos produtos agrícolas é a renda familiar, a insegurança alimentar se intensifica, principalmente porque, com a pandemia, sabemos o problema para escoamento desses produtos. Quem depende dessa renda para alimentar sua família, não tinha como garantir o alimento”, explica.

saiba mais

Preço do leite pago ao produtor caiu 9,8% no 1º trimestre

 

A pesquisadora ainda aponta que a vulnerabilidade alimentar está intimamente ligada ao descontrole sanitário. Sem alimento, a população fica mais suscetível a doenças e, de acordo com ela, não há política pública nem contra a fome, nem contra a Covid-19. “Esse segmento vai ficando cada vez mais isolado e a insegurança alimentar pode aumentar”, projeta.

Esse segmento vai ficando cada vez mais isolado e a insegurança alimentar pode aumentar

Rosana Salles Costa, pesquisadora da Rede e professora do Instituto de Nutrição da UFRJ

Disponibilidade hídrica

Outro aspecto do estudo é a relação entre a insegurança alimentar e insegurança hídrica, também mais agravada na área rural. Sem disponibilidade de água, a produção de alimentos para consumo e comercialização fica comprometida, afetando a renda. Com isso, a fonte de comida fica escassa duas vezes.

Domicílios que não têm água para agricultura e pecuária registram maiores índices de fome (Foto: Reprodução/PENSSAN)

 

Segundo Rosana, o produtor era questionado sobre o acesso à água para agricultura e pecuária. Quando não há disponibilidade adequada de água para a produção de alimentos, a insegurança alimentar grave atinge 44,2% dos moradores de áreas rurais. E quando não há água suficiente para o consumo dos animais, a fome atinge 42% desta população.

“Nós tivemos políticas de sucesso no passado, como programas de cisternas, só que, com descontinuidade de políticas sociais, o pequeno produtor rural vem sendo esquecido”, relata. E completa: “A pandemia tem uma gravidade, mas esse problema de vulnerabilidade não é de agora.”

saiba mais

Tratamento de esgoto nas áreas rurais é 50% menor do que nas urbanas

Relator quer incluir irrigação e confinamentos em projeto de licenciamento ambiental 

 
Source: Rural

Leave a Reply